Capítulo 16

602 33 7
                                    

— Você pode gostar dela, Casey. Ela é ótima!

Ela é ótima. E ele gosta dela. Mas ele ainda está em dúvida sobre se isso é bom ou não. No estilo típico de Matt Casey, ele afasta seus sentimentos e os ignora.

— Eu não quero falar sobre isso.

Severide bufa.

— Grande surpresa. Você vai ter uma úlcera um dia desses segurando toda essa merda por dentro.

Matt solta uma risada.

— Isso é irônico vindo de você

— Ei, estou muito melhor agora — Severide olha por cima do ombro de Matt e sorri, balançando a cabeça uma vez através do bar. Matt olha para trás e vê Sylvie, Kidd e Foster conversando no outro lado do bar — Stella me deixa melhor.

— Bem, um brinde a isso— diz Matt com um sorriso genuíno — Estou feliz por você.

Uma semana inteira se passou desde aquela manhã em que Sylvie acordou em sua cama, e mesmo depois daquela conversa quando a deixou em casa, Matt estava praticamente evitando outros momentos em que eles conversariam a sós. E a discussão sobre o tipo de pessoa que ele era, e o quão ofendido e triste que ele ficou naquele dia, não eram os únicos culpados por sua nova atitude evasiva.

Eu também pensei nisso.

Aquela maldita frase já não tinha o deixado dormir direito naquela noite, hoje parece um fantasma murmurando ao pé de seu ouvido com a doce e rouca voz de sono de Sylvie todas as vezes que ele a via ou apenas passava por algo que a lembrasse minimamente. Se fosse mais novo, ele se agarraria a ideia de que estava enlouquecendo, mas ele não é, e sabe muito bem que é dolorosamente pior.

Se fosse algo apenas físico ele poderia lidar, dá algum jeito que não afetasse a amizade que eles construíram, mas o coração acelerado toda vez que ouvia a menção dela é apenas mais uma prova daquele assustador fato, que ele queria muito refutar mas que não podia.

Ele estava apaixonado.

—————————————————--

Muitas pessoas já tinham ido embora, e o movimento do Molly's estava muito mais calmo. Por algum motivo além do que ela queria admitir, Sylvie recusou a carona de todos os amigos, apenas sentada em um canto com um copo de água — ela não ia cometer o erro de beber novamente tão cedo — observando o movimento do local.

Bem, quem ela queria enganar, ela podia até deixar seu olhos correrem pelo bar, mas é  em Matt Casey que toda a sua atenção se encontra.

Se ao menos conseguisse entende-lo melhor. Quando ela olhava para ele e o encontrava já olhando para ela, ou quando ele entrava em um lugar  e ela era a primeira pessoa que ele cumprimentava, ou ele sorria para ela quando eles estavam conversando de uma maneira que a faria pensar se talvez ele também gostasse dela, mas ela nunca tinha certeza de nada. Esses momentos sempre acabavam num piscar de olhos e ele voltava ao seu estado normal e reservado.

Ele se afastou dela, nada muito perceptível para os outros, mas ela sentia. Sentia falta de conversar com ele, se sentia ainda mais culpada por ter o magoado, o ferido. Aquela noite das garotas foi um enorme erro. E ela nem se lembrava de tudo, imagina se lembrasse.

Um homem atraente sentou ao seu lado, o cabelo castanho claro e olhos azuis, um belo sorriso. Ele se ofereceu para pagar uma bebida, mas ela não queria, nem beber nem a atenção dele. Com uma desculpa levemente esfarrapada ela deixa o bar, assim que percebe que Matt não está mais lá.

No fundo, ela queria que ele tivesse vindo até ela, mas Sylvie também não tentou se aproximar. Sabia que o tinha magoado, e não sabia ao certo como fazer as coisas voltarem ao normal, que a amizade deles voltasse ao normal, mesmo que no fundo de seu coração e mente ela quisesse algo diferente. Algo que ela não estava pronta para admitir para ela mesmo quem dirá para os outros.

Saindo do bar, distraída com o celular, tentando pedir um Uber. Ela quase não viu ele. Quase.

Matt estava encostado no carro olhando algo no celular, quando percebeu algo se aproximando. Ele elevou o olhar e encontrou Sylvie parada a alguns metros.

— Você parece mal-humorado— diz ela, inclinando a cabeça e estudando seu rosto atentamente — Você está mal-humorado?

Um jeito meio tolo de puxar assunto mas que provocou um sorriso nele. Claro, os sentimentos deles são confusos agora, mas é quase impossível ficar irritado com um raio de sol como Sylvie Brett.

— Eu não estou.

Cética, ela estreita os olhos e levanta a mão para esfregar um dedo indicador sobre o espaço entre as sobrancelhas dele. Seu toque suave envia uma faísca pela espinha dele.

— Você tem aquela linha franzida que sempre aparece quando está bravo. Um abraço ajudaria?

Matt olha para o chão, seu sorriso crescendo. Nem ela mesmo sabia o que estava fazendo, talvez apenas usando um pretexto de ajudar o próximo para saciar sua própria vontade de estar perto dele

— Talvez — ele responde, olhando para cima para encontrar seu olhar azul.

O sorriso de resposta dela é suave e quente.

— Prepare-se — diz ela, e entra no espaço pessoal dele. Lentamente, o queixo dela pousa no ombro dele primeiro, depois ela envolve um braço em volta do pescoço dele, o outro em volta das costas dele, abraçando-o com força. Matt cruza os braço ao redor de seu corpo, a mão espalhada contra a suas costas. Ele inclina a cabeça levemente para respirar os aromas combinados de seu xampu e perfume. Isso o lembra das flores do verão e do sol.

Ela exala suavemente, relaxando ainda mais contra ele, puxando-o um pouco mais para perto.

— Não fique mal-humorado, Matt — ela murmura, sua respiração fazendo cócegas no pescoço dele.

Seu estômago dá uma volta longa e lenta, e tudo o que ele consegue pensar é uh-oh. O que diabos ele vai fazer agora?

Feeling Behind the Eyes [Brettsey]Onde histórias criam vida. Descubra agora