Capítulo 35 - Um desabafo orgulhoso e amargo

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Ok, o que eu perdi?! Eles estão achando que sou algum tipo de Simba?! Olha, até que somos parecidos, não no fato de posição de poder, mas por sempre se ferrar da pior forma possível por nossa própria culpa e teimosia. Alguns animais não se ajoelharam, eles apenas me encaram, alguns com medo, outros com raiva, consigo sentir suas emoções.

-Filho de Anhan... desde quando isso existe? - a voz de Thiago foi a única a ser ouvida, pois todos estavam em silêncio absoluto.

- Não é isso, é ele. - disse Tainá apontando pra mim. - Ele é filho do deus do submundo.

Thiago olhou pra mim, um misto de confusão tomou conta de sua face.

-É sério?! - Bruno fez uma cara de surpresa. - Eu achei que os demônios estavam blefando, então ele é de verdade?! Mas Anhangá não pode ter filhos.

-E o que estamos fazendo junto dele? - questionou Thiago. - É imoral, chega até ser uma ofensa. Por isso tudo isso aconteceu, é por causa dele. Ele deveria estar preso.

Thiago parecia que ia me atacar, mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, ele foi parado pela Onça de para torta, John e Yancy.

-Semideus, você não vai ameaçar o filho de meu mestre na minha frente. - disse a Onça.

-Cuidado com o que fala. - alertou Yancy. - Ele salvou sua vida, ele que selou o demônio que estava te controlando a sei lá quanto tempo.

Deveria agradecer ao invés de acusar. Se tentar fazer algo, nenhum de nós aqui terá qualquer piedade em fazer algo contra você também.

Yancy tinha o rosto sério, admito que é raro ver ele assim. Os outros também, até mesmo Bruno.

-Sossega, Thiago. Você acabou de sair de uma fria, ele te salvou. Quer voltar pra lá por acaso? - disse John.

-Desculpa, é que fiquei impressionado... vocês sabem bem o que ouvimos e aprendemos. - respondeu ele. - Fiquei com medo.

Thiago se afastou um pouco, sem olhar pra mim.

-A história se repete. - disse Josefiel, ao lado de Jaci. Balançando a cabeça negação.

-Ele tem razão. - disse a voz de um animal. - Não devemos nenhum respeito a Anhangá ou a sua prole. É um absurdo todos vocês se ajoelharam perante esse humano, principalmente depois que o pai dele fez para todos nossas espécies. Cubra essa imagem do seu pai no seu braço!
É uma ameaça à todos nós!

Eu queria retrucar, mas as palavras não saíram. Discutir com animais, isso ainda é meio absurdo para minha cabeça, apesar de tudo que já vi e presenciei.

Todos que estavam ajoelhados se levantaram.

- Ele não é culpado, vocês não entendem. - disse a Onça. - Não falem sobre o que não sabem.

Eles começaram a discutir. Uns me defendendo e outros me acusando, ou acusando meu pai é o defendendo. Nunca pensei que iria me estressar com animais, Noé teve mesmo muita coragem.

-Silêncio! - ordenou a deusa Jaci. - Voltem para seus lares, esse assunto não é da jurisdição de vocês. Ou querem que eu fale com o Curupira?

Não sobrou se quer um animal para contar história, todos correram em meio a mata e as árvores em um piscar de olhos. Só sobrou a Onça de pata torta, ele se aproximou de mim.

- Um dia, todo mundo irá se arrepender pelo que dizem por aí de seu pai e agora de você. - disse ele lambendo o meu rosto, eca! - Até mesmo os deuses.

Ele olhou diretamente pra Jaci que não demonstrou nenhuma reação, mas todo mundo a minha volta estava sem respirar... pelo jeito ninguém aqui é acostumado a falar dessa forma dos deuses, principalmente na frente de um.

Livro 1: Kauê e os filhos da Amazônia - O Herdeiro Do SubmundoOnde histórias criam vida. Descubra agora