Capítulo 2 - Minha babá tem penas verdes e uma boca de corneta

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-Kauê! Que cheiro delicioso! - gritou minha avó, do banheiro. - Pamela vai ser uma mulher muito bem casada.

Só de ouvir isso, sinto um arrepio incomodo. Minha avó insiste na ideia que eu irei me casar com a filha do pastor Felipe Silva, eu nem falo com a garota direito por causa do estresse que a família dela coloca em cima de mim. Eu nem sou amigo dela e os pais dela já me tratam como se fossemos casados... é constrangedor e também, eu nem gosto dela dessa forma. Ela é linda, engraçada e divertida até onde pude conhecer, isso não tenho dúvidas... mas não é correto eu enganar ela dessa forma. Não gosto dela dessa forma que ela quer.

Eu tento falar isso pra minha avó, mas ela não me escuta e não adianta qualquer tentativa de insistência. A saúde dela não anda muito boa, apesar dos médicos falarem o contrário e qualquer emoção pode ser fatal e não quero isso. Falando nela, lá estava ela na porta da cozinha com seus bob's na cabeça, sua camisola de bolinhas e sua inseparável bíblia em mãos. A bíblia dela é com o se fosse uma bolsa, ela leva em todo lugar que for possível e até onde não deveria.

Apesar de ter seus 54 anos, a aparência de e minha avó é de uma mulher de 80 anos, seus cabelos já estão grisalhos. Ela anda com dificuldade e quase não enxerga mais como antes, o estranho é o que os médicos dizem que a saúde dela está intacta e perfeita. Na maior parte do tempo ela é ativa, sorridente como qualquer pessoa, mas tem vezes que a escuto chorar, vezes que escuto ela gemer de dor, eu tento descobrir o que acontece, mas ela nunca me responde e me manda calar a boca com toda educação do mundo, assim: Meu neto, por favor, cala a boca ou eu vou estourar ela com uma chinelada!

- Bom dia - beijei o topo de sua testa. - Dormiu bem?

-Sim - ela sorriu. - E você?

-Ótimo - respondi.

Ela me encarava com aquele olhar brilhante, como se ela soubesse de algo que não deveria saber.

-Escutei você conversando durante a noite, com quem falava? Com Pamela? Ou com amiga minha? Eu chequei seu celular, não tem ninguém novo no seu WhatsApp, nenhuma chamada e nenhuma ligação. - disse ela não tirando os olhos de mim na esperança de meu rosto entregar alguma coisa. Não nego que odeio essa invasão de privacidade da parte dela, eu não tenho amigos no meu celular, só tenho o grupo da igreja e a Pamela. O grupo da igreja só manda corrente e só falam Deus abençoe a cada frase tipo: Bom dia, Deus abençoe, Boa tarde, Deus abençoe, Vai almoçar? Deus te abençoe. E também vivem mandando aquelas coisas idiota como: Se você não apertar 0 e apertar 1, você irá para o inferno e deixará Deus triste. Geralmente eu só visualizo os altos papos do grupo, mas as vezes sou obrigado a interagir, pois se eles mandaram uma corrente e eu não escolher o lado de Deus, eles contam pra minha avó e ele me obriga a escolher a chineladas. Não é de hoje que fico zangado com essas atitudes, mas não posso fazer nada, ela é minha única parente e sem ela, serei mandado a um orfanato e não quero isso.

Eu pensei rápido, não posso dizer a ela que estava conversando com o Rajada, se ela ver um papagaio que seja, ela é capaz de mata-lo, minha avó odeia animais, todos eles. Ela diz ser fortemente alérgica a qualquer um deles. Por isso não temos mais ratos na casa, não por causa das ratoeiras que nunca deram certos, mas sim pela louca da minha avó correndo atrás deles com a vassoura e causando um genocídio em massa e a possível extinção da espécie. Eu sou contra a morte dos ratos, querendo ou não eles apenas estão aqui por não sermos higiênicos.

-Estava rezando - Menti.

-Oh! Muito bem - ela sorriu pegando um pedaço de pão e passando requeijão. - Está tudo certo para a viagem com o povo da igreja?

Viu! Não é incrível como somos convidados para viagens, mesmo sem nos perguntarem se queremos ir.

-Que viagem? - perguntei.

Livro 1: Kauê e os filhos da Amazônia - O Herdeiro Do SubmundoOnde histórias criam vida. Descubra agora