Desta vez o tempo esta nublado, ainda bem que não esta aquele sol ardido de quando voei em cima de George. Até que meu papagaio voa bem, ele só balança algumas vezes e finalmente parou de reclamar que eu sou pesado e que irei acabar com as costas dele. Ave dramática, meu Deus do céu! Nós voávamos acima das nuvens, bem alto para que ninguém pudesse nos ver. Entramos no Estado do Espírito Santo e estamos sobrevoando bem perto da Floresta Nacional do Rio Preto, onde Bruno está, pelo menos de acordo com seu papagaio, já visitei esse lugar antes quando tinha 10 anos com minha escola. Minha avó e eu viemos morar aqui em Conceição da barra por dois meses, me arrisco a dizer que foram os dois meses mais divertidos para mim. Quanto mais nos aproximamos, mais sinto uma sensação estranha, como se precisasse ir ao banheiro desesperadamente, mas sei que não é isso, pois acabei de ir. Eu estava com a bexiga explodindo de tão apertado, pedi para descer e fazer xixi. Meu papagaio nos desceu entre as árvores e ficamos ali por alguns segundos, nem sei descrever o alivio que senti. Uma sensação bem diferente do que estou sentindo agora... só espero que seja minha ansiedade me atacando mais uma vez.
-A barreira protetora está mais forte mais adiante, com certeza é onde ele esta. – disse Ágata com os olhos fechados.
- Sim, é ali mesmo. – respondeu o papagaio de Bruno. – Ele está vivo, eu sinto.
-Devemos ter cuidado, pode ser uma armadilha. – sugeriu Rafaela com o semblante preocupado. – Tem algo de errado com por aqui, não sei... espero estar enganada.
-Também sinto alguma coisa. – disse Yancy ao longe. – Fiquem em alerta.
Então não sou apenas eu que está com a intuição apurada por aqui.
-Kauê. – Taina se aproximou, voando livremente. – Precisamos conversar.
-Sobre? – perguntei.
-Seja sincero, quem te deu a mochila? Quem te deu a mochila, com certeza pegou a espada. Quem foi? – questionou ela e Ágata, John e Victor que voavam em cima de seus papagaios olhavam em nossa direção.
-Fale, Kauê, queremos te ajudar. Quem fez Isso só quis te prejudicar mais do que você já estava prejudicado. Você poderia ser morto, essa é a lei e ela ainda não foi ignorada totalmente. – John me lembrou.
Eu poderia e queria dizer, foi o oxigenado do Robert, mas não sei se devo... não sei nem se eles acreditariam em mim. Robert me deu a mochila, sim, ele só queria me ajudar, talvez alguém tenha colocado a espada lá, mas sinto que não preciso ter dúvidas. Na carta, o Pajécique disse que já encontraram o suspeito, isso quer dizer que Robert foi descoberto, não adianta esconder a verdade, mesmo que não acreditem em mim. Eu irei falar, eles têm o direito de saber. Só não sei como Ágata irá reagir, com certeza não irá acreditar em mim.
-Foi o... ah! O que foi?! – exclamei, pois meu papagaio começou a se mexer de forma desequilibrada.
- Está coçando! – exclamou ele se contorcendo. E não apenas ele, os papagaios de Victor, Rafaela, John e de Ágata também.
Eles se debateram de forma tão brusca que acabaram derrubando seus donos, Tainá voo depressa e conseguiu segurar John e Victor. Yancy segurou Ágata e Rafaela.
O meu continuou a se debater como se fosse touro bravo!
-O que está havendo com eles?! – rosnou Victor. - Que coceira é essa que da em todos de uma vez...
-Cuidado! – berrou Rafaela para Tainá, Victor e Ágata, pois o papagaio de Victor investiu pra cima deles com suas garras.
-Nevasca! O que está fazendo?! – exclamou Victor.
Rajada fez um som com seu bico, parecia um falcão. Ele batia suas asas, com tanta força que posso até escutar o forte vento que ele está produzindo.
- Yancy! Assopre comigo! – gritou Tainá.
Tainá e Yancy encheram o peito e assopraram em direção ao Rajada, o choque de seus ataques foram tão forte que todos ao redor foram jogados pelos lados, inclusive eu!
-Calma! Tufão! – exclamei, puxando um pouco as penas dele! Nem sei de onde saiu esse nome. Minhas palavras foram vão, pois ele soltou um som ardido de seu bico parando de se debater e começou a investir para baixo!
-KAUÊ! – gritaram Yancy e Tainá.
-Para! Para! – berrei vendo que estávamos bem próximos das árvores. Ele ia se chocar totalmente contra elas, qual será o problema dele?! Em desespero resolvi me soltar dele, se eu tiver um pouco de sorte, talvez eu consiga amortecer a queda caindo nas folhas e galhos. Quais as chances de eu não morrer?! ZERO!
Meu coração está batendo tão rápido que posso sentir ele pulsar desesperadamente tentando sair pelo meu peito. A Cuca disse que posso voar! Agora seria uma boa hora pra esse poder se manifestar! Eu olhei pra cima, Yancy e Tainá tentavam vir em minha direção, mas eles estavam sendo atacados pelos outros.
-Filho de Anhangá! – gritou meu papagaio dando uma volta e investindo em minha direção, sua voz... Ela está grossa e áspera... Ele parou em minha frente, ficando cara a cara comigo enquanto descemos para baixo. Seus olhos... eles parecem diferentes com um tipo de e brilho dourado, por um momento senti minha visão ficar em branco e embasada, esse é o meu fim... mas logo sinto meu corpo se chocar em algo macio, minha visão aos poucos foi voltando ao normal e vi que estava mais uma vez em cima de meu papagaio.
-Preciso descer! – exclamou ele, sua voz voltou ao normal. Ele desceu para o chão junto comigo e os outros nos seguiram, o pouso foi um tanto arisco, ele voltou ao seu tamanho normal no último segundo e eu dei de cana no chão.
-Kauê! – Tainá pousou com Victor e John e ela correu até mim. – Está tudo bem?
Não...
- Sim, eu acho. – respondi me levantando, meu papagaio estava de pé no chão. Ele andava de um lado para o outro, parecia totalmente perdido. Ele ia desmaiar, mas me apressei colocando minha mão por baixo e o segurei. – Ei, o que houve?
-Calma, Kauê, me deixe ver. – pediu Tainá, me tranquilizando e pegando meu papagaio em suas mãos.
Yancy chegou com Rafaela e Ágata. Seus papagaios haviam voltado ao tamanho normal, como o meu. Eles estavam em seus braços.
-Nevasca, fala comigo?! O que aconteceu?! – exclamou Victor tentando acordar seu papagaio totalmente branco. – Por que nos atacou daquele jeito?
-Brisa, por favor, me responda... – Rafaela passava a mão seu papagaio verde. – Qual o problema? Nunca vi ela tão agressiva dessa forma. Tainá, ela vai ficar bem?
-Rafael, estou com medo. – disse o papagaio de Yancy em seu ombro. Ele e o de Tainá foram os únicos que não tiveram esse comportamento estranho.
- Não precisa ter. – Yancy fez um carinho em sua cabeça com a ponta do dedo indicador. – Eles estão bem, sinto o coração bater e a respiração está normal, mas tem algo a mais... não sei dizer o que.
Algo a mais? Tipo o que?!
Tainá pegou algumas ferramentas dentro da pequena bolsa que carrega consigo e começou a examina-lo.
-Ágata, não foi seu feitiço que deixou eles assim? – questionou John fazendo um carinho no seu. – Me lembro que você disse que poderia ter efeitos colaterais.
- Não dessa forma, sequelas físicas são previstas, mas isso que aconteceu não faz sentido. – respondeu ela, respirando fundo como se faltasse ar.
Yancy pegou o papagaio de John em mãos. O de Bruno estava em seu ombro.
-Tudo começou com a coceira. – disse Yancy.
- Não seria algum carrapato ou inseto? – perguntou Rafaela.
-Impossível, todos eles são protegidos pela bênção do deus Polo, esses insetos e pestes não ficam neles. – afirmou Ágata.
-Pelo menos é o que pensávamos, o que é isso? – questionou Tainá fazendo uma careta de nojo, segurando uma pinça com alguma coisinha bem pequena que se mexia. Eu me aproximei para ver melhor, é um tipo de inseto, eu acho, bem pequeno, com seis patas e por alguma razão, de cor verde. – Isso não é pulga ou carrapato, com certeza não é.
- Então o que é isso? – John pegou um pequeno pote. – Coloque ele aqui dentro.
E ela o fez, meu papagaio soltou um leve gemido.
-Tainá ele vai ficar bem? – questionei preocupado.
- Vai, só está exausto. Ele está fisicamente bem, mas essa coisa estava chupando o sangue dele. – respondeu ela olhando pro pequeno inseto. – Rápido, me deixem ver o de vocês.
Ela olhou de todos, até mesmo Rajada que não apresentou tal comportamento e o de Yancy também. Dos outros ela retirou o mesmo inseto, só que bem menores do que aquele que estava no meu.
- Que bichos são esses? – questionou Victor.
- Não faço a mínima ideia. – respondeu Tainá. – Reconhece, Ágata?
- Não, mas... sinto uma energia estranha vindo delas. – respondeu ela. – Não tenho certeza.
- Não são algum tipo de parasita? – perguntou Rafaela. – Minha irmã, Luiza, disse que quando o pai dela viajou pra África com seu cachorro, ele começou a se comportar de maneira estranha com uma coceira e depois começou a ficar violento, o pai dela é veterinário e logo descobriu depois de muita tormenta que a causa das atitudes do animal dele era por causa de um pequeno parasita que grudou na pele nele para se alimentar de seu sangue e causou uma irritação tão grande que o cachorro se tornou violento por alguns instantes.
-Pode ser, mas isso não explica os nossos papagaios serem atingidos, como Ágata disse antes, meu pai os protege. – respondeu Tainá. – Isso é muito estranho.
Ela colocou cada um dentro de pequeno frasco que John retirou da mochila.
-O Curupira deve saber o que eles são, ele conhece todos as criaturas e animais deste mundo. – disse ela os guardando dentro de sua pequena bolsa junto com suas ferramentas. – Vamos levar pra ele quando retornarmos.
- Vai guardar na bolsa? Não, Tainá, seja o que forem, eu quero essas coisas longe de minhas penas! – disse Rajada, eufórico. – É mais seguro mata-los, se não sabe meu plano de saúde não está em dia.
-Menos, Rajada, eles não podem sair daqui. – respondeu ela. – Está bem fechado e pra deixar mais seguro ainda, Ágata, você poderia?
-Claro. – respondeu Ágata levando sua mão acima da bolsa e dizendo algumas palavras, uma luz roxa saiu de sua mão.
-Kauê... – meu papagaio sussurrou. – O que aconteceu?
- Você está bem? – perguntei. – Você começou a voar como um doido e me atacou.
-Estou, só sinto uma forte irritação na cabeça. – respondeu ele se pondo de pé. – Pode coçar aqui?
E eu o fiz. Ele parece estar normal agora, seus olhos... Não estão mais com aquele brilho dourado. Será que foi minha imaginação por causa da queda? Só pode ter sido.
Os pássaros dos outros também se levantaram e parecem estar bem, apesar deles também reclamarem de uma irritação na cabeça.
-Impressão minha ou você me chamou de Tufão? – questionou ele.
- Sim, gostou? – perguntei. – Tem haver com vento.
- Eu preferia furacão, mas vou te dar um crédito por eu tentar te matar, pode ser Tufão. – disse ele.
Ótimo. Combina com ele, onde passa, causa confusão.
-Vamos, Bruno está perto. – o papagaio de Bruno foi o primeiro a levantar voo. – É por aqui.
-Devemos ir depressa. – disse John. – As vezes a Polícia Militar Ambiental do Estado faz patrulha além das fronteiras, não seria muito bom nos verem por aqui.
-Poderíamos dizer que somos visitantes que se perdeu do grupo, um clássico. – Victor deu de ombros.
- Não! – me exaltei mais alto do que deveria. – Essa floresta é um local totalmente conservado e usado apenas para fins educativos. Somente grupos escolares podem vir aqui e em um determinado lugar que estamos bem longe se me lembro bem.
-Tá tá, eu estava brincando, relaxa. – garoto. – respondeu ele. – Ágata, não fique aí parada, vamos logo.
Agora que reparei, Ágata está parada olhando fixamente para seu lado esquerdo, seu olhar tem um semblante curioso.
-O que foi? – perguntou John.
- Nada, só tive a sensação de estarmos sendo observados. – respondeu ela mordendo o lábio.
-Bruno disse na mensagem que este lugar está repleto de criaturas folclóricas nada amigáveis, sem dizer os animais que vivem aqui. Deve ser algum deles, fiquem em alerta. – disse Tainá.
Sinto um pequeno arrepio no meu pescoço... Será que devo ficar em alerta agora?! Esse lugar, tem algo de errado com ele. Sinto algo que não sei explicar. Será os demônios? Será que eles estão nos vigiando? Ou talvez até mesmo a Cuca, ela deixou bem claro que nosso assunto ainda não havia terminado e duvido muito que a queda da caverna na cabeça dela a tenha matado...
-Purê! Anda, está paralisado? Alguém pega água pra jogar na cara dele! – exclamou meu papagaio.
- Não é necessário. – respondi começando a andar.
...
Estamos andando de forma sorrateira faz um tempo, a floresta... Ela está calma, até agora não ouvi ou vi qualquer animal. Isso é estranho, pois a mata predominante por aqui é a Atlântida e me lembro que o professor da excursão de anos atrás disse que aqui está infestado de diversos animais como papagaios, tucanos, onça parda, bicho-preguiça, entre outros.
A sensação estranha ainda não sumiu, espero realmente que seja minha imaginação ou meu estresse, ainda estou impressionado com tudo que aconteceu. Os olhos do Tufão... eu senti que alguma coisa me atingiu de alguma maneira, minha cabeça ainda dói e pode parecer doideira, mas sinto como se tivesse um branco em minha mente. Apertei a alça da mochila, as armas de meu pai, eu posso senti-las lá dentro. É como se elas implorassem para mim usa -las e toca-las. E não apenas isso, estou sentindo um cheiro bem intoxicante faz um tempo.
-Kauê, não terminamos nossa conversa. – Tainá começou a caminhar do meu lado, você estava prestes a dizer quem foi que te deu a mochila.
Até havia me esquecido disso. Suspirei fundo, nessa altura do campeonato todo mundo em Eldorado já deve estar sabendo.
-Foi... um irmão da Ágata, mas não sei o nome dele... – sinto meu coração acelerar e minha cabeça latejar, por que sinto essa pressão na cabeça?! – Eu não...
Todos pararam de andar e prestaram atenção em mim.
-Um irmão meu? Tem certeza? – questionou ela. - Você mencionou isso antes pra mim, mas ainda não consigo acreditar que algum deles faria isso.
Tenho... eu acho, tudo que sei é que é alguém próximo a Ágata, uma imagem vem a minha cabeça, um rapaz indígena com cabelos negros, robusto e alto, mas... eu... eu tenho a sensação que nunca o vi antes... aí... que dor.
John me analisava como se estivesse desconfiado, Yancy não me encarava, ele parecia se importar com outra coisa.
- Ele é um rapaz da sua idade, eu acho, cabelos pretos e olhos cinzentos. – respondi.
- Isso não ajuda muito, tenho muitos irmãos assim. – suspirou ela. – Ele não te disse o nome dele? Meus irmãos são um tanto inconsequentes, mas não imagino nenhum deles roubando a espada ou tentando, ela é protegida por alta magia, mais do que nós podemos executar. Tem certeza mesmo?
Como mágica ou milagre um nome veio a minha memória, Pijima... mas...
– Podemos deixar essa conversa pra depois. - pediu Yancy, ele se abaixou e colocou a mão no chão. – Conseguem sentir? Tem uma aglomeração de seres grandes alguns metros na nossa frente.
-É lá, é lá que estão os Gorjalas, Bestas-feras e outras criaturas selvagens. – disse o papagaio de Bruno. – Eles ficam aguardando a entrada do local em enorme quantidade.
-Bruno é louco, nem mesmo com um feitiço de proteção se deve entrar em um local desses. – disse Ágata. – De Todos meus irmãos ele com certeza é o mais idiota.
- Nem me fale, Ágata, nem me fale. – suspirou John. – E o que faremos? Eu adoraria cortar a cabeça de todos neles, será que podemos com todos?
- Bom, somos em 6 e querendo não, temos uma vantagem especial por causa da Rafaela, todo esse lugar é território dela. As plantas, árvores e a terra. – respondeu Victor olhando pra ela. – Podemos ter alguma chance.
- Não sei gente... eu não sou uma guerreira, ainda estou aprendendo. – murmurou ela esfregando os próprios braços. – E tem algo aqui... Não sei bem o quê, mas sinto algo de estranho. Como se uma pressão me sufocasse.
-Também sinto, Rafa, tem alguma coisa atrapalhando meu tato com o solo, não sei dizer quantos monstros tem lá... Isso nunca aconteceu antes. Tempestade, por favor, você pode ir checar? – perguntou ele para seu papagaio. – Fique escondida, eles podem farejar você assim como podem farejar a gente. Veja exatamente quantos Gorjalas tem por lá.
-Por que tanta preocupação com os Gorjalas? – perguntou Rafaela. – Até onde me contaram eles são burros e não sabem atacar de forma coordenada.
- Isso é verdade, mas são muito resistentes, nossas armas não conseguem perfurar sua pele grossa, o único jeito de vence-los é usando nossas habilidades, mas seria um desperdício de energia. Não sabemos o que de pior pode ter lá dentro, se tiver como evitar lutas desnecessárias. Eu prefiro. – disse Yancy. – Faça isso, por favor, Tempestade.
- Sim, Rafael. – Ele levantou voo.
-Siga em diante, veja e volte rapidamente. Estaremos aqui. – disse Yancy e seu papagaio sumiu entre as árvores. Ele voltou seu rosto para nós. - Precisamos coordenar um plano. E se tentarmos entrar pelo subsolo? Mesmo que o número de Gorjalas seja pequeno, é melhor evitar. A passagem vai para o subsolo não é?
- Vai, eu entrei antes. – respondeu o papagaio de Bruno. - Bruno sugeriu fazer isso, mas ele não conseguiu executar o feitiço para controlar a terra, por isso usou o feitiço de camuflagem.
- Que não é tão seguro assim também. – disse Ágata. – Esse feitiço pode enganar algumas criaturas, mas a maioria consegue sentir nosso cheiro.
-E nós o deles, estão sentindo isso? – perguntou John colocando a mão no nariz.
Um cheiro sufocante e ardente...
-Cheiro de sangue. – disse Ágata. – Eu senti, mas pode ser qualquer coisa. Uma onça se alimentando por exemplo.
- Não... Não tem cheiro de nenhum animal vivo perto. – disse Yancy.
- Não acho que a questão aqui seja caça, é algo mais... Cheiro de morte. – disse John se afastaram do um pouco de nós.
Nós os seguimos, o cheiro se tornava mais forte entre a mata. Estávamos nos afastando bastante de onde viemos. Havia um local escondido no meio dela, as árvores, as folhas, elas estão negras e podres... abaixo delas havia um empilhamento de corpos, corpos de animais: Filhotes de onça-parda, Tucanos, coelhos entre outros. O sangue escorria pelo chão.
-Que horror! Santo Tupã! – exclamou Rafaela, horrorizada com a visão. – Quem faria isso?!
Esses animais, não sei como sei disso, mas eles morreram prematuramente...
- Essa forma de matar e empilhar, foram os bestas-feras. – disse Ágata.
- Não, olha a cabeça dessa onça. Ela foi esmagada, os bestas feras não carregam armas pesadas assim. Os Gorjalas também ajudaram. – disse Yancy olhando para trás e a tempestade chegou voando parando em seu ombro.
-Rafael, tem uns 50, bestas-feras, Gorjalas, Capelobos, entre outros. Eles estão apostos em diversos lugares, apenas guardando a entrada. – disse ela. – Mas têm um Gorjala vindo nessa direção, não sei se é por causa nossa, mas pelo que entendi, ele vem buscar carne.
- Isso explica tudo. – respondeu Yancy. – Temos que sair daqui.
-Mas eles não comem carne animal, só carne humana, principalmente dos caçadores que invadem seus domínios. – disse Tainá, franzindo o cenho. – E nós, geralmente. Eles respeitam a natureza, como todo a os seres folclóricos.
-Se não foi eles, quem foi? – perguntou Rafaela, ela se aproximou dos corpos. Não sei se estou louco, mas eu ouvi alguma coisa se rastejar.
- Não sei vocês, mas não quero estar aqui quando o Gorjala chegar. – disse o papagaio de John.
-Estão ouvind... ah! – gritou Ágata sendo agarrada por algo. É um galho podre da árvore. Ele a pendurou de cabeça para baixo.
- Eu te solto! – exclamou Rafaela erguendo a mão, mas não parecia estar funcionando. – Por que não consigo controlar?!
O solo começou a se mexer abaixo de nós, raízes da árvore começaram a se erguer e tentavam nos pegar. Eu me afastei um tanto para trás.
-Tufão, vai pra outro lugar! – exclamei para meu papagaio. Ele se afastou indo pra longe com os outros.
Victor fez uma espada de gelo e começou a cortar qualquer uma que se aproximasse, John fazia o mesmo com sua foice. Tainá conseguiu soltar Ágata cortando a raiz pode com um ataque de vento, Yancy protegia Rafaela, que estava indefesa incrédula por não conseguir usar seus poderes. Umas duas raízes tentaram me pegar, mas Ágata as destruiu com magia. A árvore inteira se inclinou, como se estivesse viva e tentou nos esmagar, caindo com tudo, mas John me empurrou pra trás antes que ela pudesse me acertar. Ela parecia pronta para tentar de novo...
-A mas não vai mesmo, cópia barata do “Salgueiro lutador" – Victor lançou uma corrente gelada que congelou completamente a árvore.
-Mas que merda! Será que dá pras coisas pioraram?! Até a natureza está atacando a gente! – exclamou ele fungando.
-Grrrr!!! – rosnou uma voz áspera e profunda. Virei meu rosto rapidamente para olhar para minha esquerda, uma coisa enorme com um grande olho e uma boca de caçapa se aproximava, ele tem um porrete enorme de madeira em mãos. Ele avançou pra cima de nós, batendo a clava no chão. Seu peito e seu estômago estão manchados de sangue.
-Você tinha que abrir a boca não?! – exclamou Ágata. – Não se esqueçam, nossas armas normais não perfuram a pele dele.
- John! Imobilize ele! – exclamou Yancy.
John pulou atrás do monstro, em cima de sua sombra e cravou sua foice no chão, o fazendo parar na mesma posição. Que demais!
-Comigo agora, Tainá! – disse Yancy e ambos lançaram uma forte rajada de vento que derrubou o monstro no chão, mas não adiantou muito, pois ele começou a se debater, recuperando o equilíbrio e mandou John pra longe com um golpe.
-Lance um raio nele! – exclamou Victor.
- Não posso, não agora! – exclamou Yancy de volta.
Victor começou a lançar flechas de gelo pra cima dele. Rafaela estava parada um pouco distante de mim. De repente escuto um Crack! A raiz da árvore se libertou do gelo e foi pra cima da Rafaela, em um impulso eu pulei para salva-la e consegui, eu a empurrei alguns centímetros de distância de mim, tentei me levantar, mas meu corpo... sinto ele preso, pesado... eu estou afundando no solo!
-Kauê! – Berrou Rafaela tentando me ajudar usando seus poderes, mas mais uma vez não dá certo. A arvore que estava congelada se libertou e começou a se debater atacando todos, inclusive o Gorjala. Essa foi a minha última visão, sinto algo se amarrar a minha perna antes de me afundar por completo... eu escuto Ágata e Yancy gritarem meu nome. Por um tempo fiquei sem respirar, está tudo escuro e sinto que estou sendo puxado para baixo sem saber pra onde! Tentei me segurar em qualquer coisa que coisa a possível, mas não consegui. Isso durou algum tempo, inclusive meus gritos, até alguma coisa cortar o que quer que fosse que estava me segurando, pois ouvi algo se partir.
- Estou impressionado. – disse uma voz masculina. – Desde quando deixam semideuses sem treinamento fazerem missões? Eu sei que os deuses são egoístas com seus peões, mas no estão exagerando desta vez?
- Quem está aí? – questionei.
-De nada por ter salvo sua vida. – respondeu a voz. – Eu só queria saber o motivo da Cuca e daquele anjo darem tanta importância para você.
Anjo?!
Uma luz surgiu no túnel, uma mão a segurava. Ele se aproximou e pude ver seu rosto, de alguma forma eu o reconheço, apesar de ter a sensação dolorosa que nunca o vi antes. Ele é o Pijima, o irmão da Agata... aquele traidor que desertou e também de alguma forma estranha... Ele também é o cara que me meteu em uma enrascada me dando a mochila com a arma do Pajécique...
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Livro 1: Kauê e os filhos da Amazônia - O Herdeiro Do Submundo
FantasyTodas as divindades existem, cada uma em sua esfera de controle. No Brasil predominam os deuses brasileiros dos povos indígenas. E como todos os seres divinos ao redor do mundo, eles adoram abrir uma fábrica de filhos, essas crianças são semideuses...