034 - My weakness

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— Aqui estamos novamente, não? — Clint riu sarcástico, enquanto me encarava friamente. Seus olhos escuros quase não piscavam, como se ele estivesse me analisando a cada suspiro meu, somente me esperando vacilar um segundo.

Concentrei-me ajeitando meu corpo sobre a cama, teria que tomar muito mais cuidado que da última vez, qualquer movimento meu poderia e iria me denunciar. As coisas estavam diferentes daquela vez. Antes, eu era apenas uma das mocinhas da história, a donzela indefesa junto das outras mulheres frágeis daquela casa, que esperaram ansiosamente pela vinda dos homens fortes para serem protegidas. Agora eu era a vilã, não sabia mais se adiantaria fazer-me de desentendida como na nossa última conversa.

Mas, também, não daria para assumir a autoria de meus atos. Eu estava completamente sem saída. Mas disposta a enfrentar as consequências da minha omissão, mesmo que não fizesse ideia do que viria da parte deles, a única coisa que eu sabia era que deveria esperar o pior.

— Sabe o que achamos lá fora, Grace? — Colocou as mãos para trás, andando despretensiosamente em círculos diante de mim.

Encarei Yuri rapidamente, Juliet, encostada na parede, apenas assistia a ação sem expressão. Ela não parecia saber do que aquela conversa se tratava, porém não precisava de motivos ou provas para ficar inteiramente ao lado de Clint e seus homens. Sabia que com ela eu não poderia contar, alias, sempre tive aquela certeza que só foi se confirmando com o tempo.

— Imagino que seja a aeronave desaparecida. — Encarei seu rosto, totalmente sem expressão facial e sem emoção alguma na voz.

— Isso mesmo, boa garota. — Aquele tom de falsa animação da parte dele me embrulhava o estômago, independente dos enjoos da gravidez, era simplesmente meu instinto me dizendo que aquele homem não valia um rublo sequer. — Estava exatamente onde nos apontou.. — Comentou com a mulher, que lhe sorriu solicita. — Perto do galinheiro, coberta pela neve.

Assenti em silêncio, tentando manter a cabeça erguida diante de tantos olhares censuradores sobre mim.

— Acha que somos idiotas? — Pisquei algumas vezes, confusa diante daquela pergunta.

Se fosse em outra situação, eu desataria a rir em sua cara. Era quase que uma pergunta retórica, afinal de contas, Harry conseguiu fugir com uma facilidade absurda. Se os soviéticos fossem tão grandiosos e imbatíveis como os próprios saiam por aí se gabando, já o teriam capturado visto que Styles fugiu um pouco antes da chegada deles. Se passou algum tempo, e o único rastro que tinham de Harry era uma aeronave abandonada, que se não fosse por mim, ainda estariam procurando pela neve?

— Não senhor. — Respondi ainda sem entender.

— Eu só não consigo acreditar que você tenha sido tão burra ao ponto de roubar uma peça da aeronave e ainda por cima nos dizer onde ela estava. — Respirei fundo, engolindo a seco. — Achou mesmo que não daríamos falta do comunicador?

Se eu soubesse do que se tratava antes, realmente teria escondido ao máximo o paradeiro da aeronave, porém, não estava tendo muita escolha há muito tempo. Estava me virando com as informações que eu tinha, e no momento, não senti que me ajudaria caso os ajudasse além do que já fiz.

Eu queria vê-los se matarem de procurar, que quebrassem as cabeças atrás de respostas. Aquele era o trabalho deles, não? Olhei para Yuri mais uma vez, o homem apenas me deu um aceno de cabeça quase que imperceptível, incentivando-me a falar.

— Eu não faço a mínima ideia do que seja esse tal comunicador. — balançava a cabeça em negativa. Lembrava-me de respirar, inspirar e expirar, já sentia a tontura retornar aos poucos. — Te garanto que nunca cheguei a triscar um dedo naquela aeronave. — Dei de ombros desdenhando.

The enemy | H.S.Onde histórias criam vida. Descubra agora