Capitulo 23 - Fui descoberto mais cedo do que imaginava!

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Já perdi a conta de quantas vezes já vomitei meu coração, pulmão, fígado. E até mesmo estou sentindo o gosto horroroso do mingau de chocolate com leite azedo que minha avó fez no mês passado, não sei como diabos ela não percebeu que o leite estava vencido, pior fui eu que tive que comer um pouco, pois ela odeia desperdício de qualquer tipo.
Passei a maior parte do tempo com os olhos fechados, não gosto muito de altura. Não é medo… é mal estar mesmo, ainda mais em cima de uma criatura alada que nem em meus maiores sonhos imaginaria montar. Estou com tanto medo de cair que praticamente deitei nas costas dele e me agarrei com toda a força, sem puxar seu pelo ou penas, sei lá. O sol está pelando de tão quente, eu não fazia ideia, já que em Eldorado tem uma magia que muda o clima lá dentro, não tinha como saber que aqui for a estaria esse clima desértico infernal. Algo muito estranho, sempre dizem que chove muito na Amazônia, pelo menos é o que me contaram na escola, mas devo admitir, das raras vezes que consegui olhar pra baixo, consegui admirar a vista, realmente todo esse verde é lindo. Um que está adorando e se divertindo muito mais que eu é o meu papagaio, se divertindo tanto que o mesmo está voando ao meu lado e cantando uma música, na verdade ele está berrando! Uma canção que ele disse que foi o Robert ensinou pra ele.
“Digimons, digitais, digimons são campeões"
Me lembro de ouvir Robert escuta-la alguma vezes com fones de ouvido. Eu perguntei pra ele o que era e ele me mostrou um vídeo do YouTube. Aquela apresentadora loira da Globo, Angélica, que se casou com o Tucan… Luciano Huck, ela estava no vídeo com uma rouba bem doida e usando o chapéu do Seu Madruga, do seriado Chaves. Ela cantava na frente da tela, onde passava um tipo de abertura com uma música do desenho, em fim. Eu fiquei em choque! É isso que as crianças assistiam em 1999?! Quem dera eu tivesse tido essa infância, jamais minha avó deixou eu ver estes tipos de entretenimento, tudo que eu podia assistir eram os desenhos bíblicos da Rede Record e apenas isso. Ela sempre foi tão severa… mas sempre disse que era para meu próprio bem. Só espero realmente estar enganado sobre tudo isso… espero que ela realmente esteja bem. Só espero não morrer tentando descobrir isto. Onde será que estamos?
Passo minha mão na testa, estou mais suado que tampa de marmita. Lá em baixo está tudo igual, uma enorme extensa floresta que parecia não ter fim. Peguei o mapa com todo o cuidado possível, se eu derrubar isso, estarei perdido, literalmente!
Abro o mapa e vejo que eles estão a alguns metros na minha frente, melhor me manter assim. Não seria muito bom eles saberem que estou seguindo eles, podem ser capazes de me mandarem de volta e não quero fazer isso. Só irei segui-los até esse esconderijo e irei de alguma forma ou de outra, descobrir o que está acontecendo.
- “Está tudo bem? – ouvi uma voz feminina em minha mente. Essa não é a primeira vez, e exatamente igual quando a mãe de Yancy falou comigo. Eu demorei um pouco para perceber que era a George que estava tentando se comunicar comigo.
-Estou. – respondi. – Só um pouco impressionado, assustado e tudo que é de pior.
-Se segura. Eu estou vendo a van deles, está a alguns metros a nossa frente. – disse ela.
-Sério? Como pode ver? – pergunto.
-Mestre Robert lançou um feitiço em mim. – respondeu ela. – Ele viria comigo seguir a namorada dele.
Robert pensou em tudo, realmente em tudo. Será que ele pretendia mesmo ir atrás de Ágata?! Uma coisa que posso afirmar, ele é corajoso. Bem corajoso, ele invade um local totalmente secreto e proibido, faz amizade com as criaturas dali e até mesmo iria sair sem permissão.
Do nada e deixando meu coração quase saindo pela boca, George dá um giro rápido, eu quase deixei cair a mochila que Robert me deu, sorte que ela é bem pesada.
-O que houve?!
-Comida! – George respondeu de uma maneira muito entusiasmada.
-Oi?! – questionei e foi tarde demais. George deu uma investida bem forte pra frente, se eu não tivesse me agarrado em seu pescoço, com certeza já teria caído!
-FREIA SUA LOUCA! PARE! – gritava meu papagaio ficando para trás. George voou em alta velocidade até uns pássaros que estavam voando perto de algumas enormes árvores. George entrou com tudo dentro delas, não se importando com o passageiro idiota aqui atrás! Ele saiu dos galhos com um dos pássaros na boca e o engoliu por inteiro.
-Delícia! – exclamou ela. – Adoro um pássaro fresco!
-Vou fingir que não ouvi isso. – escutei meu papagaio murmurar quando nos alcançou. Meu cabelo ficou cheio de galhos e folhas, sem dizer os pequenos machucados... eu acho que engoli que alguma coisa.
-Não faça mais isso! – gritei.
-O Purê, eles estão longe? – perguntou meu papagaio. Animal irritante!
-Kauê. – resmunguei. – Eles estão em uma boa distância, precisamos nos manter afastados assim.
-Por que não quer que eles te vejam? – perguntou ele.
-Porque se eles descobrirem, serei forçado a voltar. – respondi. – E isso não seria bom para mim e Robert.
-Por quê? – questionou ele de novo.
-Eu saí sem permissão. – respondi.
-Então você está fazendo uma coisa errada? – perguntou ele. – Santo Tupã!
-O que foi? – exclamei, me assustando com seu berro.
-Você fez algo errado! E eu estou com você! Se você for punido, eu também serei! – respondeu ele aterrissando em minha frente, no pescoço de George. – Se eu for pego, irei negar totalmente que te conheço.
-Quem dera eu pudesse dizer o mesmo. – respondi.
-Ainda não tem um nome pra mim? – perguntou ele.
-Não tenho tido tempo pra pensar nisso. – respondi, realmente, um nome pra ele é o que está no final da minha lista de problemas.
-Que tal Tsunami? – perguntou ele. – Precisa ser algo relacionado a vento não é mesmo?
-Não sei se isso é uma regra, mas parece que sim. Todos os outros tem nomes como Rajada, Ventania, Tufão. – respondi me lembrando de alguns.
-Tufão? Tufão não é aquele jogador de futebol daquela novela na esfera mágica. Coitado, ele tem mais chifres que os outros bois. – respondeu ele.
-Como sabe disso? – perguntei, surpreso. Pra alguém que praticamente acabou de nascer, ele conhece muita coisa.
-Eu ouvi você e o Robert assistindo naquela bola de cristal enquanto eu estava dentro do ovo. – respondeu ele.  – Quando estamos perto de nascer, já podemos ouvir tudo que está do lado de fora.
-Isso me trás lembranças, de quando eu era normal. – murmurou George.
-Você é normal e maravilhoso, quem dera eu tivesse essas garras de onça e esse corpo enorme. – respondeu meu papagaio fazendo um carinho com sua cabeça no pescoço de George. – Já falamos sobre isso, você é incrível.
-Obrigado meu pequenino amigo, mas eu sei o que sou. Sou uma aberração da natureza, os deuses não aprovam minhas existência, não fazem ideia de como eu gostaria de sair voando por ai como estou fazendo agora ao invés de ficar preso naquele lugar. – respondeu ele. – Nós não pedimos pra nos tornarmos o que somos agora. Só queríamos nossa liberdade, de volta. Abençoado seja Mestre Robert por ser o primeiro humano além do cientista a ser gentil conosco.
Suas palavras saem com um tão de tristeza, eu meio que sei como ela se sente. Afinal, eu era praticamente um prisioneiro em minha casa e tudo que eu queria era ser livre. Não sei como as coisas aconteceram na época que o tal cientista criou eles, mas isso já passou, não é? Digo, eu sei que eles não são animais comuns, mas e as criaturas folclóricas soltas por ai mundo afora? Não faz muito sentido pra mim manter eles presos naquele lugar. Mesmo que seja uma ordem dos deuses, no entanto os deuses podem cometer erros, não podem? Fui ensinado que Deus nunca cometeu, comete e jamais cometera qualquer erro em toda sua existência divina, no entanto... as vezes eu me pergunto se talvez a humanidade não tenha sido uma criação que deu errado... sei lá. A gente vê e ouve tudo que acontece ao nosso redor e sempre questionei os motivos disso ou as razões... enfim.
buzzz! bzzz!
Que zumbido é esse? De onde está vindo?!
-Estão ouvindo alguma coisa? – perguntei.
-Ouvindo não, eu estou sentindo. Esse cheiro... – disse meu papagaio. – De onde está vindo?
-Cheiro do que? – perguntei.
-Mel. – respondeu ele.
Mel?  Eu cheirei o ar e realmente, o local parecia estar rodeado com mel e esse zumbido... um forte zumbido... de onde está vindo?
-Abelhas. – disse George. – Um enxame de abelhas!
Nem deu tempo de eu conseguir ver de onde elas poderiam estar vindo, pois George aumentou a velocidade e rodopiou se desviando de uma bola enorme de abelhas tentando nos atacar!
-SOCORRO! – berrou meu papagaio tentando fugir delas fazendo diversos movimentos no ar. Ele voou tão rápido que acabou trombando em meu peito e eu segurei.
-RAPIDO GEORGE! – exclamei vendo o enxame vindo novamente nos atacar. Mas de repente tudo ficou escuro, parecia que uma nuvem havia coberto o sol, mas não era uma nuvem, era uma coisa gigante azul! Um... um pavão gigante! As batidas de suas asas enormes faziam uma forte corrente de vento que aos poucos estava nos lançando para trás. 
-ACHOU MESMO QUE IRIA SAIR DE SUA PRISÃO SEM EU SABER?! – gritou uma voz de mulher e meu Deus... eu sei muito bem de quem é essa voz!
Acima da enorme criatura surgiu junto com a luz do sol uma figura humana, ela segurava um bastão com uma ponta afiada, pássaros começaram a cantar de todos os lados e milhares de abelhas, centenas de milhares formaram uma escada enorme entre nós e o pavão gigante. A figura iluminada começou a andar em cima da escada de abelhas sem qualquer dificuldade ou medo. George e meu papagaio pareciam estar em choque, pois ambos não falavam nada e muito menos se mexiam, apenas as asas de George continuavam batendo. A figura foi se aproximando e como pensei, logo reconheci sua cara carrancuda, era a Caipora, deusa dos animais, a presidente de Eldorado e pela expressão em seu rosto, eu devo estar muito encrencado.
-Achou mesmo que iria sair de Eldorado sem eu saber? – questionou ela. – Eu tenho olhos em toda parte, garoto!
-Senhora, eu tive que vir. Eu sei que quebrei diversas regras, mas eu tinha que fazer alguma coisa. – tentei me explicar, mas seus olhos queimaram uma espécie de chama verde.
-Me poupe de suas explicações, filho de Anhangá. – disse ela se aproximando mais. – Não pense que tenho medo de falar o nome do maldito do seu pai, você e ele não me assustam nenhum pouco. Eu poderia mata-lo aqui e agora e teria muitos motivos pra isso, afinal o castigo para quem desobedece é a morte. Quem sabe isso poderia em hipótese fazer ele sofrer um pouco depois de tudo que ele e os malditos anjos me fizeram passar.  Ela balançou a cabeça e dois falcoes enormes surgiram do céu, me agarrando com suas garras e segurando meus braços, me suspendendo no ar. Pude sentir minha pressão cair só de olhar para baixo, os falcoes apertavam meus braços com muita força. – Hum... como devo mata-lo? Te jogar daqui? Pedir para alguma cobra te envenenar? Te transformar em barata te mandar pra china e esperar que eles tenham um excelente banquete? Tantas opções.
-Por favor, não! – implorei entrando em pânico.
-Ai para de gritar, vocês semideuses me irritam muito. – respondeu ela. – Não sei quem odeio mais, vocês, os mortais malditos que só maltratam meus domínios, seu pai ou os desgraçados dos anjos que agora estão em Eldorado por sua culpa!
-O que os anjos fizeram pra você? Isso é com eles, eu não fiz nada. Não tenho culpa de nada! – exclamei.
-Desculpas, sempre desculpas. – ela colocou a mão na testa e balançou com a cabeça em negação. A deusa assobiou e uma arara azul surgiu com carregando um cacho de uvas verdes. As abelhas abaixo de si, desfizeram a escada e formaram um trono para a deusa Caipora. – Respondendo a sua primeira pergunta, os anjos são a causa da minha dor. Imagino que você já saiba desta história, afinal o que mais acontece em Eldorado é fofoca. Anos atrás eu fui pedida em casamento pelo deus Pã, o deus grego que protege a vida selvagem. Aquele que vocês malditos cristãos se atrevem a comparar com um de seus demônios imundos. Eu sempre amei e o admirei, eu até havia parado de me relacionar com mortais para provar meu amor por ele, e assim faço até hoje. Se não reparou, eu não tenho filhos semideuses jovens, somente velhos e idosos que já não fazem mais nada. Eu ia me casar no monte olimpo, a própria Hera, deusa do casamento, fez meu vestido com ajuda de minha rainha Jaci. Inclusive, esse belo pavão gigante foi ela que me deu de presente de casamento. No entanto... eu fui impedida de sair do Brasil por causa de seu pai, seu pai começou um ataque contra todos nós com criaturas infernais que nunca havíamos visto antes... sabe quantos animais entraram em extinção? Sabe quantas plantas desapareceram?! Sabe quantos semideuses morreram?! Milhares! Quando seu pai fora derrotado, eu tentei ir atrás de Pã, mas sabe o que aconteceu? Ele foi morto, isso mesmo, morto! Por Ares, o maldito deus da guerra. Eu não consegui fazer nada pra impedir isso, existem leis que somos obrigados a seguir, mas os anjos podem fazer! Eles sabiam o que estava acontecendo na Grécia e aqui! E não fizeram nada! Nada! Eles podiam ter interferido, podiam ter feito alguma coisa... mas...
Sua voz saiu em sussurro, ela parecia a ponto de chorar.
-Ares fez uma limpa no olimpo, ele se rebelou contra todos e teve ajuda de alguém, inclusive, ele ajudou seu pai a tentar nos massacrar. Zeus foi cego, foi profetizado que um de seus filhos o destronaria e ele ignorou essas profecia, pois seu ego era enorme. – respondeu ela com nojo na voz. – Os anjos e seu Deus não agiram, simplesmente deixaram acontecer, só interferiram quando as ações de Ares estavam entrando em conflito com o ambiente deles. Resumindo, seu pai, Ares, os Anjos, todos tem culpa pela minha dor, pela minha ferida. Muitos filhos meus foram mortos na guerra... muitos animais. Eu jamais irei esquecer isso ou perdoar seja seu pai ou aqueles intrometidos dos anjos.
-Eu sinto muito por tudo isso. Mas eu não fiz nada! – respondi não aguentando mais aquele aperto dos falcoes. – Eu não pedi pra ser filho de meu pai.
-Talvez. – respondeu ela com desdém. – Eu simplesmente não posso descontar minha irá nos anjos, seu pai está apodrecendo na prisão, Ares foi espalhado nos cosmos, somente tem você, seus olhos... são os mesmos olhos alaranjados do demônio que é seu pai. Eu faria um favor para todos te eliminando aqui e agora, mas...
Os falcoes me levaram de volta para cima de George e me soltaram, meus braços... que dor insuportável!
-Eu sinto que você irá morrer nessa sua aventura suicida. – disse ela com um sorriso de canto. – Se não morrer, com certeza irá quando voltar para Eldorado. Pra mostrar o meu lado gentil e misericordioso, eu irei permitir que você siga em frente e fracasse em fazer o que quer fazer.
Ela estalou os dedos e as abelhas sumiram, ela retornou em cima do pavão.
-Boa sorte, acredite, vai precisar.
Ela e o pavão desapareceram acima das nuvens...
Eu pensei que fosse morrer ali mesmo! Meus braços parecem mármore de tão pesados. A deusa Caipora me apertou tanto com aqueles pássaros enormes, ela queria me matar. Nem sei como ela me deixou prosseguir em frente. O que será que vai acontecer? Provavelmente ela sabe que serei morto quando retornar, eu infringir umas mil regras e ordens e pelo olhar sinistro dela, ela irá adorar acabar com minha raça mais tarde, se é que eu não morrerei nessa missão suicida como ela mencionou... é por isso. Ela só me deixou ir porque sabe que não tenho a menor  chance de sobreviver aqui fora.
Por causa da interferência dela, Yancy e os outros se distanciaram mais ainda, eu vi pelo mapa que eles já saíram da Amazônia e já chegaram no Mato Grosso. Preciso alcançar eles!
-George, você está bem? – perguntei.
-Estou, a deusa não me feriu. – respondeu ela. – Desculpe por não te ajudarmos, mas os animais não podem reagir contra ela. Ela é a nossa divindade máxima depois de Lorde Tupã.
-Tivemos sorte de não virar pastel! – exclamou meu papagaio. – Eu fiquei com tanto medo que senti minhas penas quererem me largar e voarem na minha frente.
-Foi mesmo assustador, mas agora nós precisamos nos apressar. – murmurei. – Consegue ir rápido, George?
-Estou sentindo a magia de Robert a diversos quilômetros. – respondeu ele. – Não sei se consigo ir tão rápido.
-Claro que consegue, os falcões são da espécie das aves mais rápidas deste mundo. – respondeu meu papagaio, deixando de voar ao nosso lado e pousando perto de mim. – Pode ir George, nós aguentamos.
-Espera, não pode ir não!!! – disse um tanto tarde demais, George investiu em frente com toda velocidade, quase me derrubando mais uma vez.
...
Depois de uma viagem conturbada em alta velocidade com muitos vômitos e perda de consciência a cada 3 minutos. Nós chegamos no Mato Grosso, na cidade de Lucas do Rio Verde, bem no interior do estado e bem longe de Cuiabá, a capital.  O mapa mostrou Ágata e os outros pararam por alguma razão bem perto desta cidade. George, meu papagaio e eu pousamos em uma mata alta, longe da cidade urbana, na área rural, perto das margens de um rio. George estava com sede. Diversas fazendas aos arredores com muitas plantações de milho, soja e algodão.
O mapa mostrava que Ágata e os outros estavam a uns quilômetros de distância em uma grande área verde, perto do Rio Verde. Nós estamos nas margens dele em que parece ser o seu início, então, se seguirmos em frente, alcançaremos eles logo.
Estou com muita coisa na cabeça, principalmente na história que a Caipora me contou. Meu pai... ele matou tudo isso que ela falou? Será que ele é realmente esse demônio que todos dizem. Eles temem até mesmo em dizer o nome dele... como diabos minha mãe foi se apaixonar por um deus assim? Se é que ela se apaixonou... quero dizer, eu não sou ingênuo. Só de pensar nessa possibilidade, sinto uma raiva descomunal. Falam tão mal dele, ele com certeza é um monstro... e eu me pergunto. Será que serei como ele? Jesus... Me oriente, pois não sei o fazer...
Talvez agora não seja hora de pensar nisso, todo a estão exaustos. O tempo acima de nós começou a ficar nublado, acredito que logo irá chover. E não é prudente voar enquanto chove.
George estava deitada na grama, meu papagaio se enfiou no meio da mata, ele ia fazer alguma coisa que não prestei muita atenção.  Me sentei no chão um pouco, minhas pernas estão me matando, sem dizer o meu fiofó que está bem dolorido. Meu estômago roncou e no exato momento me lembrei da bolsa que Robert me deu quando sai. Eu a tiro de minhas costas, meus ombros sentem um alívio enorme. O que será que tem de e tão pesado aqui?!
Eu a abro e encontro três garrafas com água gelada, pão de forma com mortadela, presunto e queijo. Pelo menos uns 5. Corda, fósforo, e uma pequena caixa de madeira pequena. O que será que tem dentro dela?
Tiro a pequena tranca e a abro, dentro leva havia uma pequena espada, um pequeno Machado e um pequeno arco com uma bolsa de flechas. Me recordo que Robert disse que essas pequenas armas podem se tornar enormes se eu fazer alguma coisa com elas.
Antes que eu pudesse fazer qualquer movimento, eu ouvi um som. Um grunhido baixo e arisco, parecia de algum rato. Mas de onde vem? O barulho foi se tornando mais forte e junto com ele  bater de asas e gritos do meu papagaio, ele chegou voando tão rápido que uma forte corrente de vento levantou poeira, ele estava fugindo de um... morcego. Mas que morcego estranho. Ele é inteiro preto com olhos amarelos e caninos bem afiados, ele emite um som horrível com sua boca.
-ELE QUER MEU SANGUE! – berrava ele.
George se levantou, ele tentou acertar o morcego com suas patas de onça, mas o mesmo se desviou, vindo em minha direção. Em um movimento que eu nem sei como tive coragem de fazer, peguei um pedaço de madeira para tentar acerta-lo ao invés de correr como normalmente eu faria, mas antes que eu pudesse tentar qualquer coisa, uma lança acertou uma asa do morcego, o prendendo no tronco de uma árvore.
-Você! – Eu ouvi George exclamar e olhei pra trás. Tinha um homem alto, careca e negro totalmente pelado saindo da água. Suas mãos parecem ser nadadeiras e seus pés tem formatos de pés de pato. O que ele é?!
Ele se aproximou de mim com aqueles enormes olhos me encarando.
-Cuidado, Kauê. É o negro D'água, ele é perigoso! – exclamou George tentando ir pra cima do homem, mas ele jogou uma corrente de água em cima dela, a lançando pra longe.
-George! – meu papagaio voou em seu socorro.
-Negro D’Água?! – perguntei.
-Semideus. – disse ele farejando o ar. – Precisamos da sua ajuda!
- Como? – questionei.
-Venha comigo! – ele ergueu sua mão e cordas de água agarraram minhas pernas. O homem foi até o tronco da Árvore e pegou a lança junto com o morcego, que ainda estava vivo e o colocou preso em uma bola de água. Ele correu em direção ao Rio e as cordas me puxaram junto, a única coisa que me lembro antes de me afogar é de meu papagaio me chamando com desespero...















Livro 1: Kauê e os filhos da Amazônia - O Herdeiro Do SubmundoOnde histórias criam vida. Descubra agora