Querida Juliet.
Sinto falta de te ter em meus braços, mesmo depois de anos, ainda tenho a sensação de seu corpo junto ao meu. Já te disse várias vezes, prometi que a tornaria minha esposa, mas infelizmente ainda tenho Irina me esperando quando essa guerra acabar. Será que poderia me esperar por mais algum tempo? Lembro-me de ter ouvido a mesma pergunta saindo de seus lábios maravilhosos, Ivan e você tinham acabado de se casar. Te esperei durante anos, me contentando em apenas te ter ás escondidas, te dividir com meu melhor amigo que não merecia uma mulher como você. Ivan partiu sem te dar um filho, uma pena que a criança que teríamos juntos teve de ser sacrificada pelo bem de nosso segredo.
Bom, as coisas aqui não estão muito boas para o nosso lado, atacaram nosso porto, destruíram nossos navios e o que sobrou da marinha estará em combate conosco quando chegar a nossa hora de atacar. A Inglaterra irá nos pagar por tudo o que está fazendo contra nós, e vai pagar caro.
Chequei o que me pediu e não existem sobreviventes como prevemos. As águas frias do Atlântico não devem ter permitido que houvesse alguém ainda com vida após aquele bombardeio completamente covarde, não eram nem navios de guerra!
Sugiro que dê a notícia a suas meninas, deixe-as cientes de quem foi o culpado pela morte de seus pais, para que ela se juntem a nós no mesmo sentimento e desejo de vingança. Peço que nos mande boas energias, a Alemanha já tem os ingleses como alvo e não irá demorar muito para que os ataques comecem, logo estaremos juntos nesta batalha pela memória dos nossos.
Um beijo e até uma próxima vez, minha amada Juliet.
" ...quem foi o culpado pela morte de seus pais"
Precisei ler aquele trecho mais de duas vezes para ter certeza de que não tinha interpretado errado, depois, li mais duas já com o coração quase saindo pela boca. Não era possível, não, tinha que ser mentira, não podia ser verdade, não podia estar acontecendo algo tão horrível com a minha vida, com as nossas vidas!
— Mortos? Nossos pais, mortos? — Deixei que o papel deslizasse por meus dedos, meus sentidos estavam tão sensíveis que pude ouvir o ruído mínimo que ele fez quando atingiu o chão.
Busquei algum encosto quando aquela tontura forte me atingiu, me apoiei na pia gélida do banheiro com todas as minhas forças, segurando-me enquanto me sentava devagar no piso juntando-me a carta que estava caída aberta ao lado. Eu iria cair a qualquer momento, sentia como se não conseguisse sustentar o peso de meu corpo em minhas pernas bambas.
Eu não podia acreditar, não conseguia nem ao menos raciocinar direito naquele momento. Parecia um pesadelo interminável, quando eu imaginava algo de bom ainda tinha me sobrado, tudo mudava e mais alguém que eu amava era tirado de mim! Primeiro tinha perdido Harry, depois descoberto que estava grávida e, como se tudo não pudesse ficar ainda pior, tinha perdido meus pais? As únicas pessoas que eu tinha. A dor tomou meu coração e era apenas a única parte que faltava doer após a surra que Juliet tinha me dado.
Meu maior medo estava acontecendo, eu estava sozinha. Completamente sozinha no mundo. Quero dizer, eu e meu bebê. Solucei agarrando-me na superfície dura de cerâmica, que naquele momento era meu único consolo. Senti meu rosto gelar com a baixa temperatura, mas justo quando eu precisava de calor humano era o momento em que ele estava mais escasso.
Nem meu pai, nem minha mãe conheceria meu filho. Lembrei-me de lamentar que meus pais não estiveram presentes no meu "casamento" com Styles, mas não tê-los comigo ao dar a luz ao único neto deles? Aquilo era dilacerante. Fazia-me querer cometer uma besteira para poder ir com eles, onde quer que eles tenham ido.
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The enemy | H.S.
RomanceO ano é 1940, o mundo vive os horrores da Segunda guerra mundial. Com temperaturas insuportavelmente baixas, a União Soviética decide ordenar que todos deixem suas casas e destruam qualquer coisa que possa ser proveitosa ao inimigo. Grace Dubrov é l...