Sorry

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Meus pais e minha avó ficaram em casa até sexta-feira à noite, e depois de uns dias, a notícia já tinha se assentado e sido engolida por eles. Alondra ainda se recusava a falar comigo, ou com Sofia, mas conseguiríamos sobreviver. Minha mãe e minha avó até me levaram para fazer algumas compras para o bebê (com o patrocínio do cartão de crédito do meu pai, claro), e já se mostravam empolgadas por ter um monstrinho correndo pela casa e quebrando tudo o que visse pela frente. Também recebi a maravilhosa notícia de que meu apartamento fora finalmente vendido e que o dinheiro estaria na minha conta até o fim do mês. Fiz um agradecimento ao meu avô, que pensou em mim antes de partir. Meu apartamento não fora comprado com meu próprio suor e sim com o dele, que antes de morrer, deixou claro que sua parte da herança era para ser dada aos netos quando completassem dezoito anos. Minhas irmãs usaram para a faculdade e um carro novo; eu usei para comprar uma casa.

Eu ainda não sabia o que faria com o dinheiro da venda, se compraria ou não um apartamento, ou se ficaria aqui com Sofia até as coisas se resolverem da melhor forma. Independente de qualquer coisa, era bom saber que eu tinha um pé-de-meia ao meu alcance se fosse necessário.

Ainda estava de licença por causa do transtorno do começo da semana, então aproveitei o apartamento vazio para assistir um filme e me entupir de comida. Tive um sobressalto quando ouvi o som da campainha. Quem poderia ser? Todas voltariam tarde do trabalho e o porteiro não tinha interfonado. Catcher começou a latir desenfreadamente e eu levantei para abrir a porta.

- Ah, você - disse, vendo Isabele parada do outro lado da porta.

- A Sofia está? - perguntou, dissimulada.

- Não, ela está no trabalho, gostaria de deixar algum recado? - perguntei com cinismo, segurando Catcher pela coleira. Era raro discordarmos do caráter das pessoas e essa não era uma delas. Pensei seriamente em deixá-lo mordê-la.

- Não, na verdade eu queria um pouco de açúcar - disse me mostrando uma xícara. - Você me empresta?

- Entra.

Como dizia minha avó, não se nega nenhum tipo de alimento nem ao pior inimigo. Xinguei-a em pensamento por me fazer crescer tão moralista. Isabele me seguiu até a cozinha e se escorou na bancada enquanto eu pegava o açúcar.

- Há quanto tempo você e Sofia estão juntas?

- Pouco tempo - respondi, terminando de encher a xícara.

- Então ela não tem nada a ver com o guri que tá na sua barriga? - olhei para minha barriga pouco aparente. Essa menina tinha olhos de raio-x ou eu já havia engordado tanto e não tinha percebido?

- Não - optei pela sinceridade, já que minha vida ultimamente corria mais que spoiler do último Vingadores.

- Então ainda há esperanças.

Fechei a porta do armário e olhei para a garota, ela sorria.

- Esperanças de quê?

- Da Sofia ainda lhe dar um pé na bunda. - Será que as outras reparariam se chegassem do trabalho e encontrassem Isabele no triturador de alimentos? Era tentador fazer o teste. - Qual é, você não acredita mesmo que ela, justo ela, vai criar o filho de outra pessoa, né? Você não é tão ingênua assim.

- Na verdade, estamos apenas vendo o que vai acontecer - respondi. Talvez eu fosse ingênua a esse extremo, ou uma garota realmente esperançosa.

- Eu sei o que vai acontecer, ela vai ver você engordar até virar um botijão de gás, depois vai perder o interesse de olhar e tocar em você, então vai lhe dar repulsa e por fim ela vai procurar alguém que não tenha leite materno escrito na testa. E ela vai achar fácil.

The Girl With Red HairOnde histórias criam vida. Descubra agora