Capítulo 8 - Conheço meu novo companheiro de quarto

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Quando sai pra fora, Ágata e Tainá me esperavam perto das enormes estátuas de Tupã e Sumé, quando passei por elas, outra luz me cercou e graças a isso a minha língua parou de coçar e a minha cabeça parou de explodir com tantas lembranças.

-Agora está livre da bênção de Sumé, pode mentir até pra si mesmo se quiser. – disse Tainá abrindo os braços e me abraçando. – Achei que não fosse sair dessa.

- Nem eu. – respondi ainda não acreditando nas coisas que ouvi lá dentro. Encarei Ágata, ela parecia mais tranquila desde a última vez que a vi. – Obrigado.

-Eu que agradeço, nós trabalhamos bem juntos. – ela socou meu ombro. – Nunca vi tanta coragem e burrice misturadas dessa forma.

-Obrigado, eu acho. – respondi sentindo meu rosto arder. – Mas e agora? Ouviram o que o Raoni disse, todos devem me odiar nessa altura do campeonato.

-Bobagem, Raoni gosta de provocar. Temos regras aqui, se o conselho disse que você é inocente, ninguém além dos próprios deuses podem questionar as decisões. Eles podem não gostar de você por medo, mas terão que te respeitar. – disse Tainá passando o braço pelo meu pescoço. – Pode contar comigo, com Ágata, com o João, até mesmo com o ranzinza Victor. Só não faça surgir mais nenhuma surpresa, ok.

-Vou tentar. – sorri.

-Agora vamos, você tem muito o que ver e conhecer. – disse Ágata me pegando pelo braço. – Quero terminar isso antes do almoço. Nos vemos depois, Tainá

-Ok. Preciso providenciar seu papagaio. - respondeu Taína e eu fiz uma careta– Nos vemos no almoço.

-Papagaio? – suspirei.

-Todos temos que ter um. – respondeu Ágata. – São nossa maior fonte de informações e aliados. Eles são criados aqui e ficam em lugar especial, os filhos de Polo que cuidam deles. Isso até eles escolherem um semideus para serem seus companheiros a vida toda, claro, isso quando são crescidos.

-Oi? Não sou eu que escolho? A vida toda?! – exclamei, só de pensar em algum parente igual ao Rajada, minha cabeça dói.

-Claro, ele que tem que gostar de você e escolher. E sim, a vida toda. Não fique tão surtado, imagine ele como seu celular precioso que você leva pra toda parte com todas as suas coisas e você zela por ele como se fosse um filho. – disse ela. – É a mesma coisa. Só não conte segredos pessoais ao papagaio, eles têm a mania de fofocar por aí essas coisas, me siga.

Ágata me explicou enquanto caminhávamos que essa parte onde estamos é apenas o campo de treinamento de Eldorado. Atrás das altas árvores que ficam ao norte do campo de treinamento, tem uma gigantesca comunidade. Uma cidade enorme para todos os filhos da Amazônia e seus descendentes. Lá todos podem formar famílias e viverem do fruto do trabalho que eles desenvolvem, sem interferência de ninguém além dos deuses. Mas pelo jeito isso é uma escolha, as vezes alguns preferem tentar a vida fora daqui. Um ato que não é muito encorajado pelos superiores, de acordo com Ágata, mas todos são livres para fazer e viverem suas escolhas.

Ágata me levou primeiro em frente a um prédio feito de madeira e palha, ao lado dele tinha um escorregador, balanço e redes presas em árvores. Dentro de um cercadinho tinha alguns filhotes de animais como: Onça-pintada, Mico-leão-dourado, Tatu, Lobo-guara e outros. Dentro da escola tinha crianças e adolescentes e homens e mulheres adultos. Eles pareciam conversar animadamente.

-Essa é a nossa escola. – disse Ágata com um sorriso, ela parece orgulhosa. – É aqui que os novos semideuses aprendem sobre tudo que precisam, os nomes de todos os deuses, as religiões, as criaturas folclóricas que podem enfrentar e muitas coisas a mais. Temos as matérias de História, geografia, artes, Língua e escrita Indígena e linguagem animal. Falando nisso, precisamos fazer sua matrícula. Podemos fazer mais tarde.

Livro 1: Kauê e os filhos da Amazônia - O Herdeiro Do SubmundoOnde histórias criam vida. Descubra agora