029 - I can't breathe

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Adentrei o quarto ainda trêmula de ódio. Não gostava nem um pouco quando aquele sentimento ruim tomava conta de meu corpo. Ódio não combinava com a pessoa que eu era e tinha sido criada para ser, meus pais me ensinaram valores, a verdade, a sinceridade e o respeito tinham que estar acima de tudo para mim. Meu pai dizia que o mal e o ódio só nos levavam as ruínas, decisões e atitudes erradas. E eu não conseguia me reconhecer quando estava sob o efeito de tal sentimento, parecia que outra tomava meu lugar em minha própria consciência e eu ficava de lado, assistindo a tudo sem ter controle algum de minhas ações e palavras.

Ao colocar o café da manhã de Harry sobre a cômoda, percebi a ausência do lençol no colchão, só havia uma coberta em cima da cama e não duas como de costume.

— Harry? — Fui até o banheiro apressada.

A primeira e única coisa que se passou pela minha cabeça foi a possibilidade de ele ter cometido uma loucura. Se o lençol não estava na cama, poderia estar envolta de seu pescoço! Não! Harry não seria capaz daquilo, ou seria? Ele sabia que iria morrer, sabia o que lhe aconteceria, das sessões de tortura e da morte lenta e dolorosa que o esperava.

Tirar a própria vida era mais fácil do que morrer nas mãos do inimigo. Ainda mais sabendo o quão orgulhoso Harry poderia ser em relação a guerra. Ele nunca se entregaria fácil assim, de bandeja. Não daria aquele gostinho aos Soviéticos de assumir a autoria de sua morte. Não havia outra saída, aquele era o único jeito de escapar de seu destino já traçado.

— Graças a Deus. — Meu alívio em chegar no banheiro e não encontrá-lo morto foi gigante. Encostei-me na porta ainda tentando normalizar minha respiração e reorganizar meus pensamentos. Mas, ao me dar conta de que ele também não estava ali, fiquei confusa. Onde mais Harry estaria? Ele só tinha acesso ao banheiro naquela casa! — Harry? — Sussurrei procurando-o detrás da porta.

Que idiotice a minha, ele era um homem grande, se estivesse se escondendo ou coisa do tipo não escolheria qualquer lugar. Voltei para o quarto olhando em volta, atenta, sabia que ele surgiria de algum lugar para me dar um susto. Tinha que ser aquela explicação, caso o contrário, eu não saberia o que fazer!

Ele não podia ter desaparecido do nada!

Me abaixei para espiar debaixo da cama e meu coração quase parou de bater quando me dei conta de que a caixa preta da aeronave dele também não estava mais ali. Escorreguei sentando-me no chão apavorada. Minha cabeça estava a mil, tentando achar pelo menos uma resposta em meio as milhões de perguntas que me surgiam. Reparei também que suas botas tinham sumido também.

Olhei em volta vendo-me sozinha naquele quarto.

Mas como? Como ele tinha fugido sem que ninguém percebesse?

Fui até a janela sentindo-me tonta, não apenas pela rapidez com que me levantei mas também por já estar praticamente sem ar. Forcei as grades algumas vezes, mas estava claro que elas não tinham como serem abertas, por mais forte que ele fosse. Estavam fechadas há anos e tão velhas que com certeza fariam um barulho enorme caso Harry conseguisse abri-las.

Sentia minha garganta se rasgar por dentro, tamanho o nó que se formava. Eu queria gritar, o mais alto que eu conseguiria, quem sabe, onde quer que Harry estivesse lá fora, pudesse ouvir e fazê-lo sentir pelo menos um pouco da minha dor ao saber que fui deixada daquele jeito. Sem nenhuma explicação, sem aviso prévio, como se eu fosse um nada, como se tudo o que passamos juntos não significasse absolutamente nada para ele.

Ainda completamente atônita, abri a porta e corri o mais rápido que pude até a porta da frente. Juliet e as meninas, espantadas pela minha correria repentina, me chamavam aos berros, porém eu quase não as ouvia. Parecia que eu estava sendo presa debaixo da água, onde os sons soavam abafados e distantes e eu não podia respirar.

The enemy | H.S.Onde histórias criam vida. Descubra agora