025 - Dancing in the silence

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Os Soviéticos estavam tão perto que mesmo forçando-me a esquecer do que estava prestes a acontecer para não sofrer antecipadamente, nem desperdiçar o tempo que eu ainda o tinha comigo eu já não conseguia ignorar tudo aquilo. Iria acontecer! E estava cada vez mais difícil fingir que estava tudo bem.

Mas eu não queria contagiá-lo com meu sofrimento, afinal, era Harry quem iria partir! Eu não seria torturada nem morta. Era melhor disfarçar minhas preocupações para não assustá-lo, apesar de ser quase impossível que ele não estivesse temendo tudo o que aconteceria nos próximos dias. Harry apenas não queria demonstrar. Aparentemente estava tão calmo que chegava a me intrigar.

Não seria eu a responsável por fazê-lo se preocupar com o dia de amanhã. Talvez Styles só estivesse tentando fugir da realidade.

— E-Eu queria te dizer algumas coisas... — minha voz surgiu rouca em meio ao silêncio no quarto. Pigarreei, tentando normalizá-la e me afastei um pouco a fim de olhar em seus olhos claros. — Não sei se você fez seus votos, nem se isso pode ser considerado voto... Queria te agradecer por ter entrado na minha vida. Harry você chegou num momento tão conturbado... — Respirei fundo já sentindo os olhos marejarem. — Eu passava os dias olhando pela janela, esperando algo, não sei, meus pais vindo me buscar o que simplesmente num piscar de olhos meus essa guerra terrível acabasse. E parecia uma eternidade! Eu não tinha nada a que eu pudesse me agarrar, que me motivasse a ser forte. E então você chegou. — As lágrimas escorreram. — E foi como se uma luz forte invadisse a escuridão. Muito obrigada, Harry. Eu estou muito feliz de ter me casado com o homem incrível que você é.

— E-Eu não sou incrível, Grace. — Neguei veemente com a cabeça discordando de imediato. — Não mereço nenhum agradecimento, muito menos te mereço. — Secou meu rosto com delicadeza.

— Queria poder te emprestar os meus olhos, para que você pudesse se ver através deles.

Styles, que tinha o semblante sério, soltou uma risadinha olhando-me com uma intensidade arrepiante. Acho que nunca seria livre daquele efeito que Harry causava em mim. Era quase que uma hipnose, eu não conseguia sair daquele transe.

— Eu iria te ver nua todos os dias na hora do banho. — Levei a mão ao rosto sentindo-o arder em vergonha.

— Bobo. — Sorria tanto, mas tanto, que meu rosto chegava a doer. Seus lábios depositaram um beijo demorado em minha testa.

— Eu é quem tem que te agradecer, você salvou a minha vida. — Franzi a testa diante de sua fala.

Bem que eu queria salvar a vida dele. Acho que Harry falava no sentido figurado. Se fosse, ele também havia salvo a minha. Imaginar que os dias em que estive com ele não tivessem existido fazia-me pensar que talvez eu não teria sido tão feliz sozinha naquela casa.

Todo o risco que corremos para ficar juntos havia valido a pena.

Suspirei e voltei a deitar minha cabeça em seu ombro. Sei que Styles havia dito que não poderíamos nos dar ao luxo de fechar os olhos por míseros segundos, mas naquele momento eu fechei os meus.

Queria gravar cada mínimo detalhe daquele momento, o cheiro dele, o modo como seus olhos estavam mais verdes naquela manhã, a textura da sua roupa tocando minha mão, queria decorar até mesmo as batidas do seu coração que pulsava contra o meu peito.

— Harry. — após receber um murmúrio dele como resposta, continuei ainda abraçada a ele. — você pode cantar uma música pra mim?

Após um breve silêncio, ele pegou minha mão e começou a se balançar devagar e, após encostar sua cabeça na minha, começou a cantar baixinho.

The enemy | H.S.Onde histórias criam vida. Descubra agora