Harry's point of view.Ansiedade.
Se havia uma palavra para descrever perfeitamente meu estado naquela altura do campeonato era essa. Pensar que tudo estava perto do fim fazia-me querer gritar de felicidade. Pensar também que era tudo muito incerto fazia-me querer chorar de desespero.
Eu ainda não sabia bem o que deveria estar sentindo naquela noite. Estava anestesiado, trêmulo, foi difícil camuflar toda a minha tensão na frente de Grace, que parecia que saberia me ler antes mesmo que eu abrisse a minha boca. Ela notou que havia algo estranho, eu sabia que sim, eu também tinha adquirido a habilidade de ler suas expressões. Era assustador, nunca pensei em ter uma relação com alguém que tivesse esse tipo de conexão comigo. Para falar a verdade, sempre achei um mito.
No caso de Grace não era tão difícil já que seu próprio corpo já falava por si mesmo. Naquela noite em especial, eu podia ver seus ombros tensionados ao máximo e seus olhos marejarem de vez em quando. Ela não tinha me perguntado o que me afligia porque não queria tocar no assunto.
Grace havia chorado mais cedo, agarrada a mim, mesmo depois de todo um esforço para não fazê-lo. Eu nunca iria entender o que a levava a ter tanto carinho por mim, tanto amor que eu nem ao menos sabia retribuir. Me sentia mal por aquilo. Mas apesar de tudo, não iria embora sentindo que a deixei na mão. Durante o tempo que passamos juntos, nossos últimos dias especificamente, me certifiquei de fazer Grace sentir-se amada.
Ou pelo menos esperava que sim.
Quando tudo ficou silencioso demais, após passar quase uma eternidade desde que Juliet e as meninas foram para seus quartos, levantei-me da cama já sentindo a adrenalina correr por minhas veias. Com as mãos trêmulas abri a porta do quarto e me esgueirei pelo corredor.
Ainda não era a hora de ir. Infelizmente. Eu nem ao menos sabia qual a hora de ir. Um equívoco sequer meu, acabaria com tudo antes mesmo que os soviéticos chegassem até a casa para me buscar.
Quando Juliet me pegou no quarto com Grace e eu a foquei na porta, parada, com a espingarda a postos com meu peito na mira, eu soube que ela nunca hesitaria em me matar. Fui "poupado" na primeira vez em que estive sob sua mira, alvejado na perna, na segunda vez tive Grace me protegendo, algo me dizia que não existiria uma terceira vez caso cruzasse com Juliet e sua espingarda. Seu dedo não iria nem ao menos vacilar em apertar o gatilho novamente.
Eu estava apenas me certificando de que iria conseguir fugir quando meu socorro chegasse. Se é que chegaria. Naquele dia em que consegui que as luzes do aparelho de comunicação da minha aeronave se ascendessem, consegui fazer um contato mínimo com a base. Não havia sido uma conversa clara, muito pelo contrário, foi cheia de chiados e interferências. Estava torcendo para que tivesse sido ouvido com clareza.
Lembro-me de ter deixado claro quem eu era, que estava vivo que corria grande perigo. Descrevi o local em que cai, mas não citei casa alguma, não era minha intenção atrair ninguém até lá. Se meus planos dessem certo, eu sairia pela madrugada e me esconderia na mata. Esperaria por alguém ali mesmo, caso ninguém fosse ao meu resgate, morreria ali mesmo congelado.
Ser capturado pelos soviéticos não era uma opção. Preferiria a morte a ter que ir parar nas mãos sujas deles.
Quando cheguei no fim do corredor, consegui ver a cozinha da casa com clareza. A luz que vinha da escada iluminava grande parte do cômodo. Ao longe, fixei meus olhos no molho de chaves pendurado perto da porta. Respirei aliviado ao ver que não seria difícil sair dali. Eu só precisava fazer silêncio e ser rápido.
Regressei meus passos e voltei a me deitar na cama. O aparelho estava ali embaixo, eu o deixaria ali, Grace com certeza iria procurar por ele quando descobrisse da minha fuga e daria um jeito de desaparecer com ele. Afinal, aquilo era uma grande prova de que ela tinha me ajudado.

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The enemy | H.S.
Roman d'amourO ano é 1940, o mundo vive os horrores da Segunda guerra mundial. Com temperaturas insuportavelmente baixas, a União Soviética decide ordenar que todos deixem suas casas e destruam qualquer coisa que possa ser proveitosa ao inimigo. Grace Dubrov é l...