Capitulo 32 - A Verdade

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Padrinho?... um anjo é meu padrinho?! Meu Deus, imagino que mais nada pode me surpreender nessa altura do campeonato. A medida que me aproximo, a enorme escuridão do local se torna menor e a pálida luz branca começa a ficar mais intensa. Cheguei perto das barras de ferro, tinha diversas figuras desenhadas nelas, não... não são figuras. São letras, as mesmas letras que tem no livro que meu pai escreveu, não consigo ler direito o que está escrito, mas nem tentei prestar muita atenção nelas, pois ela toda estava centrada na figura acorrentada na minha frente.
Seus braços e pernas estão presos por correntes pretas, as letras nelas brilhavam uma luz branca. Ele está suspenso no ar,  seu corpo está todo ferido com diversos cortes, destes cortes esta saindo um líquido dourado. Ele estava de cabeça baixa, mas a levantou, seu cabelo é preto e volumoso, seus olhos são cinzentos. Ele parece ter a minha idade, em seu rosto sujo de poeira surgiu um meio sorriso. Ao contrário do que senti na presença de Gabriel, uma força que me fez tremer, o que sinto dele é algo vem mais fraco e nulo. Suas asas, elas também estão presas por correntes, feridas e sujas.

Minha boca amargou, desde que minha avó começou a me levar na igreja, aprendi que os anjos são os portadores da luz de Deus, que eles são seu exército, seus guerreiros vitoriosos que jamais sofreriam ou perderiam para qualquer inimigo que fosse. Isso se comprovou pra mim quando vi Gabriel abrir suas asas, mas agora...

-Afilhado, não sabe como pedi para Deus para um dia ver você. – Ele tossiu. – Como cresceu, faz tanto tempo... eu fiz seu parto, sabia?

- Não... você é Josefiel? – perguntei um tanto apreensivo.

- O que restou, pelo menos. – disse ele entre dentes e agonizando. – Aquele semideus, o Pijima, ele cumpriu a palavra dele. Te trouxe aqui, eu estava com medo, nas sombras por 14 anos sem saber o que estava acontecendo com você.

-Agora estou aqui, não entendo muita coisa, mas a Cuca me disse que você era o anjo da guarda de minha mãe? Certo?

-Sim, eu era. – respondeu ele com voz baixa, aparentando estar triste. – Sou ainda de certa forma.

-O que aconteceu? – questionei um tanto desesperado. – A Cuca me contou algumas coisas, mas ela não sabe de tudo ou não quis me falar. Eu preciso saber, Pijima me disse que você tem todas as minhas respostas e agora eu quero saber. Me fala, como ela morreu? Por que minha avó está metida nisso? O que fizeram com ela? Como você veio parar aqui? O que esses demônios querem?
Ele suspirou como se o assunto lhe machucasse.

-Eu suspeitava que em algum momento aquela jacaroa iria agir. Prometo responder tudo que você quer saber, mas preciso que me tire daqui. – murmurou ele. – Só me resta um pouco de minha graça, preciso usá-la para cumprir o último desejo de sua mãe.

Desejo de minha mãe?

-Cumprir o que? – questionei.

- Por favor, rápido, me tire daqui. – insistiu ele.

- Como?!

-As frases nas grades, elas foram feitas pelo mesmo metal da Foice do Titã, Cronos, o metal mais resistente que existe, ela pode conter qualquer ser abaixo do nível dos Arcanjos aqui dentro, leia elas com toda a força que conseguir, está escrito o feitiço de tranca e o de liberar, apenas alguém do lado de fora que sabe a língua Enoquiana e tem poderes místicos pode abrir. Sinto a força de seu pai em você, você pode fazer isso.
Eu queria ter essa confiança que ele tem em mim! As letras... elas estão tão pequenas, parece que quanto mais forço minha visão, mais menores elas se tornam.

- Não estou conseguindo, elas estão ficando menores.
-E porque você é mortal, somente anjos e alguns deuses conseguem ler com clareza o que está escrito, mas não dispomos de nenhum do nosso lado, só tem você. Faça, você precisa, é a única forma de ajudar sua avó antes que...

-Antes que o quê?! – exclamei.
Um trovão explodiu acima, senti um tremor e uma movimentação, poeira e pedras começaram a cair. É o Yancy os outros.

- Não temos tempo, os semideuses que estão com você. Eles vão abrir caminho para aqui dentro, mas sem minha possível ajuda, eles não poderão fazer nada contra aqueles dois... no momento eles estão concentrados em desfazer o feitiço da Cuca, essa é a nossa chance.  – Ele começou a tossir, que dois são esses? São os demônios? – Se concentre, libere seu poder, tudo a sua volta esta sobre seu controle, você é filho da natureza.

Ok, ele é um anjo doido! Não entendendo nada do que ele está falando, mas me esforcei um pouco mais praticamente implorando para que algo pudesse acontecer, me sinto nervoso, muito nervoso.
-Precisa relaxar! – reafirmou ele, como se fosse fácil. Eu não sou uma pessoa relaxada, ainda mais em momentos assim... onde eu preciso fazer as coisas. Nunca me dei muito bem com responsabilidade e deveres.

Suspirei fundo, senti um leve arrepio no braço onde meu sangue ainda escorre um pouco por causa do chicote do Besta fera, está ardendo tanto. Tente ignorar a dor e me concentrar em ler o que fosse possível, as letras... elas parecem mudar de lugar quanto mais forço minha vista, porém, consegui entender um pouco. Algo me dizia para colocar minha mão na grade, senti meus olhos arderam um pouco, em instantes comecei a ver em minha mente as letras se formando em um tipo de frase.

-"Tranking Liberium Light.” – disse eu e todas as barras das grades começaram a brilhar. – Aí! – minha mão que estava segurando a barra, foi queimada pela luz forte. As correntes que estavam segurando o anjo se romperam uma a uma até que ele caísse no chão a grade se abriu de forma brusca, fazendo o local inteiro tremer. Fui até dele, ele não parece ser capaz de ficar em pé. Suas costas... tem duas enormes cicatrizes com marcas de queimadura, as asas dele... elas parecem terem sido cortadas. E tem uma marca em sua barriga com os números 666.

- Eu sabia, sabia que iria conseguir. – murmurou ele, tremendo.

-O que houve com você, Josefiel? – questionei o ajudando. – Você é um anjo, já ouvi muita coisa sobre vocês nessa vida é algo dessa forma parece ser impossível. 

-Eu não sei como, me lembro de poucas coisas e de tudo ficar escuro, quando acordei, me vi preso nesse lugar... Tentei fugir usando meu poder, mas os impedimentos em enoquiano estavam em toda parte... mas não importa, vou recuperar um pouco de minha força agora que estou livre e poderei cumprir meu dever. – disse olhando diretamente para meus olhos. – Você tem o rosto de sua mãe e os olhos de seu pai.

Minha avó sempre disse isso, que tenho o rosto de minha mãe, mas sempre eu olhava as fotos dela, nunca me achei parecido.

- Eu não sei o que você tem que fazer, mas temos que sair daqui. – disse me levantando e o ajudando a sair de dentro da jaula.

- Não, eu preciso fazer isso agora. – disse ele parando de andar. – Mas antes você tem que saber da verdade para que possa entender e aceitar a decisão de sua mãe. Você tem que escolher, Kauê.

-Escolher o que?! Agora não é hora pra enigmas, temos que sair daqui! – exclamei.

Ele se sentou no chão, se fosse pra conversamos aqui! Poderíamos ter feito isso com ele preso!

- Não posso sair, todo esse lugar esta cercado por sigilos enoquianos, você precisaria apagar todos para que eu possa me libertar, mas fazer isto esta longe de sua força atual. Prefiro usar o poder que me resta em cumprir o desejo de sua mãe e te enviar pra longe daqui com sua avó posteriormente. – murmurou ele, bufando.

- Como assim? Não estou entendendo. – respondi. – Onde está minha avó? Que desejo é esse de minha mãe?!

Ele bufou uma última vez e limpou a garganta. Ele esticou suas machucadas, a direita parece estar quebrada...

-Antes você precisa entender como nós anjos funcionamos. Nós somos os primeiros filhos de Deus, como você deve saber. A maioria dos anjos é apática, sem emoções, principalmente com seres humanos,  eu também era assim, isso até milhares de anos atrás. Eu fazia parte de uma guarnição designada para vigiar e observar vocês, estudar seu comportamento. E sinceramente, era muito chato, vocês só sabem fazer guerras, criar conflitos sem sentindo e fazer sexo, uma repetição sem fim. Quem gostava era Hipacia, nossa capitã na época. Fiquei bastante tempo nessa função até o Arcanjo Rafael decidir me colocar no grupo de anjos da guarda e aí inicie meu trabalho. Sempre me aproximei dos mortais que eu deveria guardar a vida toda até a morte e com sua mãe não foi diferente, a questão é que com ela... acabei formando uma amizade de verdade, como se eu fosse um irmão pra ela... Nós anjos somos proibidos de nos revelarmos para quem guardamos, mas eu não consegui evitar.  – Ele tossiu, seu olhar pareceu se encher de nostalgia e dor. - Eu também tinha boas relações com seu pai, o conheço a mais de 3000 anos. Geralmente nós anjos e os deuses não deveríamos ter essa relação, porém... eu me sentia triste por ambos, tristeza, esse foi o primeiro sentimento que tive conhecimento observando a humanidade. Sua mãe vivia uma vida sufocada e pressionada pela mãe dela, sua avó, Kauê, nunca foi um bom exemplo de mãe. Seu pai sempre foi um deus incompreendido e odiado.  Os dois exalavam uma tristeza densa e profunda. Quando seu pai se apaixonou por ela, eu não me opôs a relação, apesar de eu saber que seria algo temporário... você já deve saber. Deuses não ficam com os mortais mais tempo do que podem e expliquei isso a sua mãe na época, mas ela não se importou. Disse que estava acostumada a relacionamentos distantes e precários por causa da influência e opinião que seus avós tinham sobre ela.  Quando você foi gerado, seu pai e ela ficaram muito felizes, no entanto, de alguma forma misteriosa, um demônio, Azazel, ficou sabendo que Anhangá havia gerado uma vida. Um ato que ele jamais poderia conseguir fazer, mas eu o ajudei nisso. Eu sou um anjo, minha força vem da vida, da luz. Pela amizade com seu pai e o carinho enorme que eu tenho por sua mãe, sacrifiquei um pouquinho de meu poder para permitir que você pudesse ser gerado.

-Serio? Isso quer dizer que eu sou parte anjo?!

Não sei dizer que tipo de expressão que ele fez, mas parece ser de surpresa.

-Não, com certeza não. – respondeu ele com uma careta, como se eu tivesse falado besteira. – Precisei levar sua mãe em lugar seguro para dar a luz, um local protegido de tudo que fosse possível, os únicos que sabiam eram seus avós... que de forma milagrosa resolveram aceitar a gravidez dela com um deus pagão. Então você nasceu, eu o fiz vir ao mundo, com uma pequena ajuda da Cuca. Mas... as coisas não estavam indo bem. Seu pai foi enviado de volta a prisão do submundo quando os deuses e a esposa dele descobriram que ele estava saindo por um curto período de tempo, ele nem teve tempo de ver você. Eu fiquei com sua mãe alguns dias, ela estava apavorada, com medo de muitas coisas, vivia dizendo que algo ruim iria acontecer com você. Eu a tranquilizava da melhor forma possível. Porém, recebi uma mensagem do Conselho celestial, precisava ir ao céu por um tempinho, pedi para Hipacia, a minha antiga capitã vigia-la ate que eu voltasse. Quando estava chegando, senti uma sensação ruim, sua mãe, senti a alma dela enfraquecer... Voltei quase que instantaneamente... ela estava morta no quarto com o pescoço quebrado e você chorando em cima de seu corpo imóvel... Eu não sabia quem havia matado ela, fiquei desesperado, chamei por Hipacia, mas ela não apareceu em lugar nenhum.

-Então... foi essa Hipacia que assassinou minha mãe? – questionei não conseguindo evitar de sentir raiva.

- Não foi ela, Hipacia é uma Serafim, uma classe de anjo superior a mim, ela jamais faria Isso. Algo aconteceu e eu descobri minutos depois quando fui preso ao ser atacado por alguém. Esse ser misterioso usou uma magia que me suprimiu e me impediu de fazer qualquer coisa, nunca havia visto ou sentido algo daquela forma. Quando me dei por mim, estava preso e amarrado por Azazel... um príncipe do inferno de alto escalão. Descobri que ele havia dominado a sua avó e ele também matou sua mãe... durante anos tento descobrir o motivo disso, mas não sei. Tudo que sei é que fui torturado de todas as formas possíveis que um anjo poderia ser, tudo porque ele  insiste em querer saber onde está a alma de sua mãe...

- Como assim? Onde está a alma dela?

-Ela não alcançou o céu, se tivesse, eu saberia... também não foi para o inferno, se tivesse ido, Azazel não ficaria insistindo em querer saber onde ela está.

Meu Deus! Eu estou ficando maluco! Pirando com tudo isso!

-Mas como?! Está querendo me dizer o que?

- Eu não sei, garoto. – Ele se levantou com dificuldade. – Também não entendo, não entendo como a alma dela não pode estar em lugar nenhum e também não sei porque tanto interesse deles nela... já cogitei que talvez fosse para subornar seu pai. Ele a amou muito, mais do que qualquer coisa e você é a prova disso. E sobre você, Kauê...  – Seus olhos cinzentos pareceram cintilar. - Eu não tenho ideia de como foi sua vida todos esses anos com praticamente um demônio te criando, isso jamais foi o que sua mãe ou seu pai queriam pra você. Anhangá estava com medo dos outros deuses, com certeza eles iriam atrás de você para te matar. Sua mãe também estava desesperada, não só de medo dos deuses, mas de seus pais e da vida de um semideus, ela sabia como era... pois eu contei a verdade para ela.  Sendo assim, ela me fez jurar que eu iria tirar sua parte divina para que você pudesse ser um humano comum, para que assim pudesse crescer de forma segura. Eu não podia fazer isso na época, você não tinha direito de escolha. Nós anjos seguimos regras, livre arbítrio é a lei absoluta. Mas agora você tem, eu estou fraco, mas tenho poder pra fazer isso, por favor, Kauê, diga que você quer isso, diga que não quer mais ser um semideus. É a melhor decisão que você pode tomar por sua vida e sua mãe sabia disso, por favor... a vida de um semideus é suicida, nessa altura você já deve saber disso, você é filho de Anhangá, não será feliz com todo esse ódio a sua volta, assim como seu pai não era. Tudo que você acumulara é rancor e eu não quero que você acabe como seu pai.

As palavras dele, elas me impactaram como se fosse um tapa na cara e um soco no estomago... Eu sinto que o que ele esta me dizendo é tudo verdade... eu sei que é, de alguma forma. Todos em Eldorado me tratam mal, todos me desprezam por ser filho de Anhangá... Não preciso ouvir nada, só de olhar pra eles, eu vejo o nojo estampado em seus rostos. Isso me dá uma raiva tremenda... uma raiva que não gostaria de sentir. Me lembro que Caipora disse que meu pai atacou Eldorado por motivos que ninguém sabia, talvez tenha sido por isso... rancor. Minha mãe... desde o início pensando em mim... ela desejava isso, uma vida comum e segura para mim? Isso quer dizer me livrar de tudo isso que está me acontecendo? Eldorado, demônios? Cuca? Tudo?! Meu Deus! Eu quero muito isso! Eu não aguento mais, mas... não foi de todo ruim, conheci Ágata, Yancy e os outros... os outros...

-E minha Avó? E os outros? – questionei.

- Eu vou libertar sua avó, transportarei vocês dois para longe daqui em segurança para que vivam suas vidas. Também levarei seus amigos. – respondeu ele. – Você não precisa passar por toda essa tormenta, Kauê, diga sim, é praticamente por isso que aguentei todos esses anos de tortura, para te encontrar e realizar o ultimo desejo de sua mãe... rápido... Eu cuidarei dos demônios depois, vou queimar está forma que estou agora e liberar minha forma verdadeira, ou o que restou dela e destruir todo este lugar, rápido! Você e os outros não devem estar aqui quando eu fazer isso.

O que fazer?! O que dizer?! Eu quero dizer sim! Eu quero me livrar disso, sair daqui com minha avó, mas por que parece que minha língua está travada?! Sinto como se tivesse perdido a voz?! A minha bolsa... onde estão as armas de meu pai, ela de repente ficou muito mais pesada... 

-Os outros semideuses, eles entraram. – disse ele olhando para cima. – Estão chegando perto da armadilha.

-Que armadilha?! – exclamei.

Josefiel não me respondeu, mas soltou um grito de horror quando uma lança atravessou seu peito, eu fiquei sem reação, mas uma risada nostálgica fez meu coração pular e minhas pernas tremeram, essa risada... É de minha avó.

-Vocês anjos me cansam, por que não ficam tocando arpa nas nuvens como deveriam? – dois olhos vermelhos brilhavam no escuro e passos eram dados. Sinto uma forte pressão vindo dali... Sinto frio... sinto medo...  – Você se libertou sem minha autorização, merece ser punido, não acha? Oh! Olá, Kauê espero realmente que tenha um bom motivo para ter desobedecido sua pobre e amável vovó, quer biscoitos, querido?

Ela saiu do escuro... está do mesmo jeito da última vez que a vi, tirando os olhos vermelhos que brilham ofuscantemente, ela está inteira... por um momento senti vontade de abraçar ela, mas me seguirei...
Josefiel cuspiu um líquido dourado de sua boca e pózinhos de luz começaram a cair de seu ferimento.

-Fique longe dele! – exclamou Josefiel.

Minha avó bateu palmas.

-Finalmente cumprindo seu dever de padrinho, que coisa mais patética. Um anjo, como padrinho hahaha. – riu ela, mas sua voz ficou mais grossa e profunda. – Eu sabia que isso cedo ou tarde iria acontecer, espero que tenha vindo aqui se juntar a mim, netinho.

-Você... – minhas mãos estavam tremendo. – Sai dela! Sai de minha avó! Agora!

Sua face, um sorriso cruel, um olhar de malícia... só de olhar sinto muito pavor.

- Eu sou sua avó, querido. – Ela sorriu. – Eu que te criei por todos esses anos, bom, pelo menos de forma inconsciente. Sabe, filho de Anhangá, a velha coroca não faz a menor ideia do que está acontecendo, tão fácil manipular ela, mas sendo sincero, estou cansado de usar esse saco ossos. Preciso de um hospedeiro jovem, por sorte tem vários candidatos aqui hoje, você trouxe ótimos amigos, principalmente o filho de Tupã.
Ela abriu a boca e mostrou duas línguas... passando elas pelas lábios e se aproximou de Josefiel que agonizava.

- Você é mesmo burro, debilitado como está, achou mesmo que só sair da prisão iria te fortalecer? Por precaução eu lancei um feitiço extra contra anjos em todo o lugar, pena que não posso banir a maldita da Cuca. Aquela desgraçada está me atrapalhando demais, eu achei que me disfarçando como ela e colocando os malditos semideuses atrás dela, ela estaria ocupada demais para me infernizar. – ela bufou e deu de ombros. – Mas fazer o que, ela pode vir se quiser, agora eu tenho um arsenal para me ajudar, os semideuses e você meu querido, Kauê.

- Eu não vou te ajudar em nada! Sai dela! Sai dela agora! – gritei, não sei o que está me acontecendo. Não consigo controlar minha ansiedade, é como se a presença do demônio me atiçasse.

Ela recuou alguns passos, sua expressão e de espanto.

-Interessante, vejo que tiraram Marca de Caim de você, por anos eu suprimi seus poderes para não chamar atenção angelical ou divina. Não faz ideia de quanto trabalho eu tive, moleque. – disse ele. – Mas agora não adianta mais, já nos revelamos, é hora de adiantar o plano. Não irei mais me atrasar me preocupando com a Cuca ou com o Cacique ressuscitado, seja quem for que quer me atrapalhar, logo será devidamente punido e vou começar com vocês dois.

-Senhor Azazel! A Cuca e os semideuses entraram! O que vamos fazer?! – uma voz saiu do escuro, não consegui ver de onde, mas pelo som posso dizer que está no fim de uma passagem.

-Vamos dar um show, solte os cães do inferno pra cima deles. – ela sorriu, sapateando. – Quem sobreviver terá a honra de me enfrentar e presenciar a libertação da nossa suprema senhora. Finalmente, esse é primeiro passo.
Senhora suprema?!

-Não vai conseguir! Kauê! – gritou Josefiel, seus olhos estavam brilhando com uma luz branca.

-Nem pensar! – O demônio pisou na cabeça de Josefiel, amassando sei rosto no chão. – Não irei deixar que você tire os poderes dele, eu preciso deles! Já me basta a descendência de Hades, Hel e Anúbis estarem difíceis de encontrar!

O que fazer?! Atacou? Fujo? Se eu atacar e meus poderes não funcionarem?! E se eu ferir minha avó?... meu Deus! Me ajuda! Me ajuda!

Ela fechou os olhos e pareceu se deliciar com alguma sensação.

- Sinto muita raiva e medo vindo de você, Kauêzinho, isso, sinta mesmo. A raiva é o seu combustível. – ela riu. – Todos esses anos esperei por este momento, fui muito paciente, entrando neste fóssil velho da sua avó, aturando seus choros, aturando aquelas malditas reuniões nas igrejas, sabe como eu queria morrer?! – exclamou ela com uma voz demais grossa.

-Agora entendo por que minha avó ser dessa forma, todo esse tempo foi você. O jeito narcisista, o controle total, as viagens... foi tudo você... Por quê?! Como? Como é possível você não ter sido exorcizado? Como é possível? Você estava na igreja, você participava de tudo! – questionei.

-Não, sua avó participou de tudo. Eu ficava adormecido, protegido por uma magia especial, a mesma que é permite esfregar a cara de um anjo no chão. – disse ele. – Eu quase não ficava no controle, sua avó fez tudo, ela sabia o que você era, ela sabia dos deuses, ela sabia de tudo, ela assassinou sua mãe quando assinou o contrato comigo que eu poderia fazer tudo para impedir o relacionamento dela com seu pai.

- Você mentiu! A cuca me contou, você a enganou! Se disfarçou de anjo! – grifei.

-Cada um luta do seu jeito. O erro foi dela, ela estava tão consumida pela raiva e seu orgulho que a deixou cega. Ela não queria ver a filha namorando alguém que ela não escolheu, ela deixou a fé dela consumi-la, essa é a verdade. Ela estava tão enlouquecida que facilmente acreditou que eu em meu pior disfarce fosse um anjo de Deus. Vocês humanos, macacos pelados de Deus, adoram jogar a culpa em nós os demônios e se esquecem da responsabilidade de vocês.  Acha que gostei disso? Eu só estava cumprindo ordens, a única coisa divertida que fiz foi matar seu avô.

-Me avô... foi você?! – exclamei e o chão ao meu redor começou a rachar.

-Claro, velho maldito, nem na cama ele prestava. E outra coisa, eu posso ler a mente de sua avó, ela detesta ele, o traía com o padeiro da Bahia. Só pra você saber, eu fui até  gentil, os médicos não disseram que ele morreu de ataque cardíaco? Bom, não foi isso, eu o envenenei, fiz uma chá com uma planta que cresce no inferno. Lembra daquela chá fedorento que eu bebia? Então, fiz ele beber, ele só sofreu 10 minutos com muitas dores, nada demais.

-CALA A BOCA! – uma raiva e uma coragem imensa fizeram meu corpo reagir e avancei pra cima dela, em minhas mãos haviam bolas de fogo. Eu nem sei como fiz isso, só sei que vou mata-lo!

- Nada disso, netinho. – ela levantou a mão e uma pressão enorme me lançou para trás, me prendendo no ar... o que é isso?!! Meu corpo! Ele não se mexe! Meu pulmão parece que está sendo esmagado! – Olha, admito, me assustou, por um momento nem sinal de Wi-Fi atravessava minhas calçolas. Mas chega de brincadeiras, querendo ou não, eu preciso de você vivo, então quietinho aí enquanto resolvo uma coisa com seu padrinho... a Cuca esta se aproximando, a lagartixa matou todos meus totós do inferno, desgraçada, vou enviar a conta de veterinário para ela pagar. Ela só me trouxe problemas, por causa dela aquele maldito semideus filho da deusa da magia encontrou meu esconderijo... fui forçado a reforçar a segurança controlando todos os Gorjalas e bestas feras possíveis. Eu devia ter... Ahh!! O que é isso?!

Ouvi múrmuros, Josefiel começou a emitir uma luz branca um tanto fraca. O pé de minha avó que estava em sua cabeça começou a queimar!

-Feche os olhos Kauê! – gritou ele. O que... O que ele vai fazer?!

- Não! Não vai! – O demônio pega em suas asas a custo de muita dor, ele as torce arrancando um grito de Josefiel.

– Não, isso ainda é pouco!

Em uma cena horrível, Azazel arranca as asas de Josefiel e o mais assombroso disso é ver o rosto de minha avó repleto de satisfação e prazer com o ato... O sangue dourado de Josefiel escorria enquanto ele gritava e minha avó levou sua mão até o ferimento, pegou o sangue e o lambeu com suas duas línguas, olhando para mim com um olhar sarcástico e cruel...















Livro 1: Kauê e os filhos da Amazônia - O Herdeiro Do SubmundoOnde histórias criam vida. Descubra agora