Capítulo 3

818 36 0
                                    

Matt está distraído em seu escritório quando alguém bate à porta. Ele se vira e encontra Sylvie do lado de fora, com um apilha de papéis na mão e um sorriso de desculpas nos lábios. O hematoma manchando sua pele de roxo, mas eles ainda vão piorar antes de se curarem.

— Hey — ele diz virando a cadeira enquanto a porta se abria — O que disseram?

Apoiada no batente da, ela o entrega a papelada.

— Nenhuma fratura, felizmente. Mas eu tive uma leve concussão, então estarei fora dos próximos turnos. Se você precisar dizer "eu te disse", vá em frente, eu mereço.

Matt balança a cabeça com um sorriso auto depreciativo, dói um pouco nele, que ela acha que ele jogaria isso em sua cara.

— Sylvie, eu só queria ter certeza que você estava bem.

Ela lança um olhar furtivo para o chão, mas seus grandes olhos azuis são sinceros quando olha para ele.

 — Eu sei disso, Matt— ela diz, colocando a mecha perdida de cabelos loiros  atrás da orelha. — Eu agradeço. E eu queria pedir desculpas. Meu comportamento antes foi desagradável, para dizer o mínimo, e eu lancei a maior parte disso em você. Entenderei se receber uma repreensão por isso.

— Pare com isso. Não vou te repreender por estar frustrado com essa coisa toda. Água passadas.

— Obrigado, Casey. Enfim, você tem todos os relatórios ai. Vejo você em uma semana ou duas.

Sylvie começa a sair.

— Espere — Matt ainda se sente inquieto, como se precisasse dizer mais alguma coisa, antes que ela fosse embora — hum — mas ele não tem a menor ideia do que é essa coisa.

Matt se levanta e enfia as mãos nos bolsos. Céusele está envergonhado como se fosse um adolescente.

— Você uma vez se ofereceu para ser a pessoa para quem eu poderia ligar se precisasse falar sobre alguma coisa.

Um canto de sua boca se contrai quando ela se foca nos olhos dele.

— Essa oferta não expirou.

Deus, ela é uma pessoa tão boa . Matt engole e força o resto das palavras para fora da boca. 

— Eu só queria que você soubesse que isso acontece nos dois sentidos. Se você precisar conversar, quero dizer. A qualquer momento. Eu estou aqui.

— Cuidado com o que você deseja, Matt. Eu posso apenas aceitar — ela responde  levantando uma mão em adeus e sai do escritório.

________________

Sylvie não liga. Ele não sabe por que esperava que ela o fizesse, ou porque estava decepcionado por ela não ter feito. Sendo que em retrospectiva  ele não o fez quando a situação era inversa.

Ainda assim já fazem alguns dias.

Matt fez uma anotação mental para checá-la amanhã.

O alarme soa com uma chamada para o Caminhão 81, então ele esconde qualquer pensamento perturbador e coloca a cabeça no jogo.

___________________

Estar de licença médica duas vezes em um ano é uma merda.

Faz apenas alguns dias, mas Sylvie já está tão entediada, inquieta e ansiosa para voltar ao trabalho que parece ter se passado meses. Suas dores de cabeça estão diminuindo e seu lábio está de volta ao tamanho normal, os hematomas no rosto ainda estão bastante visíveis e desagradáveis, mas ela pode cobri-los   com maquiagem com bastante facilidade quando fica louca e precisa sair do apartamento.

Brett não foi liberada para exercícios extenuantes, então ela não pode nem ir às aulas de spinning e suar suas frustrações. 

O lado bom de tudo isso? Com nada além de tempo livre em suas mãos, o apartamento que ela divide com Cruz está mais limpo do que já esteve antes.

Ainda dói passar pelo antigo quarto de Otis. Às vezes, ela se depara com um programa ou um vídeo estúpido que ele adoraria, e quase pede que ele a acompanhe. Então ela se lembra que ele se foi, e aquela dor oca de tristeza floresce em seu peito. 

Agora a porta do quarto dele fica fechado.

Sylvie pensa em ligar para Matt.

A verdade é que ela pensou muito em ligar para ele, e Sylvie não sabe o que fazer com isso. Eles são amigos, é claro, há anos. E é fácil de falar com ele, mas as últimas vezes que ela o fez, isso deixou sua cabeça virada por dias e ela prefere não se concentrar nas razões que a fez ter as reações que teve com ele.

 Mas ele disse a ela para ligar a qualquer momento. Provavelmente seria rude não aceitar essa oferta. Ela pode apenas dar uma atualização rápida sobre sua recuperação e perguntar como estão todos, mesmo que Emily e Stella a mantenham informada de todos os acontecimentos do 51.

Pare de ser tão ridícula, Sylvie Brett!

Ela larga o celular e se dirige até à cozinha para fazer uma xícara de de chá e pegar alguns biscoitos que assou ontem.

Joe Cruz e Chloe estão lá na sala, aconchegados juntos  no sofá discutindo sobre o que o que assistir na Netflix. Eles são tão fofos juntos, tão certos um para o outro, e ela está realmente emocionada por  eles estarem noivos. Uma minúscula pontada de ciúmes espeta no fundo de sua mente por causa de sua própria falta de romance. E Sylvie se odeia por isso, e rapidamente absorve essa emoção mesquinha. Estar sozinha não é uma licença para ela ser uma idiota, seus amigos merecem toda a felicidade do mundo.


— Ei pessoal—  ela sorri enquanto passa por eles na direção da cozinha.

Chloe lança um sorriso brilhante de volta.

 — Olá Sylvie! Como você está? — ela pergunta. — Eu não podia acreditar quando Joe me contou o que aconteceu com você.

Sylvie enche a chaleira e encolhe os ombros. 

— Eu estou me sentindo melhor. Prometo que as contusões parecem muito piores que a própria lesão.

— Estou feliz. Garotos estúpidos da fraternidade! — Chloe responde.

— Os piores! — Sylvie ri e concorda com a cabeça. 

— Quer assistir um filme conosco? — Chloe diz.

 A última coisa que ela quer fazer é ser uma terceira na roda, a vela do grupo.

 — Ah não. Obrigado pela oferta, mas vou ler por um tempo.

— Vamos, colega de quarto—  Joe diz, — vamos assistir o Endgame e eu sei o quanto você ama o Capitão América.

Sylvie imita o desmaio e junta as mãos sob o queixo. 

— Eu realmente faço. Chris Evans é um sonho.

— Mhmm— Chloe concorda.

Joe zomba da ofensa. Sylvie e Chloe o erguem com sobrancelhas arqueadas.

— Droga, tudo bem. Ele é bonito.

A chaleira apita, e Sylvie termina de servir seu chá, e pegando seus biscoitos. Mesmo sendo o Chris Evans, ela declinou do convite, deixando claro que o casal poderia se servir dos diversos  biscoitos que ela fez na noite anterior.

Ela retornou para o quarto e se aconchegou em sua cama, se escondendo entre uma pilha de travesseiros e seu cobertor favorito. O telefone dela toca com um alerta de mensagem. Agarrando-o ela vê uma chamada perdida e um texto de Matt.

Há uma agitação de antecipação em sua barriga enquanto seus dedos deslizam sobre a tela.

Matt: Ei! Queria ver como você está se sentindo. Se quiser conversar, eu estou aqui.

É um gesto tão simples, apenas algumas poucas palavras, mas a faz sorrir.  Ela lê a mensagem novamente e aumenta a coragem de ligar de volta.

Feeling Behind the Eyes [Brettsey]Onde histórias criam vida. Descubra agora