006 - I got a bad idea

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Despertei cedo no dia seguinte. Apesar dos pesares, eu ainda conseguia dormir tranquila. Principalmente após a conversa que tive com Harry no dia anterior. Sabia que não era aconselhável confiar nele, mas neguei a lógica e segui minha intuição, que me dizia que ele estava falando a verdade.

Me agasalhei bem, o tempo não estava bom do lado de fora. Apesar de ter dormido bem, tinha estranhado não ter mais Cornélia roncando ao meu lado. A menina havia se instalado no quarto das outras, já que ficaria sob os cuidados de Elizabeth. Me lembraria de, mais tarde, conversar a sós com ela e saber se a mais velha estava a tratando bem. Sentia falta dele, e não havíamos passado mais que algumas horas e uma noite separadas.

Quando tudo aquilo acabasse e cada uma de nós retornássemos para nossos pais, a saudade iria doer. Porém sentir a falta de alguém infelizmente parecia ser nosso castigo desde que aquela guerra havia começado. Sentíamos falta de nossos pais juntas, nas quando cada uma seguir seu caminho, vamos sentir a falta uma das outras.

Morreria de saudades de Amelie e sua doçura e delicadeza, de Harriet e sua habilidade de ser o completo contrário da irmã, com seu jeitinho atrapalhado e falante, mesmo sendo gêmeas, elas eram completamente diferentes. Nunca tivemos problemas de distinguir as duas, e havia um pedaço enorme em cada lado de meu coração para ambas. Cornélia era o meu xodó, nem que eu quisesse poderia negar aquele fato. Ela era a personificação da irmã mais nova perfeita, era companheira e parecia me entender como ninguém, apesar dos anos de diferença. Até mesmo de Elizabeth eu sentiria falta! Mesmo a garota sendo irritante vez ou outra, ela sabia ser engraçada e sociável quando queria.

— Bom dia, Grace. — Juliet já estava a postos, na ponta da escada. — Vá lá fora e faça o que tem que fazer, após isso, vá até o quarto dele.

Vesti minhas galochas a fim de não me sujar do barro que infestava o chão após mais uma noite de temporal. Peguei os ovos das galinhas e parei para pensar no que Harry havia me dito no dia anterior. A neve logo cairia, e as pobrezinhas iam para o fogão saciar nossa fome e nos esquentar naquele inverno, dariam uma saborosa sopa. Porém eu ainda sentia pena delas. Depois de tanto alimentá-las, me sentia próxima delas.

Assim como me sentia dos casal de porcos que Juliet tinha quando cheguei naquela casa.

Assim que retornei, fiz o que Juliet me instruiu. Apesar de me sentir afastada das crianças, que já tomavam café da manhã sem mim, eu admitia, estava...empolgada com a presença dele na casa. Apesar de sempre ouvir mulheres falando mal de homens, eu não tinha muita experiência com eles, mas sempre achei que havia um certo exagero no que escutava. O único jeito que arranjei de confirmar os boatos era aquele, estando perto de um.

Estava empolgada também com o fato de ser uma pessoa, alguém novo naquela casa monótona. Um homem, que aparentava ser mais velho que eu, não mais que quatro anos, mas mesmo assim, parecia maduro o bastante para me despertar curiosidades. Alguém que vinha do mundo exterior, de bem longe da casa onde estávamos confinadas há meses intermináveis. Um britânico, que poderia me contar tudo sobre seu país, que me faria lembrar das histórias de meu pai com meus avós  com nostalgia. Um piloto, que poderia me contar qual era a sensação de voar!

Ah, eram tantas perguntas em minha cabeça! E tão pouco tempo para explorar o mundo de Harry. Eu nem ao menos sabia se ele iria querer me contar tanta coisa sobre si mesmo. Dizem que quando se está de frente com a morte, um grande filme de nossa vida se passa diante de nossos olhos. Bom, se Harry quisesse me contar sobre o filme da vida dele antes de morrer, eu seria a espectadora mais ávida do mundo.

Era a primeira vez, desde que tinha chegado ali, que eu não adormecia e amanhecia angustiada pelo paradeiro de meus pais. Não que eu não gostasse de pensar neles, mas pensar neles naquele momento doía, imaginar que ambos poderiam estar em perigo machucava muito mais que uma bala cravada no peito. Então, por hora, era bom ter o soldado conosco, ele iria me distrair de pensar coisas ruins e me manteria ocupada para que eu não tivesse tempo de fazê-lo.

The enemy | H.S.Onde histórias criam vida. Descubra agora