003 - Guns and shots

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Assustada, larguei o copo sobre a pia e corri depressa para o meu quarto, cobrindo-me dos pés até a cabeça com os cobertores grossos. Quando minha respiração voltou ao normal, cai num sono profundo sendo embalada pela chuva, que era a melhor canção de ninar depois da voz de minha mãe.

Acordei na manhã seguinte com uma sensação estranha. Fiz minha cama e ajudei Cornélia com a dela, a menina ainda tinha sono, havia ficado até tarde acordada, preocupada com o irmão. Perguntei se ela não tinha escutado nada durante a madrugada, ela negou, nem ao menos viu se eu havia saído da cama.

— Grace? — Elizabeth surgiu em minha frente, assustando-me. Pisquei algumas vezes, me situando. — Juliet está chamando, não ouviu?

— Desculpe, estava distraída. — Passei por ela, descendo as escadas rapidamente. — Precisa de algo?

— Os ovos. — Assenti devagar, apesar de não entender de início que a mulher me disse. — Para o café. — Ergueu as sobrancelhas. — O que há com você menina?

— Eu tive um sonho...confuso, eu acho. — Cocei a cabeça sem saber que palavra que definiria aquele sonho. Eu nem ao menos sabia se estava sonhando ou tinha realmente acontecido. 

Mas se fosse real? Eu tinha mesmo que ir lá fora sozinha?

Respirei fundo e fui a procura de minhas galochas, a chuva já tinha cessado, e eu me aventurava entre as galinhas pegando seus ovos e colocando-os na cesta. Um barulho veio da mata, meu corpo estremeceu instantaneamente. Ofeguei procurando ao redor, não via nada, mas então o barulho continuou me dando certeza de que aquilo na noite anterior não havia sido um sonho.

— T-Tem alguém aí? — Dei passos incertos em direção a mata. Parei bruscamente quando ouvi um gemido de dor. — Responda por favor! — Falei mais alto, andando com mais segurança até onde vinha o barulho. 

Adentrei a mata, que conhecia muito bem, afinal adorava ficar lá fora, ao ar livre. No dia que meus pais me levaram para a casa, Juliet lhes assegurou que a região era segura, seu terreno era enorme e quase não havia sinal de vizinhança. Logo, eu não tinha medo de ficar por ali e explorar quanto tempo quisesse. Mas mesmo que não conhecesse o local, era uma pessoa machucada! E não um animal selvagem ou, sei lá, um monstro, como minha imaginação fértil estava me dizendo.

Quem quer que fosse ali, precisava da minha ajuda. 

Curiosa, avistei o objeto que tinha visto cair noite passada. Era uma aeronave pequena, um caça para combate aéreo. Eu já havia visto um nos livros que haviam em casa, mas nunca pessoalmente. Era impressionante, devo admitir. Sua asa esquerda estava destruída e vários pontos da lataria se encontravam amassados. Me aproximei devagar, rodeei o avião enxergando o roundel* da RAF*. 

Recuei apreensiva, o desenho circular azul e vermelho, era um britânico. Procurei em volta, nenhum sinal do homem, que claramente havia sido ejetado da aeronave, porque não havia nenhum ferido ali.

— Se você atirar, eu atiro! — Num pulo de susto, virei-me encontrando Juliet com uma espingarda enorme em mãos.

— Eu não entendo porra nenhuma do que você fala! — Respondeu o inglês, parado entre nós duas.

Analisei a situação e comecei a suar frio quando avistei sua arma apontada para mim. Seus olhos claros estavam vidrados, como se ele não dormisse há tempos. Apesar de estar sujo, e com um ferimento aparente no braço, sua mão parecia firme e tinha um dedo encaixado no gatilho.

Pronto para atirar.

— E-Ele não te entende, Juliet. — A mulher suspirou alto, ainda mirando na cabeça dele. — Ela disse que irá atirar em você se atirar em mim. — O homem me olhou surpreso, provavelmente por eu saber falar inglês.

The enemy | H.S.Onde histórias criam vida. Descubra agora