001 - The beginning

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Grace's point of view.

O ser humano é a pior espécie que habita ou já habitou este planeta.

A raça humana consegue ser pior que os dinossauros carnívoros que viveram neste planeta há milhões e milhões de anos. Não temos dentes afiados ou o faro e a velocidade deles ao caçar suas presas. Mas temos coisas muito piores, como armas, bombas, dinheiro e muito, muito poder.

1940, e o mundo todo estava entrando em colapso.

De novo.

A segunda guerra mundial estava em andamento. As tais armas que me referia estavam sendo usadas a todo vapor em busca de acertar seus respectivos alvos, os soldados americanos e britânicos. O exército soviético tinha todos os requisitos listados acima, mas estavam em busca do maior deles: O poder. E após firmar uma aliança com os alemães aquilo seria apenas uma questão de tempo para conseguir.

Me perguntava o que tinha de glorioso em vencer uma guerra. Como alguém poderia sentir prazer ao ver um semelhante seu alvejado por uma bala ou mortos aos montes num bombardeio? Que tipo de ser humano se sentia confortável ao apertar o gatilho e ser responsável por uma morte?

Pela janela da grande casa, suspirava olhando a chuva cair e escorrer pelo vidro, gota a gota. As árvores que escondiam a propriedade estavam agitadas. Ver a natureza e todo seu esplendor trazia-me paz, mesmo que aquele sentimento fosse a última coisa que eu estava tendo nos últimos meses. Era engraçado pensar naquela palavra vivendo num tempo sombrio como aquele, mesmo de longe ainda daria para ouvir as bombas explodirem e ao fechar meus olhos, poderia imaginar mais um ou dois homens sendo mortos. O cheiro de terra molhada que as gotas de água vindas do céu trazia acalmava as batidas do meu coração apertado, que desejava desesperadamente ir embora dali.

Queria ir para casa, minha única e verdadeira casa. A que deixei ao lado dos meus pais com muito custo, por conta do medo que rondava seus arredores e toda a incerteza de segurança. O exército havia evacuado meu bairro, assim como a pequena cidade que cresci e várias outras na redondeza. E aquela situação havia forçado meus pais a tomar medidas drásticas.

Naquela casa longe dos bombardeios e tiros, afastada de todo o caos e morte que aconteciam em praticamente toda a União Soviética. Era para lá que eu havia sido levada, nem ao menos sabia contar quanto tempo a viagem até ali havia durado, sabia que era melhor para mim ficar longe. Só não tinha a mesma certeza quando soube que ficaria só até que até que houvesse um mísero sinal de que tudo estava em paz novamente.

Fixei meus olhos nas árvores enormes que protegiam a casa, pensava nos meus pais e me perguntava se eles também estavam vendo a chuva cair, onde quer que estivessem, a salvo, como eu. Meu rosto logo estava molhado, como as folhas dos arbustos do lado de fora, sequei as lágrimas com rapidez usando as costas das mãos.

Tinha que ser forte. Me manter bem até que os encontrasse novamente. A localização de ambos era uma incógnita, eu apenas sabia que mamãe e papai tinham fugido da guerra em navios lotados de civis, procurando por algum lugar seguro para ficar. Eles prometeram que voltariam para me buscar. Orava todas as noites para que ambos não quebrassem aquela promessa.

Sequer conseguia imaginar a vida sem eles, meus dois companheiros e melhores amigos. Nunca fui a melhor pessoa do mundo para se relacionar, sempre fui muito tímida, preferia animais a humanos. Talvez aquele fosse o motivo de não ter que me despedir de muita gente quando fui retirada de casa na evacuação. O adeus mais doloso na vizinhança foi o de Bruce, um vira-lata que tinha a porta de minha casa como lugar favorito para dormir.

Depois de muito insistir, eu tinha conseguido convencer papai a colocar o cachorro para dentro enquanto estivesse sozinho ali.

Queria poder tê-lo levado comigo, queria também meus pais ali. Aquele era o motivo de todas as minhas lágrimas derramadas sempre pela manhã e ao anoitecer. Eu odiava cada tijolo que mantinha aquela casa de pé simplesmente pelo fato me sentir sozinha, longe das pessoas que eu mais amava. Juliet só aceitava crianças em sua casa, nada de animais ou adultos.

The enemy | H.S.Onde histórias criam vida. Descubra agora