038 - Promise me no promises

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Sua voz me chamando era tudo o que eu ouvia durante minha corrida até a saída, Deus, doía tanto ignorar aquele som que antes era o meu favorito no mundo todo. Sua voz soava tão perigosa para mim, meu coração ainda correspondia qualquer ação mínima dele, porém eu me afastava ao máximo, não queria correr o risco de fraquejar. Era para o meu próprio bem. Uma autodefesa, eu não podia e nem iria aguentar mais uma decepção, já havia passado por tanta coisa que sentia que poderia morrer de desgosto a qualquer momento.

Corria pela neve, desviando-me de alguns dos homens que transitavam pelo enorme quintal da casa, sentia-me tonta, sabia o quanto estava fraca, tinha certeza de que não sobreviveria muito tempo sozinha no frio novamente, mas meu orgulho me incomodava tanto que eu sequer cogitei a ideia de ficar ali após ser expulsa daquela maneira. Já era a segunda vez que aquilo me ocorria, eu estava sozinha, literalmente, sem ao menos ter para onde ir.

Fui puxada para trás num solavanco, logo sua respiração batia próxima ao meu rosto, soltei um pequeno grito agudo pelo susto que sua ação me causou, ainda ofegante via seus olhos verdes de perto, encarando-me atentamente.

— É verdade? — Pisquei algumas vezes ainda confusa, quando despertei, tentei puxar meu braço de volta, porém Harry ainda era mais forte que eu e nem ao menos consegui movimentá-lo. — Grace, o que você disse, é verdade? — A urgência em sua voz era nítida.

— Me solta! — Esbravejei, atraindo a atenção dos outros a nossa volta. — Está me machucando, me solta. — Fui liberta no mesmo instante. Não estava machucando, mas tinha sido a única saída que encontrei. Pelo menos ele não era covarde ao ponto de me fazer algum mal fisicamente.

Quando me virei prestes a fugir mais uma vez, fui interceptada novamente. Daquela vez por seu corpo, que surgiu diante do meu numa rapidez absurda. Tentei escapar pela lateral, porém eu já estava tão cansada de correr que nem ao menos tive chance.

— Eu não vou te deixar ir. — Lhe dei as costas, cobrindo o rosto com as mãos, morrendo de raiva. — Nem que seja forçada, você vai ficar, me ouviu? Quase morreu lá fora uma vez, quer mesmo se matar desse jeito? — O ignorei, soltando soluços audíveis.

Eu já havia pensado naquela possibilidade. Era horrível, mas eu já não controlava meus pensamentos. Perder meus pais e, logo depois, perder as meninas que considerava irmãs para mim tinha me desolado de uma forma absurda. Sabia que após a guerra eu poderia procurá-las, mas aquele inferno parecia tão longe do fim que algo me dizia que talvez eu nunca mais iria olhar para aqueles rostinhos que eu amava tanto.

— Venha, vamos para dentro. — Sua mão pegou meu braço novamente, me desvencilhei dele, andando na frente.

Eu sabia que não era bem vinda ali, o olhar de todos a minha volta deixava tudo bem explícito, porém Harry era a minha única chance de sobrevivência e se eu quisesse ficar a salvo e ter aquele bebê sem correr tantos riscos, eu teria que ficar com ele. Pelo menos até que eu pudesse ir para a Inglaterra. Eu não via a hora de poder ver meus avós novamente, chorar no colo de vovó, no aconchego de sua casa. Só não queria ser a responsável por lhe dar a notícia da morte de papai, mas passaríamos por aquilo juntos, era assim que devia ser. Ainda sentia que deveria ter chorado mais, aquele nó em minha garganta estava entalado há dias, e eu tinha certeza que só seria desfeito quando eu estivesse nos braços de quem amo.

Estava cansada de ser forte, o peso em meus ombros já estava pesado demais, sentia que não aguentaria muito tempo sem desabar ao chão. Meu corpo estava exausto, minhas pernas doíam, meu coração estava em pedaços. Me preocupava com a criança que crescia em meu ventre, sabia que eu corria o risco de perdê-la caso não descansasse um pouco. Mesmo que parecesse impossível fazê-lo naquele momento.

The enemy | H.S.Onde histórias criam vida. Descubra agora