Existe algo sobre a quietude do meio da noite no quartel 51 que é reconfortante para Matt Casey, mesmo ele sabendo que era apenas uma questão de tempo para tudo aquilo acabar, com um alarme quebrando aquela paz aconchegante a sua volta, e enchendo suas veias de adrenalina. Mas por enquanto ele estava feliz em aproveitar, enquanto durar, a calma do local.Casey finaliza seu último relatório de chamadas e apaga a luz sobre a mesa. Levemente cansado da parte burocrática do trabalho o loiro se levanta e sai de seu pequeno escritório. Caminhando silenciosamente pelos corredores de camas, onde a maioria dos seus colegas dormiam pacificamente, em direção ao corredor externo. Seu objetivo primário era dar uma respirada no ar gélido na área externa do quartel, mas passando pela porta da sala comunal ele se surpreende ao ver alguém sentado perto do balcão da cozinha, de costas para ele. Ainda assim ele pode reconhecer aquela pessoa, por seu cabelo loiro iluminado pelas lâmpadas do teto.Os ombros caídos não eram um bom sinal, o sorvete que era consumido direto do pote também não parecia. Ela não percebeu sua presença, muito perdida em seus pensamentos, mesmo com ele já próximo a ela.
Matt se sentiu curioso para saber que pensamentos punham aquela expressão sombria e distante no rosto dela. Eles não conversaram muito desde que ela voltou ao 51, a algumas semanas. Uma pontada de culpa o atingiu, mesmo ele dizendo a si mesmo que foi porque estava muito ocupado treinando Gallo, porém a verdade é que ele estava sendo introspectivo por mais do que sua preocupação com o novato. Mas ele não entendia completamente porque estava sendo assim.De qualquer forma, Sylvie é um membro de sua família, sua amiga, e agora ela estava triste, e ele deve a ela tentar animá-la.
Casey limpa a garganta e Sylvie se assusta, com um guincho ela se vira no banco onde está sentada para olhar a procura da fonte do barulho. Rapidamente seus grandes olhos azuis encontraram Casey, e ele pode ver o brilho de lágrimas não derramadas, trazendo a vida os seus instintos protetores. Sylvie solta um suspiro e passa as mãos rapidamente sob os olhos.
— Você me assustou — ela adverte calmamente, concentrando o olhar no sorvete em suas mãos.
— Desculpe-me — ele responde, se aproximando mais do balcão. — Quer falar sobre isso?
Sylvie encolhe os ombros, uma resposta sem compromisso, se é que existe alguma, e leva outra colher de sorvete de chocolate aos lábios.
Não o incomoda se ela não quer conversar, Casey sabe que em algum momento, quando se sentir confortável, ela irá falar. Ele não tem problema nenhum em esperar.
— Se importa se eu me sentar? — ele pergunta indicando para o espaço ao lado dela.
Brett acena a mão sobre o espaço vazio como um convite.
— Claro, mas eu não vou compartilhar o meu sorvete — ela responde — ok, o sorvete é do Capp e eu roubei, mas vou repô-lo, prometo!
Casey solta um suspiro divertido se sentando ao lado dela.
— Seu segredo está seguro comigo.
Eles ficam em silêncio por longos minutos, até ele começar apensar que talvez ela não vá falar. Então ela abaixa a colher no pote de sorvete e enfia as mãos no casaco azul.
— Este lugar não é mais o mesmo desde que saí — Sylvie diz suavemente.
Outra onda de culpa bate em cheio nele. Perder o Otis foi devastador e ele carrega esse peso diariamente, assim como o dela ter se machucado por sua culpa naquele mesmo chamado.
— Não, não é.
— Eu nunca deveria ter ido embora — ela admite, sua voz firme com a ameaça de novas lágrimas — E me sinto culpada por isso. Como se eu tivesse abandonado minha família no meio da dor deles para começar uma vida nova. Um que eu não deveria ter aceitado em primeiro lugar.
O queixo de Matt contrai e ele olha para o chão. Embora tenha sido a decisão de Sylvie ela ter aceitado o pedido de casamento, ele se sente parcialmente responsável por empurrá-la de volta para Kyle.
— Você estava sofrendo também. Não é um processo único, Sylvie. Como você passa e supera o luto é sua escolha.
— Sim — Sylvie diz assentindo, há outro momento longo e silêncioso novamente — Posso admitir algo para você?
Ele se vira para encarar Sylvie e a observar prender o lábio inferior entre os dentes.
— Claro.
Sylvie olha para ele, depois olha para a frente, não tendo coragem de continuar a encarar aqueles olhos azuis, que tanto bagunçaram sua cabeça antes e depois de deixar e voltar para Chicago. O que só trazia mais peso e culpa por ter partido.
— Fiquei tão aliviada quando interrompi o noivado e deixei Fowlerton. Era como se eu tivesse um elefante sentado em meu peito, e ele finalmente se moveu para que eu pudesse respirar. Quão ruim é isso?
Ela nunca deveria ter dito sim para Kyle, se sentia horrivel por magoá-lo, mas se sentia pior estando longe de Chicago. Ela sentia algo por Kyle, mas não era amor, não o tipo que acaba em casamento pelo menos. E de qualquer forma não era nos olhos azuis do capelão nos quais ela se pegava pensando constantemente.
— Kyle é um cara tão bom — ela continua — Eu me sinto a pior pessoa do mundo por machucá-lo.
— Ei — Matt diz suavemente, esperando que ela olhe para ele. Quando ela o faz, ele percebe a dor e a culpa refletindo em seus olhos — você não pode se condenar para deixar os outros bem.
Um alarme dispara por toda o batalhão, convocando a ambulância 61, pondo um fim à conversa deles. Matt observa a máscara do profissional voltando ao rosto de Sylvie, enquanto ela aperta o rabo de cavalo, pulando de seu lugar ela vai em direção a saída.
— Obrigado Casey — ela diz por cima do ombro, e corre para a ambulância.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Feeling Behind the Eyes [Brettsey]
FanfictionMatt Casey e Sylvie Brett sempre viram um ao outro como um bom amigo, mas algo dentro deles está mudando. E a hora de decidir se continuaram apenas como amigo ou se entregaram aos seus sentimentos está chegando. Mas será que a resposta não chegará t...