Grace's point of view.
Despertei sem forças, quase não consegui manter meus olhos abertos, as pálpebras pareciam pesar toneladas, uma força maior me puxava em direção ao colchão macio que abrigava meu corpo. Remexi-me naquela cama sem entender onde estava nem como havia parado lá. O silêncio a minha volta trazia-me uma familiaridade gostosa, como se eu estivesse de volta a casa dos meus pais. Sabia que era impossível, porém não pude deixar de me enganar por um instante e voltei a ressonar tranquila, como se nada tivesse acontecido, como se esperasse mamãe vir me arrancar da cama reclamando que já tinha dormido demais.
O que de fato aconteceu, mesmo após parecer ter se passado horas desde a última vez que tive meus olhos abertos, eu ainda sentia um sono descomunal, e fome, meu estômago chegou a roncar no momento em que eu despertei. Porém me rendi ao cansaço, caindo na escuridão sem fim que eram meus sonhos, que nada mais era que uma grande imensidão vazia. Não via rosto algum, nem de mamãe, nem de meu pai, Cornélia ou Elizabeth, ninguém. Porém eu podia jurar que havia sentido o cheiro dele. Aquela sensação de aconchego me acompanhou até o momento em que finalmente despertei por completo.
Me perguntei até quando eu me sentiria daquela maneira.
Meus olhos varreram aquele quarto bem arrumado algumas vezes, as janelas grandes estavam cobertas por grossas cortinas claras que me permitiam saber que já era dia. Impulsionei meu corpo para fora daquela cama sentindo a tontura tomar conta de meu corpo, a força mínima que fiz para empurrar aquele par de cobertas enormes de cima de mim me fez descobrir um ferimento em meu braço. Que já havia ganhado um curativo apropriado.
Ouvi passos do lado de fora, não eram de duas ou três pessoas só, eram várias, o que de certa forma me apavorou. Eu já não estava mais na casa de Juliet, muito menos na minha antiga residência, não me recordava de ter ido tão longe ao ponto de completar meu caminho até a casa do sargento alemão. Então onde diabos eu estava? Pior, de quem eram todos aqueles passos?
Levei minha mão a minha barriga tentando acalmar minha respiração que se agitou, acompanhando as batidas do meu coração. Eu já havia passado por tantas coisas ruins que imaginar o que poderia me esperar detrás daquela porta me causava pânico. Vozes masculinas penetravam em meus ouvidos causando-me cada vez mais medo. Homens, muitos deles, o que eu faria ali sozinha? E se quisessem me fazer mal, e o meu filho, como eu iria nos defender?
A porta foi aberta e meu coração quase saiu pela boca, cobri meu corpo e cabeça com os cobertores ao ver a figura masculina se aproximar da cama. Estava uniformizado, e aquele não se parecia com a farda que eu tinha sido obrigada a vestir. Não era um soviético. E aquela informação me acalmava ao mesmo tempo em que me aterrorizava. Eu havia traído meu país para ajudar Harry, que por sua vez era um inimigo. No fim, eu acabei virando um alvo em comum de ambos os lados.
— Grace, tudo bem. Não vou te machucar. — Sua voz era suave, e definitivamente seu sotaque era marcante, falava inglês. Me assustei ao ouvir meu nome em meio as suas promessas duvidosas.
Como eu poderia confiar nele? Eu não confiava em mais ninguém além de Yuri, Cornélia e Elizabeth. Eram as únicas pessoas restantes na minha vida, além do meu filho é claro.
Os cobertores foram puxados aos poucos de cima de mim, me encolhi toda com medo do que ele poderia fazer comigo. Puxei de volta, porém ainda estava fraca demais. Quando me vi desprotegida, tentei ao máximo me afastar dele.
— Quem é você e que lugar é esse?
— Sou Niall, está tudo bem. — Seus gestos apaziguadores não me convenciam nem um pouco. — Grace, eu não vou te fazer mal. Está a salvo aqui.
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The enemy | H.S.
Roman d'amourO ano é 1940, o mundo vive os horrores da Segunda guerra mundial. Com temperaturas insuportavelmente baixas, a União Soviética decide ordenar que todos deixem suas casas e destruam qualquer coisa que possa ser proveitosa ao inimigo. Grace Dubrov é l...