042 - Tell me you love me

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Seguimos viagem logo, não era seguro ficarmos parados por muito tempo, os homens fizeram suas necessidades em uma área afastada e bebemos um pouco de água antes de subir de volta ao veículo. Apesar do susto que passei, todos os outros estavam agindo normalmente, fiquei calada por horas, abraçando meus joelhos e pensando em tudo.

Não queria chorar, na verdade nem ao menos sabia se ainda tinha lágrimas para fazê-lo. Quando a guerra foi anunciada eu apenas torci para que acabasse logo e que meus pais e eu ficássemos seguros até o fim. Os meses foram passando e claro que minha lista de pessoas que eu pedia aos céus proteção aumentou. Senti-me dilacerada ao olhar em minha volta e apenas ver Harry e Yuri ali. Era aquilo, era tudo o que havia me restado, fechei os olhos e numa prece desesperada desejei que meus avós também estivessem bem onde quer que estivessem.

Sabia que estar viva a aquela altura era uma dádiva, sentia que devia aproveitar e apreciar minha vida ao máximo, ir aos lugares que queria ir, falar tudo o que sentia e queria falar, viver e ver a beleza de cada pequena coisa que me rodeasse. Por Cornélia, Amelie, Harriet, Elizabeth, mamãe e papai. Eles ainda estavam vivos dentro de mim, sentia que eles queriam que eu fosse feliz, então lutar pela minha felicidade era o mínimo que eu devia a eles.

Percebi um par de olhos claros me encarando de longe, foquei-me em Harry e recebi um sorriso reconfortante vindo dele, que apesar de estar com sua arma agora carregada apontada para fora do veículo fazendo a segurança, insistia em me checar a cada cinco minutos durante todo o trajeto. Mesmo quando fechava meus olhos eu podia sentir seu olhar sobre mim. Era inexplicável como me sentia segura ao encarar sua figura, e eu não deveria me sentir daquele modo. Harry era a personificação de minha insegurança, tinha mentido para mim, fingido um sentimento que para mim foi verdadeiro. Mas meu corpo contrariava toda aquela lógica e ainda assim reagia a seu olhar, sua voz e seu toque.

Eu queria tanto ter forças para fugir daquele sentimento. Saber que eu ainda teria mais alguns meses ao lado dele me desesperava. Eu não sabia o que fazer, tinha medo de ceder como fiz no banheiro. Minha razão me abandonava quando Harry se aproximava de mim. Tinha medo de me machucar ainda mais. Se ele pelo menos me dissesse algo...sabia que suas atitudes boas poderiam ser interpretadas como remorso ou até mesmo pelo fato de eu estar carregando o filho dele.

Uma parte de mim queria acreditar que ele talvez se importasse um pouco comigo, que sentisse algo por mim, a única coisa que Harry já disse sobre sentir algo por mim foi que ele não sabia o que sentia, e para mim não saber o que se passa no próprio coração era um mal sinal. Eu sabia o que sentia por ele, tinha certeza, e não tinha como não saber! Meu coração jamais me enganou. Acho que se o que ele sente fosse realmente algo concreto e real, Harry não teria dúvidas.

Paramos um pouco quando já tinha anoitecido, Yuri me pediu para avisar a Gibson que algumas rotas eram arriscadas por conta da invasão alemã. Fiquei feliz quando Harry o deixou seguir viagem conosco, precisava de Yuri ali, olhar para seu rosto e ter certeza de que ele estava bem. Styles não pareceu gostar muito da minha ideia, porém Gibson o aceitou no grupo por ter percebido seus conhecimentos médicos e também para ajudar caso algo desse errado no meio do caminho.

Durante o trajeto cada um ficou para um lado, todas as vezes em que Yuri se aproximou de Harry, o mesmo se desviava de seu caminho. Meu amigo não falava inglês, tampouco entendia, mas com toda a certeza entendeu que Harry não gostava nem um pouco dele apenas pelos olhares que recebeu. Ainda não compreendia aquela atitude, os outros trataram Yuri bem, até mesmo John, que nutria um ódio de guerras passadas de nós soviéticos, pareceu recebê-lo bem na medida do possível. Styles estava levando as coisas para o pessoal, mas, porque? Ele nem conhecia Yuri, sequer ouviu falar dele, como alguém conseguia simplesmente não gostar de outra pessoa em tão pouco tempo de convivência?

The enemy | H.S.Onde histórias criam vida. Descubra agora