— Tome, leve comida para aquele ser. — Entregou-me uma bandeja sob os olhares atentos das outras sentadas à mesa.Abri a porta devagar por conta de minha falta de habilidade com a bandeja nas mãos. Incomodei-me com o seu jeito de me olhar, como se eu fosse uma ameaça a ele. Não era um olhar assustado, mas sim duro, medindo meus passos e movimentos, como se a qualquer momento eu o pudesse fazer mal. Seus punhos cerrados demonstravam que as más intenções ali eram todas dele. Estava pronto para revidar.
Pensei em dizer algo, mas não o fiz. Afinal o que eu diria a ele? Deveria eu soar como uma boa anfitriã e dizer-lhe boas vindas? Tratá-lo como uma visita agradável que eu desejava que voltasse mais vezes? O tiro que eu escapei de levar mais cedo me respondia negativamente a todas aquelas indagações. Juliet já havia gritado aos quatro cantos o quão perigoso ele era. Mas eu, ainda assim, não conseguiria destra-lo.
Tinha consciência de que um tiro já era um motivo bem óbvio para que eu o odiasse. Porém eu não conseguia parar de pensar que naquele momento em que foi pego, ele estava com mais medo de nós do que nós dele. Machucado e incapaz de usar a própria força para se defender caso fosse desarmado e atacado. Mas claro, um homem daquele tamanho nunca iria admitir aquilo nem para si mesmo.
Coloquei a bandeja sobre o criado mudo ao lado da cama e me apressei em sair rapidamente.
— O que é isso? — Franzi minha testa, virando-me em sua direção.
Meu corpo estava rígido, reagiu de imediato ao som grave de sua voz. Fazia muito tempo que eu não ouvia uma voz masculina soar em meus ouvidos. Devo confessar que gostei do que ouvi, porém eu sabia bem que era apenas por ter passado tanto tempo convivendo apenas com mulheres.
— Comida.
— Eu sei o que é comida! Estou me referindo ao motivo de você tê-la trazido para mim. — Replicou, completamente ríspido. Sua voz era imponente, digna de um líder.
— Não está com fome? — Não era humanamente possível que alguém que aparentava estar fraco e desidratado, provavelmente há horas sem comer ou beber algo seria capaz de recusar um alimento.
— Não irei comer esta porcaria, não sei a procedência da comida. Estava esperando que me matassem com um tiro, envenenamento era meu segundo palpite. E parece que eu estava certo.
— O que? Não! Esta é a mesma comida que eu e as outras comemos! Não há nada além de comida ai — Cruzei os braços indignada. — Se está duvidando, eu posso provar.
Ultrajada, ia até a cômoda e comeria um pouco para provar que eu não seria capaz de tentar matar alguém. Aquela era uma acusação gravíssima! Porém o barulho do prato se espatifando no chão me assustou, minha reação foi apenas um pulo para trás assustada.
— Já disse que não vou comer essa porra! — Estremeci, me deparando com a bagunça que o homem havia feito.
— O que está acontecendo aqui? — Ouvimos a voz de Juliet no corredor e eu só tive tempo de negar com a cabeça, reprovando a atitude primitiva dele. — Está tudo bem, Grace? — Surgiu na porta, segurando sua espingarda.
— E-Está sim, Juliet. Só tivemos um problema de comunicação. — A mulher passou por mim, chegando perto da cama e checando a cara fechada do britânico.
— O único problema de comunicação aqui é o fato desse imprestável falar inglês e eu não conseguir interrogá-lo para nos livrarmos logo dele. — Ele a encarava fixamente, embora alheio ao que ela falava, eu podia sentir que o desgosto de Juliet era recíproco.
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The enemy | H.S.
RomantikO ano é 1940, o mundo vive os horrores da Segunda guerra mundial. Com temperaturas insuportavelmente baixas, a União Soviética decide ordenar que todos deixem suas casas e destruam qualquer coisa que possa ser proveitosa ao inimigo. Grace Dubrov é l...