Capitulo 29 - Estou livre para talvez... morrer mais tarde

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Estou aqui sentado a uns 15 minutos, tentando colocar os pensamentos em ordem ou melhor, desafogar a minha mente. As coisas que a Cuca me revelou... será que são verdades? Sim, agora eu sei que ela talvez não tenha feito nada para minha avó e que aquela voz que ouvi na mensagem realmente era ela... não consigo entender como isso pode estar acontecendo. Ela está possuída? Sendo manipulada? Mas como? E todos os encontros de exorcismo que fomos, ela sempre estava lá. Se tivesse alguma coisa de ruim nela , tenho certeza que o poder de Deus haveria de liberta-lo, não faz sentido. Não faz o menor sentido, porém... faz sentido algumas coisas, o comportamento sinistro dela, o olhar flamejante que as vezes eu tinha impressão de ver e o que eu sentia... sentia algo ruim, como se meu estômago revirasse, diversas vezes. O que eu faço? Eu não sei, como posso ajudar ela? Talvez eu devesse ter escutado a Cuca... sei lá. Mas meu pai, ele queria que eu tirasse os objetos dela, não que eu sinta algum amor por ele e quis fazer o que ele ordenou, mas por sentir que estas armas que estão na minha frente agora, não poderiam ficar com ela.
Yancy e Victor estavam sendo cuidados por Ágata e Rafaela, eles estavam mal. Usaram muita energia. Para nos tirar da caverna e nos trazer até aqui novamente, Yancy quase desmaiou, seu nariz começou a sangrar novamente de tanto esforço que ele fez, não é para menos. Aquela parede estava absorvendo a energia deles, por sorte, não estou tão mal. Afinal, não fiz muita coisa. Meu problema é mais mental do que físico, Taina retirou os cacos que ficaram presos em meu corpo e Rafaela passou uma pasta feita com plantas e enfaixou minhas costas e peito, ela disse que logo eu estaria novinho em folha. Depois da ajuda delas, decidi ficar afastado de todos em um canto, embaixo de uma sombra de árvore para pensar. E é claro, sendo vigiado por dois da legião que estão apostos a alguns metros. Fiquei sabendo que Bárbara me acusou do ataque de Bestas Feras ser uma ilusão, já que ilusão também deve fazer parte de minhas habilidades, me pergunto se por isso consegui perceber que eles eram falsos antes dos outros. Barbara falou que eu estou agindo em complô com a Cuca e que esse meu "sequestro" foi pura coincidência, afinal, sou o principal suspeito do roubo da espada Celestial, então desapareço alguns instantes e logo apareço junto de Yancy com ela em suas costas, por sorte, somente a espada eles viram que trouxemos com a gente. Yancy mais uma vez salvou minha vida, ele nos levou diretamente onde estava Ágata e pediu com seu último suspiro para que ela lançasse um feitiço de camuflagem nas coisas que estavam comigo, o feitiço parece ter dado certo, pois ninguém pareceu notar que tinha um Cajado do meu tamanho em minhas mãos, com um livro assustador e um baú mais feio ainda. Ágata excitou no início, ela disse que essas armas tem uma energia sufocante e sombria, mas atendeu o pedido de Yancy para meu alívio. Os papagaios de Yancy e Barbara ainda não tinham chegado, pelo jeito o Conselho deve estar "sofrendo" para saber o que irão fazer comigo ou estão demorando para pensar na forma mais dolorosa de me matar, mas não irei permitir. Seja qual for a decisão, eu não irei deixar nada acontecer comigo até salvar minha avó. Não posso deixar as coisas como estão, se ninguém quer acreditar em mim, ótimo, eu acredito em mim.
Suspirei fundo e peguei o pequeno baú, ela é preta e apesar de ter uma cabeça de caveira como fechadura, ela tem um certo charme. Será que tem alguma chave em algum lugar? A cuca disse que ela é usada para selar coisa aqui dentro, também disse que demônios só podem ser selados... E se eu de alguma forma conseguir usá-la? Mas como? Será que no livro tem algum guia explicando? Eu o peguei, só de toca-lo, sinto um entoam desejo de abri-lo, como se me chamasse. Sua capa dura é lisa e macia, o cadeado está enferrujado e parecem ter alguma coisa escrita nele, que símbolos estranhos, não sei se são letras, mas de alguma forma, consigo entender claramente o que está escrito:

[

"Abra"
Será que e isso mesmo? Não sei como sei disso, mas sinto que é. A Cuca disse que este livro foi escrito por meu pai, com uma caligrafia que só ele entendia, de acordo com aquela jacaroa, eu também posso ler por ser filho dele, mas não sei... Estou um tanto receoso com isso... Ágata disse que sente uma energia maligna vinda dele. Bosta!
- Como estão suas costas? - perguntou a voz de John. Estava tão concentrado que nem prestei atenção que ele estava chegando. - Pela sua cara, elas ainda devem estar doendo muito. Ou seu problema é a decisão de abrir ou não este livro?
-Não, eu estou bem. - suspirei. - Mais ou menos, me sinto um tanto confuso.
-Confuso? Imagino, Victor está delirando enquanto dorme. Ele está dizendo algo sobre Sugar Mammy, fígado, Urubu, nada com nada. - Ele riu.
Eu sorri, um sorriso mínimo.
- Como não gosto de rodeios, vim perguntar o que você pretende fazer. - disse ele. - Sobre as armas de seu Pai, Yancy nos falou um pouco em particular. Sorte que ele agiu rápido e pediu para Ágata esconde-las antes que os outros a vissem. Se me permite te aconselhar, eu quero que você aprenda a usar seus poderes.
Eu olhei um tanto surpreso para ele.
-Por quê? Não tem medo que alguma coisa ruim aconteça? - questionei. Eu tenho esse medo, não nego.
-Ora, garoto, é um desperdício de habilidade. - respondeu fazendo uma careta, como se fosse algo óbvio. - Não gosto disso, se você tem um dom, o use, não importa o que os outros vão pensar. É a mesma coisa de mandar um médico não exercer a profissão ou um professor. As pessoas nascem com esses dons, elas nasceram pra cumprir tais funções. Nem me imagino sem meus poderes.
-Belas palavras, mas é diferente, você não é visto como filho do Diabo. - respondi.
-Todo mundo tem problemas, Kauê, não foi fácil minha chegada a Eldorado também. - Ele pegou uma pedra no chão e lançou. - Conviver com pessoas é difícil, ideias diferentes, faz parte. Você acha que eu não queria surtar igual a "Carminha" daquela novela Avenida Brasil, pegar minha foice e cortar diversas cabeças? Não nego que me daria um alívio enorme, mas esse caminho é errado, os valores morais e a nossa estúpida ética humana nos obriga a seguir outro caminho, infelizmente somos obrigados a seguir o caminho correto, que não inclui cortar a língua de quem nos inferniza, apesar de ser tentador, não acha?
Ri um pouco, essa foi boa.
- Eu sei que temos um discurso maravilhoso de família, povo, todos somos um e mímimi, mas na prática não é assim. Claro, o Pajécique e o Curupira tentam, mas não dá. Sempre haverá conflito. Por isso não quero que você desista de seus dons, treine, lute, se fortaleça, faça como muitos fizeram. Você tem tanto direito quanto qualquer um por aqui. - respondeu ele. - Faça por você. Acredite, você deve lutar por si mesmo, nenhum deus fará isso por você.
-Vou pensar nisso. - respondi. - Poxa, quem te disse palavras são aconselhadora?
- Minha outra mãe. - respondeu ele. -
- Não sei o que vamos enfrentar quando chegarmos lá. - disse ele. - Afinal nossa missão não acabou, Bruno precisa da gente.
- Como vamos até lá? - perguntei. - A van já era.
-A van é apenas o meio de transporte mais utilizado, infelizmente o feitiço de reconstrução de matéria ainda é muito avançado para Ágata executar ou para qualquer um dos irmãos dela. Teletransporte como o meu ou de Yancy não vai dar certo, já tentei, mas tem algo bloqueando a passagem. Algum tipo de barreira, mesmo que eu pudesse ir, ainda não aguento levar tanta gente comigo. - Ele suspirou. - Está vendo, eu ainda preciso praticar mais e mais, ninguém é perfeito. Só sobrou a opção do feitiço de Pássaro transportador.
-Pássaro transportador? - questionei.
-É um feitiço que faz nossos papagaios ficarem enormes, tão grandes que podem aguentar duas pessoas adultas em suas costas, nós não usamos muito ele por causa de seu tempo limitado e também por não querermos machucar nossos bichinhos amados. Ágata consegue executar ele, mas só dura 30 minutos. Espero que seja o suficiente.
-Estamos muito longe ainda? - perguntei.
- Não, estamos perto. Estamos quase na fronteira com Espírito Santo, se formos rápido e acima das nuvens para não sermos vistos, acho que iremos conseguir, fora que só 5 de nós iremos precisar dos papagaios, Yancy e Tainá podem voar livremente, aqueles fodidos sortudos. - resmungou ele.
- Muito bem. - respondi.
-Agora, guarde elas aqui. - John pegou a mochila que ele carregava. - Coloque suas coisas aqui, vai ser difícil você voar em cima do seu papagaio carregando essas coisas.
Voar em cima do meu papagaio?! Eu devo ter dado a maçã pra Eva no paraíso meu Deus pra ter que me ferrar tanto assim!
Guardei o livro e o baú, ainda acho maravilho essas habilidades da Ágata. Da pra aguarda tudo aqui dentro! Até parece a bolsa da minha avó, pode se achar ate um fóssil de dinossauro lá dentro.
- Só falta ele, eu pego. - disse John.
Ele tentou pegar o Cajado, mas sua mão atravessou por ele como se não existisse volume no objeto. Ele sorriu como se tivesse gostado disso.
- Esse tipo de defesa é excelente, sempre soube que seu pai era um mestre da magia engenhoso. - disse ele se sentando ao meu lado. - Se for o que estou pensando, se uma pessoa afeiçoada pelo seu pai ou você tentar tocar na arma, simplesmente não conseguirá, como tentei, agora se é uma pessoa ou ser que seu pai não aprove tentar tocar nessas armas, elas vão ferir a pessoa só ao toque, agora se o ser teimoso insistir, sua alma será queimada totalmente.
Ele falou isso de uma forma tão animada.
- Você parece gostar. - admiti.
-Claro! Quem dera pudesse fazer esse feitiço, dessa forma os filhos da minha madrasta parariam de mexer nas minhas coisas sem permissão, odeio criança intrometida, na verdade, eu não gosto de crianças. - bufou ele dando de ombros.
-Se não gosta de crianças, deveria chamar a super Nanny pra resolver o problema. - sorri, eu detestava os programas daquela mulher. Não por causa dela, mas por causa daqueles pais que não faziam nada para assumirem o controle dos filhos.
-Super Nanny a merda, o negócio é chamar a Rochelle de Todo mundo odeia o Chris ou o Anakin Skywalker de Star Wars, quero ver meus irmãos soltarem um peido de quer perto deles. - Ele riu.
-John, isso é crueldade demais. - afirmei.
-Crueldade demais? Me poupe. - respondeu ele. - Eles vivem dizendo meu nome errado só pra me irritarem.
-Errado? Como? Seu nome é tão fácil. - disse eu. - John.
Ele fez uma careta.
-John é como mandei me chamarem em Eldorado, meu nome é João Victor, mas você faz ideia de quantas Joãos tem naquele lugar? Tem milhares, em pelo menos uma Oca tem um ou dois João e isso sempre acaba ficando confuso. Antigamente eles diziam: João da Agricultura, João do Sol, João da Lua e eu era o João da Morte, mas aí chegou outro irmão meu também chamado João, vou te contar o brasileiro não tem imaginação para nomes. Então decidi que me chamassem de John, fui criticado, claro, mas não ligo nenhum pouco para o que dizem ou pensam. - respondeu ele. - Deveria fazer o mesmo.
Coloco o Cajado dentro da bolsa e coloco a alça em meu ombro. Não me importar com o que dizem? Eu posso me fazer de durão quantas vezes forem necessárias, mas sempre no fundo essa situação irá me incomodar.
Segui John até ficarmos juntos dos outros. Tainá estava de pé com um garoto negro, com certeza da legião. Eles olhavam nossos papagaios que estavam em círculo, comendo sementes de girassol, inclusive o meu. Ágata estava sentada junto de Rafaela em frente a uma pequena panela que fervia um líquido verde e fedido, ela depositava algumas plantas de vez e quando e dizia algumas palavras em voz baixa. Victor estava deitado no chão, bem esticado e parecia admirar o céu, sua pele não está mais tão pálida e ele voltou a usar sua amada blusa de frio Yancy estava sentado no chão com pernas dobradas e com os punhos curvados, encostados. A espada Celestial estava ao seu lado. Ele parece estar melhor, mas o que diabos ele tá fazendo?
-Novato, estamos vivos! - disse Victor ao ver John e eu chegar. - Relaxe, já contei pra todo mundo o que aconteceu, confirme pra eles o modo como salvei a gente congelando aquele Urubu gigante de maldito!
-Victor, chega, você não para de falar disso deste quando acordou. Já entendemos. - Ágata revirou os olhos. - Vocês tem sorte de estarem vivos, isso sim, poucos sobrevivem a Cuca dessa forma como vocês fizeram. Quase nenhum sobrevive.
-É, tivemos sorte... - respondeu Victor se engasgando, acho que ele não contou tudo. Para mim, só sobrevivemos porque a Cuca não queria me matar, pelo menos não Yancy e eu. Ela deixou isso bem claro... Se fossem em outras circunstâncias, talvez tivesse sido diferente e realmente não estaríamos vivos. - O importante é que recuperamos a espada, isso quer dizer que o Kauê está livre para prosseguimos viagem.
- Não exatamente, temos que esperar o Veredicto do Pajécique. - bufou Ágata. - Mas temos que nos apressar, o papagaio de Bruno sente que ele ainda está vivo, mas... é melhor irmos logo. Não sei o que vamos enfrentar lá, então, procurem descansar bastante.
- Como posso descansar sentido esse cheiro de chulé molhado? - questionou Victor olhando com uma cara de enjoou para a mistura de Ágata.
-Victor, quieto! - resmungou ela. - O cheiro pode ser ruim, mas estou fazendo o impossível para o gosto ser bom. Essa poção é nosso novo transporte, uma poção de crescimento. Fará nossos papagaios serem do tamanho de um carro e poderão nos levar até a floresta sem problemas, claro, desde que o limite da magia permita.
- Não me lembro de usarmos isso antes. - disse ele.
- Não era necessário, temos vans voadoras e alguns de meus irmãos podem abrir portais dimensionais em todo o Brasil. - respondeu ela.
Como o Robert fez?
-E você não pode? - questionou ele.
- Não, é uma magia avança demais pra mim. - respondeu ela. - E não é só esse o problema, sinto que tem uma barreira invisível em todo o local desde que estramos aqui no Sudeste, mas ela está mais forte no Espírito Santo, nem meus irmãos mais experientes da legião conseguem abrir portais para ir até lá. - foi a Cuca, com certeza para impedir os demônios e minha avó... de fugirem. - isso deixou a Barbara puta da vida, mas não nego que gostei disso.
Ágata deu um sorriso travesso.
Me aproximei da panela dela, realmente o cheiro é pior que dá caverna da Cuca.
- Como você fará eles beberem isso? - perguntei, olhando para os papagaios.
-Deixa comigo. - disse ela sorrindo, mas logo seu rosto tomou uma expressão séria e fixa para mim. - E Kauê, sobre aquele assunto? O que pretende fazer?
Todos ao meu redor olharam automaticamente para mim, eles estão com medo das armas. Eles podem não dizer, mas sinto que a repulsa deles. Eu apertei a alça da mochila, eu não sei o que pretendo fazer, mas de algo eu sei, ser for necessário usar elas para ajudar minha avó, eu o farei.
-Podemos falar disso depois, por favor? - perguntei olhando para o garoto negro da legião que me encarava também. Ele tem minha altura, em outras palavras, baixo. Ao contrário de muitos da legião, ele usa uma camiseta regata, expondo sua marca de sol, só pode ser filho de Guaraci, seu rosto está pintado com cores vermelhas e pretas, em formato de faixas.
Ele se aproximou de mim e levantou as mãos, fazendo sinais com as mesmas. Ele está falando em Libras, eu entendo. A igreja que eu frequentava em uma cidade da Bahia, ensinava linguagem de sinais de forma gratuita para todos que quisessem aprender. No começo eu fui nas aulas como desculpa de sair um pouco do aperto sufocante de minha avó e eu também gostava das pessoas daquela igreja, não tinha motivo para minha avó reclamar. E foi até bom, fiz as aulas todos os dias, durante meses e aprendi muita coisa.
O garoto esta me dizendo que ele não tem medo de mim e que me acha demais por conseguir deixar o Raoni de cabeça quente 24 horas por dia. Por essa eu não esperava.
Me permiti sorrir e respondi para ele também em linhagem de sinais, ainda bem que não estou enferrujado. Respondi um obrigado e também disse de nada, eu acho.
-Você sabe libras? - questionou Victor.
-Sei. - respondi me sentindo satisfeito comigo mesmo. - Faz um tempo que aprendi, mas não esqueci.
- Eu ainda preciso aprender. - bufou ele.
-Tem aula de libras na escola de Eldorado, Victor. Você está lá a anos e nunca aprendeu porque não quis. - disse Tainá.
- Não tive tempo. - resmungou ele.
- Não teve tempo? - questionou John fazendo uma careta. - Você fica quase o dia todo na sua Oca assistindo na bola de cristal.
- Eu precisava por minhas séries em dia. - Ele deu de ombros. - Já vai lançar última temporada de Game of Thrones, e o único momento que tenho paz para assistir é quando meus irmãos não estão lá comigo.
O garoto mudo pegou um saco vazio que estava ao lado dos papagaios e se despediu de nós, voltando para junto da sua legião. Dei uma olhada para onde eles estavam, Barbara estava com o olhar fixo em nós. Ela parece ansiosa por alguma coisa.
- Eu também gosto de Game of Thrones. - respondeu Ágata. - Mas você precisa dar um exemplo.
Será que só eu nunca assisti essa série na vida?
- Que tipo de exemplo? - questionou ele.
- Você é o líder da sua Oca este ano. - disse Ágata, mexendo sua mistura fedida. - Precisa dar seu melhor e representar seus irmãos.
- Eu nem queria ser líder pra começo de conversa. - retrucou ele.
-As regras são claras, todo mundo na Oca será líder pelo menos uma vez a cada ano, assim todo mundo aprende a ter responsabilidade e uma mente focada em trabalho de equipe. - respondeu Tainá. - Mesmo a escolha sendo contra gosto de nossos irmãos e irmãs.
-Nem me fala, quero tanto que este ano acabe para eu me livrar disso. - resmungou Ágata. - Eu ainda não sei quem pegou o livro nossa mãe nos deu e quando eu descobrir, cabeças vão rolar naquele lugar. Eles vão conhecer meu lado ruim, não é atoa que na escola me colocaram o apelido de Filha de Nazaré Tedesco com Carminha e sobrinha-neta de Thanos.
Tainá, John e Victor riram, até mesmo Rafaela que estava calada até então. Também me permiti rir um pouco. Ágata, eu simplesmente te amo.
-Porra! - exclamou Ágata queimando a mão enquanto se distraia olhando pra gente.
-A boca, Ágata. - disse Yancy saindo de sua posição e pegando a espada. Ele se levantou e voo para um pouco distante de nós. O que ele vai fazer?
-Desculpa, senhor certinho! - gritou Ágata. - Bom, está pronto.
Ágata pegou o conteúdo da panela e despejou em cima dos girassóis que eles comiam.
-Ei! - exclamou o meu papagaio. - Quem mandou essa louca estragar a nossa comida?!
-Vocês precisam comer isso. - pediu Tainá. - É a única de nós ajudarem.
-Ajudar mais ainda? - exclamou Rajada. - Eu preciso e de férias.
-O que isso faz? - perguntou o papagaio de John.
-Vai fazer vocês crescerem um pouco para que possam nos carregar um tempinho. - respondeu Victor. - Vai ser rápido.
-Carregar vocês? É nós temos cara de mula por acaso? - exclamou o meu. - E além do mais isso aqui tem cheiro de peido do Purê.
- Como é?! - exclamei. Aí Como detesto essa ave!
-Se comerem, eu juro que depois darei aquela ração especial. - sorriu Tainá. - Por favor.
Todos disseram oh! E começaram a comer, menos o meu.
-E que ração seria essa? - questionou ele.
- Você vai amar, a melhor do mundo. - afirmou Tainá.
-Tudo bem então, eu como, cresço e carrego o chefe aí, mas depois vou querer uma bacia enorme dessa ração especial. - respondeu ele metendo a cara naqueles girassóis.
- Que ração especial? - questionou Victor levantando sobrancelha.
Tainá pisou em seu pé. É, deu pra ver essa ração especial não existe e depois eu terei que suportar o surto do meu papagaio... aí meu Deus!
- Não é necessário isso, podemos ir em intervalos. Yancy pode voar e Tainá também. Yancy pode levar Rafaela no colo e Tainá pode fazer o mesmo comigo. - Rafaela engasgou com alguma coisa e começou a tossir. Victor lançou um sorriso atrevido para Tainá.
-Hahaha, nem nos seus maiores sonhos. - respondeu Tainá - Não temos tempo pra isso, ou vamos todos juntos, ou não dá.
-Rafael! Rafael! - seu papagaio branco chegou voando e foi até ele. Yancy desceu com ele nos ombros. - Não faça isso! Já temos uma resposta!
Ele sussurrou alguma coisa no ouvido de Yancy que não pudemos ouvir. A face de Yancy não parecia ter qualquer expressão.
-Entendi. - disse Yancy. - Então será feito de outro jeito.
-Yancy! - ouvimos Barbara gritar. Ela vinha com um papel em mãos e com papagaio em seu ombro. - Está vendo isso?!
-Bom, o som é de um papel e pelo que posso sentir você está segurando ele como se o odiasse. - respondeu ele. - Mas acho que você quer dizer algo sobre o que está escrito nele.
Barbara estava furiosa, da pra saber disso, porque a grama abaixo de seus pés está murchando por causa de seus poderes.
- Como isso é possível? - questionou ela. - Como o Pajécique pode não aplicar nenhuma punição a aquele verme?! - Ela apontou para mim. - O que Eldorado está se tornando?! Ele roubou a espada! Fugiu! Deveria ser morto imediatamente!
-Nosso senhor Cacique já sabe que a espada está conosco. - respondeu Yancy.
- Como?! Ninguém informou! E como você sabe disso?! - exclamou ela.
-Por favor, poderia ler a mensagem? - questionou Yancy. - Estou em uma missão de resgate e perdendo tempo precioso.
Barbara esticou o papel com raiva como se quisesse rasga-lo e começou a ler.
- Como pode?! Como ele pode vir com uma resposta dessas?! " Estimada líder da legião sudeste, eu, o Pajécique lhe informo agora. Não sei se o garoto é inocente ou culpado, sei que ele fugiu, sei que ele cometeu crimes, mas o roubo da espada não é culpa dele, o culpado já foi localizado e estamos tomando a providências, eu recebi uma visão dos anjos, lorde Arcanjo Gabriel disse que o filho de Anhangá tem trabalho a fazer e os deuses concordam que pelo menos neste momento, ele não precisa ser punido. É de meu conhecimento que para uma missão ter sucesso é necessário apenas 6, essa é a regra sagrada, mas desta e apenas desta vez, eu permito 7 membros. Barbara, que a luz dos deuses estejam com vocés." - Ele está seguindo as orientações dos Anjos?! Isso é traição! Da pra ver que ele está favorecendo esse irresponsável enquanto o resto de nós quando faz uma coisinha mínima errada é punida!
Os anjos e os deuses querem que eu siga em frente?!
-Punidos? Nós somos advertidos, não exagera. - respondeu John cruzando os braços e olhando com desdém para ela. - Você só e punida por agir como uma louca como agora, roubar, se expor ao mundo humano, entre outras coisas.
- Meu irmão age de forma a vontade dos deuses, não esqueça que antes de ser Cacique, ele é um Pajé. Um estimado Pajé. - respondeu Yancy. - Ninguém além da verdade pode induzir seu julgamento. Ele foi bem claro que por agora o Kauê não será punido, mas pode ser mais tarde. Ele cometeu um erro, sim, eu não estou negando isso, mas temos uma coisa pra fazer. Somente a realização desta missão pode esclarecer tudo Barbara.
Ele virou o rosto para me encarar.
-E provar a inocência dele. - terminou ele.
Barbara se virou furiosa e rasgou o papel.
-Faça o que quiser Yancy, a responsabilidade será sua. Raoni tem razão, as coisas precisam mudar em Eldorado e só irão mudar quando acabarmos com algumas leis que só beneficiam os errados. - cuspiu ela. - E acredite, esse momento está chegando, nos de a espada. Eu mesmo irei levá-la de volta.
- Não, João irá levar. - respondeu Yancy e João que estava parado ao lado do garoto mudo ficou azul.
- EU?! - exclamou ele apontando para si mesmo.
- Não só você, mas um filho da deusa magia também, sei que Eduardo está aqui e ele pode abrir portais dimensionais até Eldorado. Eu mesmo teleportaria a espada para meu irmão os raios, mas sinto que não devo fazer isso. - respondeu ele. - Eduardo, poderia?...
-Claro. - respondeu um rapaz indígena bem alto. - Sem problemas.
Não... Não deve. De acordo com a Cuca o antigo Cacique, Shijima quer a espada e usou o furacão para nos derrubar e levá-la. Ele é filho de Tupã, o mais forte de acordo com todo mundo. Não sei se é possível, mas acho que ele poderia pegar a espada dessa forma, não precisa pensar muito pra chegar a essa conclusão.
-Agora vai querer mandar na minha legião?! - Barbara semicerrou os punhos.
-Mandar não, apenas pedindo um favor, João, por favor. - pediu ele.
Yancy pegou a espada e a cravou no chão. João foi para perto dele.
- Ela é pesada para quem não é meu irmão, então será mais fácil pra você assim. - disse Yancy.
João assentiu e deu uma longa encarada em Rafaela... que virou o rosto. Eduardo chegou perto e fez um aceno para Ágata como a cabeça. Ele abriu um portal igualzinho ao que Robert fez e ambos desapareceram com a espada.
- Vamos voltar e cumprir nossas funções! - exclamou Barbara para sua legião. - Isso ainda não acabou, Yancy.
Ela saiu andando, pisando alto.
-Acredite, eu sei. - respondeu ele se virando para nós. - Vamos, gente.
-Rafael, por que todos estão grandes assim e eu desse tamanho? - perguntou o papagaio de Yancy e me virei para trás, havia até esquecido que os papagaios estavam comendo aquela coisa que Ágata fez. O meu papagaio está enorme! Do mesmo tamanho de George! Os únicos que não ficaram grandes foi do Yancy, da Tainá e o de Bruno.
- Você não precisa, eu posso voar. - Yancy fez um carinho em sua cabeça. - Mas se quer fazer isso, pode comer é ficar grande também.
Nem precisou falar duas vezes, o papagaio dele praticamente mergulhou na mistura de Ágata.
-Purê! Me sinto tão forte! Tão incrível! - disse o meu.
Todos já haviam montado nos seus, só faltava eu.
- Não puxe minhas penas ou te jogo para baixo. - respondeu o meu da forma mais gentil possível.
Eu subi, realmente, e uma sensação estranha. Serão só 30 minutos, mas serão os mais enjoativos de todos.
-Me sigam! Estamos perto! - disse o papagaio de Bruno levantando voo e indo na frente.
-Vamos. - disse Yancy levantando voo e nós o seguimos para o alto dos céus, acima das nuvens. Não sei o que os anjos e os deuses esperam que eu faça... mas espero poder fazer algo certo, para váriar.

Livro 1: Kauê e os filhos da Amazônia - O Herdeiro Do SubmundoOnde histórias criam vida. Descubra agora