Capítulo 9 - A melhor refeição da minha vida

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Quando Robert e eu pisamos no refeitório, todos pararam o que estavam fazendo para olhar para nós, mas tenho quase certeza que setenta e cinco por cento dos olhares são pra mim e o resto para o cabelo loiro espetado de Robert. Eu vi esse lugar agora pouco com Ágata e não era tão grande, agora ele está muito maior. Deve ter umas 200 pessoas aqui. Estou vendo Tainá devorando um prato com macarronada e sendo seguida por outros com as mesmas tatuagens que a dela, mas também tinham outros diferentes sentados com ela. Também estou vendo Yancy, ele está sozinho... comendo com calma alguma coisa que não sei dizer o que é.

Minhas pernas não me mexem, não com todo mundo olhando pra mim dessa forma, até mesmo as cozinheiras. Nunca gostei muito de atenção, até mesmo na escola quando os professores me faziam ir até a frente da sala para apresentar trabalhos, eu me enrolava e fazia tudo errado por pura vergonha e nervosismo.

-Passo por isso todo dia, você vai se acostumar. Ouvi Ágata dizer que você não conhece o Curupira e a Caipora, bom, agora seria uma ótima oportunidade. – disse Robert. – Venha comigo e finja que ninguém está olhando.

Eu o segui, na verdade ele me empurrou até o centro do refeitório, onde tinha dois tronos feitos de madeira e folhas de bananeira. Neles estavam sentados dois seres. Um é aquele rapaz com cabeça bem vermelha que vi quando sai daqui do hospital. Não é apenas seu cabelo que é vermelho, seu peito também tem uma forte pelugem avermelhada, assim como várias partes do seu corpo. O mais estranho são seus pés que são totalmente virados para trás. Ele comia uvas e pareceu feliz em me ver, pois um sorriso brotou em seu rosto. Este deve ser o Curupira. Ao lado dele, em um trono maior tem uma mulher indígena, mas ela é diferente das outras. Não sei explicar, mas tem uma energia vindo dela, uma energia que faz meu corpo tremer. Seus olhos são verdes, não como os de Robert, os de Robert são claros, os dela são mais intensos como a cor de uma folha de bananeira. Seu cabelo negro é longo e liso, seus braços e pernas estão pintados com listras vermelhas, ela uma um tipo de túnica marrom que cobre seu corpo, em seu pescoço tem diversos colares com pedras coloridas. Na sua mão esquerda tinha um cajado com a ponta de umas árvore cheia de galhos e folhas. Ao contrário do rapaz ao seu lado, ela me olhava com desdém enquanto mastigava de forma cruel uma fatia de queijo branco.

- Senhor e senhora. – Robert se ajoelhou. – Venho apresentar finalmente o nosso novo integrante.

-Mais uma criança chata. – disse a mulher. – Mais um encrenqueiro.

- Este é especial. – disse o Curupira se ponto de pé e estendendo a mão para mim. Será que devo apertar? – Ora, não vai me cumprimentar? É assim que vocês fazem hoje em dia, não é?

Eu ergui a mão no mesmo instante e a apertei. Sua mão é quente, muito quente. Ele me encarou, seu olhar parece demonstrar curiosidade.

-Bem-vindo, Kauê. – disse ele alegremente. – Sou o Curupira, treinador e professor de atividades, mas pode me chamar de tio Curu ou Sr. Curu se preferir. Está é a senhora Caipora, deusa dos animais das florestas e sua principal protetora, e é claro, nossa presidente.

- Por favor, Curu. Não precisa me lembrar do meu horrível cargo atual. – respondeu ela olhando para mim é não sei o motivo, mas senti meu corpo tremer. – Você fez uma bela entrada aqui, garoto. Estou surpresa de Tupã não ter transformado você em poeira cósmica. Conseguiu até mesmo atrair a atenção das pombas brancas oxigenadas.

Um trovão estourou nos céus.

Caipora olhou pra cima entediada.

-Ta tá, já sei. Velhos hábitos. – disse ela revirando os olhos. – Como presidente desta creche, eu devo impedir pânico geral, mas não sei por quanto tempo. Afinal, não sou eu estou invadindo.

Livro 1: Kauê e os filhos da Amazônia - O Herdeiro Do SubmundoOnde histórias criam vida. Descubra agora