032 - All the bad news

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A prece de Juliet não durou muito tempo, tamanha era sua religiosidade. Ela parecia mais reverenciar aos homens do que o próprio Deus com quem falava.

Assim que terminou, pudemos finalmente comer em paz. Claro que se tratando de uma mesa com pessoas tão diferentes juntas, paz não era bem a palavra que cabia a aquela situação. O silêncio e o desconforto eram quase palpáveis. Nem mesmo as pequenas, com suas brincadeiras bobas conseguiram animar o ambiente.

— Grace, as meninas irão se juntar a você em seu quarto. — Limpou a boca com o guardanapo. — Os rapazes irão ficar com o quarto delas enquanto estiverem conosco.

— Ah, não! Não quero ter que dormir no chão! — Amelia exclamou, com seu dom natural de ser cômica e se utilizar do próprio tamanho para se safar de uma bronca.

Prendi um riso, observando o rosto de Juliet enrubescer rapidamente e se contorcer em descrença. Elizabeth sorriu leve, porém logo enrubesceu quando seu olhar se cruzou com alguém sentado a sua frente. O soldado mais novo, que esboçou um pequeno sorriso, provavelmente achando graça de Amelia.

— Não se preocupe, senhorita Harriet, logo estaremos de partida e seu quarto voltará a ser seu. — Clint a respondeu após segurar a mão de Juliet, que estava pronta para hastear o dedo e soltar uma enxurrada de sermões para cima da pobre criança.

— Eu sou a Harriet! — Corrigiu a outra, ofendida. Eram gêmeas idênticas, era compreensível que alguém desacostumado com ambas as confundissem. Com o passar do tempo, era quase impossível cometer tal erro, afinal, elas eram muito diferentes na personalidade. — Mas eu acho ótimo ficar com Grace, ela nos conta histórias antes de dormir e nos deixa quentinhas.

Elizabeth riu cruzando os braços. Ciumenta. Ela sempre foi responsável pelas gêmeas, porém sua habilidade em contar histórias era zero, Beth sempre foi invejavelmente boa com números e fórmulas matemáticas, já sua imaginação e criatividade eram inexistentes. Eu, que sempre vivi no mundo da lua, ia, vez ou outra, ajuda-la na missão de colocar aquelas duas pestinhas para dormir quando estavam muito agitadas. Aquele era um dos vários motivos que a menina tinha para não ir com a minha cara.

Mandei um beijo para a menor, sorrindo abertamente ao ser elogiada daquele jeito adorável, nunca soube se elas gostavam de minhas histórias. Sempre achei que o segredo estava no meu jeito de falar, com a voz suave, que embalava ambas em seus sonhos mais rápido. Porém, ao que parecia, elas realmente me ouviam e prestavam atenção em meus enredos fantasiosos.

Quando voltei minhas atenções ao meu prato praticamente intocado, cruzei meus olhos com o indivíduo à minha frente. Não parecia ser mera casualidade, mas era muito cedo para começar a ficar paranoica.

***

Ajeitei Amelia e Harriet em seus cobertores enquanto ambas se tremiam de frio ao tentarem se aquecer na cama. Ri fraco sendo acompanhada por Cornélia e Elizabeth. Me sentia melhor vendo-as sorrirem verdadeiramente, algo que não aconteceu muito naquele dia. Parados na porta, Juliet e Clint nos observavam calados. Claramente que não estávamos sendo observadas e sim vigiadas. Não entendia bem o porque, mas ao julgar por todas as vezes em que os homens pareciam pairar sobre nós, eles pareciam não acreditar que não sabíamos de nada.

Mais cedo, durante o preparo do almoço, apesar de ainda não estar me sentindo cem por cento bem fiquei ali, fingindo auxiliar na cozinha. O cheiro dos legumes que Juliet cozinhava fazia meu estômago se revirar. Mas, sempre que me aproximava das meninas, sentia aquele par de olhos azuis pesarem sobre mim. Na primeira achei que era paranoia minha, afinal, o após acontecido na mesa no café da manhã, fiquei com uma impressão ainda pior daquele homem em específico. Mas, quando aconteceu pela terceira vez, comecei a me policiar e desisti, por hora, de tentar falar com Cornélia e Elizabeth.

The enemy | H.S.Onde histórias criam vida. Descubra agora