022 - Jealous

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Voltei a esconder o aparelho, daquela vez fiz meu trabalho direito. Deitei-me na cama pensando que deveria agradecer por pelo menos ter conseguido consertar o dispositivo, podia ser muito pior, ele poderia nem ligar mais. Cai num sono profundo, afinal, tinha passado metade da noite anterior tentando consertar o aparelho, e a outra metade dormi sentado num chão duro. Minhas costas quase criaram vida e agradeceram quando relaxei sob o colchão macio.

Sonhei com tantas coisas que nem ao menos soube assimilar o que era sonho e o que eram lembranças que me vinham a cabeça enquanto estava inconsciente. Acordei com Grace trazendo meu almoço. Ficamos um tempo juntos após eu terminar minha refeição, logo a menina ia embora deixando-me sozinho outra vez. Após algum tempo sem que ninguém adentrasse o quarto, fui até o banheiro e voltei a fuçar o equipamento.

Como da última vez, sentei-me com as costas apoiadas na porta de madeira, assim eu conseguiria segurar um pouco caso alguém chegasse de repente. Afinal, ainda era um intruso ali, e ao contrário de um hóspede, eu não tinha muito direito à privacidade e afins. Ninguém bateria na porta e pediria licença antes de entrar. Juliet devia achar que eu deveria agradecer pelos banhos e pela comida, que estava me fazendo um favor mantendo-me vivo para que os Soviéticos pudessem me matar.

As duas luzes continuavam acesas, porém, daquela vez, oscilavam causando-me uma intensa preocupação. E se apagassem? Eu nunca teria como falar com ninguém, provar que estava vivo, pedir socorro.

Ofegante, tentei juntar um fio azul restante, torcendo todos juntos e implorando aos céus que desse certo.

Logo, a terceira luz se acendeu. Fazendo meu coração praticamente sair pela boca.

— T...em...al...guem...ai?

1 dia e 48 horas antes da chegada dos Soviéticos;

Grace's point of view.

— Bom dia. — Cantarolei ao fechar a porta atrás de mim. Encarei Harry já sentado na cama e espantei-me. — Caiu da cama, foi?

Geralmente eu o pegava ainda despertando de seu sono pesado, era adorável ver seu rosto inchado de sono pela manhã. Sempre me pegava imaginando como seria acordar ao seu lado, sonhava algo impossível pelos cantos, queria poder tornar tudo o que minha imaginação fértil e romântica criava realidade.

Tudo o que eu planejava tinha Harry envolvido, sempre que eu pensava sobre o futuro, por mais longínquo e incerto que ele parecesse, o colocava ao meu lado, onde quer que eu estivesse. Era triste saber que ele só estaria comigo em pensamento. Com o passar das horas, ambos sabíamos que ficava cada vez mais perto de nos despedirmos para sempre.

Meu próximo plano era aproveitá-lo ao máximo. Mas também não chorar ou demonstrar tristeza. Eram seus últimos dias de vida na Terra, eu tinha a missão de fazê-lo feliz, apesar das circunstâncias, fazê-lo sorrir e viver coisas boas enquanto ainda estava vivo. Pensar nos próximos dias causava-me arrepios. Não apenas por mim, mas também por ele, pensar em Harry sendo torturado até a morte me fazia querer chorar compulsivamente. Era uma sensação dilacerante saber que não podia fazer nada para impedir.

Se pudesse, fugia com ele, para qualquer lugar que fosse.

Mas não era tão fácil assim, apenas desaparecer do mapa com o amor da minha vida. Primeiro porque não iríamos muito longe com a quantidade de neve que já havia caído, somada a perna recém-curada de Harry. Eu não era fisicamente apta a carregá-lo para fora. E, também, para onde iríamos? Seríamos pegos facilmente, e aí, seriam dois mortos, porque Juliet não iria admitir uma traição vinda de mim. Fora que, apesar de estar completamente apaixonada por Styles, eu ainda esperava meus pais, e não planejava deixar aquela casa se não fosse acompanhada por eles.

The enemy | H.S.Onde histórias criam vida. Descubra agora