Grace's point of view.
Deixei a louça suja na pia e fui direto para o banheiro, lavei o rosto a fim de tirar aquele aspecto de que tinha chorado. Juliet logo me chamou do andar debaixo para almoçar. Eu era a última a comer durante as refeições, priorizava Harry e só comia após sair do seu quarto. Me sentia um pouco tonta, minha cabeça estava começando a doer.
Desci as escadas de volta para a cozinha, apesar de já estar com a barriga roncando, eu queria apenas me deitar em minha cama e chorar o dia todo debaixo das cobertas. Sabia que aquele dia iria chegar, que Juliet iria conseguir falar com os soldados, mas não imaginava que seria tão rápido. A verdade era que eu estava preferindo fingir que não iria acontecer.
Se toda vez que visse Harry começasse a chorar por medo de ser nosso último dia juntos, não aproveitaria sua companhia direito. Queria que Cornélia não tivesse me contado aquilo, estávamos tão felizes sem saber quanto tempo ainda tínhamos, era quase como se não existisse um prazo para que nos separássemos.
Não conseguia parar de pensar no que ele tinha me pedido, era loucura! Ir mexer em sua aeronave e correr o risco de ser pega. Eu não conseguia ao menos imaginar no que Juliet era capaz de fazer comigo se soubesse que eu estava ajudando Harry e "traindo meu país".
A única coisa que eu poderia fazer para Harry era ficar ao seu lado, até que os homens chegassem e o levasse para longe pra sempre. Era a única coisa que estava ao meu alcance. Amar Styles tinha sido a única coisa que tive coragem o bastante para fazer. Era uma tragédia anunciada desde o início, eu não deveria ter me entregado tanto a ele, porém não me arrependia de nenhum beijo trocado sequer.
E, se pudesse fazer tudo novamente, o beijaria ainda mais.
— Cornélia falou com você? — Juliet surgiu na cozinha enquanto eu lavava as louças que sujei em meu almoço.
Fiquei estática pensando se deveria confessar que já sabia de tudo, que a menina tinha me contado que iriam sair. Não a conhecia muito bem, mas o bastante para saber que Juliet odiava fofocas justamente por guardar tantos segredos. Quando ela compartilhava algo com alguém era tão raro que a outra pessoa deveria levar o que ouviu para o túmulo.
Ela deveria saber que não se pode confiar um segredo com uma criança de oito anos. Ainda mais uma informação tão vaga que pode ter tantas interpretações que Cornélia achou que estava tudo bem partilhar comigo.
— Decidi dar uma pausa nas aulas dela, até que ela se decida se quer continuar ou não. — Virei meu rosto para o lado, encarando-a pelo canto dos olhos.
Ah, era sobre as aulas de música. Estranhei o jeito com que ela falava. Como se nós duas compartilhássemos Cornélia como aluna. O que não era verdade, as aulas eram minhas, tinha sido eu que a havia ensinado as notas, os compassos, os tons e cada um dos significados das figuras estampadas nas partituras. Chegava a ser ridículo ela falar daquela forma.
— Falei com ela esses dias, estou tentando convencê-la a continuar. Estou dando um tempo para ela pensar.
— Enquanto ela pensa, que tal retomarmos as aulas de costura?
Me animei com a ideia, quem sabe eu conseguiria terminar o vestido que eu tinha começado e usá-lo para que Harry o visse? Ele já tinha me dito que adorou o outro que ajudei minha mãe a fazer, imagine se ele visse o que fiz sozinha.
Estávamos correndo contra o tempo, então, teria que ficar pronto logo para que ele pudesse me ver usando-o. Desde que começamos a nos envolver, percebi que eu estava mais preocupada com minha aparência, tentava deixar meus cabelos soltos sempre que possível pois sabia que ele gostava. Também por eu ter reparado que prender meus cabelos fazia-me parecer infantil por deixar meu rosto mais redondo.
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The enemy | H.S.
RomanceO ano é 1940, o mundo vive os horrores da Segunda guerra mundial. Com temperaturas insuportavelmente baixas, a União Soviética decide ordenar que todos deixem suas casas e destruam qualquer coisa que possa ser proveitosa ao inimigo. Grace Dubrov é l...