008 - Stay

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Grace's point of view.

Ofegante, corri até chegar no meio do corredor, ouvia vozes na cozinha. Parei por um instante, tentando normalizar minha respiração. Eu estava incrédula. Como exatamente aquilo havia acontecido?

— Grace? — Elizabeth espiava-me da cozinha. — Está tudo bem?

— S-Sim. — Ri nervosa, passando as mãos por meus cabelos. Adentrei a cozinha e atrai o olhar de Juliet, que me analisava deixando-me nervosa.

— Está pálida. — Não sabia o que era pior, estar branca como se tivesse acabado de ver um fantasma, ou estar vermelha como quando ele tinha me olhando tão fixamente.

Pensar naquilo fez meu rosto voltar a queimar.

— Ainda não tomei café da manhã, deve ser por isso. — Tossi algumas vezes, puxando uma das cadeiras e me sentando a mesa.

— Onde está a louça que levou? Elizabeth já está terminando de lavar.

— Ah, me esqueci de trazer. — Bati em minha própria testa.

Eu estava torcendo para que Juliet não me fizesse ir buscar. Não saberia com que cara voltaria a entrar naquele quarto e dar de cara com Harry. Sabia que teria que ir mais cedo ou mais tarde. Mas, até que interpretasse o que havia acabado de acontecer, preferia ficar longe daquele cômodo da casa.

— Tudo bem, daqui a pouco irei trocar o curativo dele e trago.

Estava mais tranquila em não ter que voltar lá. Após terminar meu café da manhã, lavei o que tinha sujado e fui até a sala de estar, onde o restante das meninas estava concentrada.

Juliet deixou a sala indo atrás de sua maleta de medicamentos, logo sumiu pelo corredor. Me peguei pensando em como ela iria tratá-lo na posição de poder que ela estava sobre ele. Da pior maneira possível, aquela era a resposta.

— Grace, venha. — Cornélia me chamou, já sentada na banqueta do piano preto. Não era novo, porém estava afinado sempre. A menina estava aprendendo aos poucos comigo.

Ela ainda estava decorando as teclas e as notas. Começamos a tocar sua favorita, "für Elise", de Beethoven. Era uma melodia pequena, mais fácil para memorização. Eu tocava a clave de fá enquanto a mais nova a clave de sol.

Eu adorava ensiná-la. Sentia que estava realmente fazendo algo útil ali. As outras não tinham tanto interesse em aprender a música, eu sempre tive uma enorme paixão por pianos. Mamãe não tinha um, porém tínhamos um teclado em casa, e foi com ele que ela me ensinou tudo o que sabia.

Me distrai enquanto a ouvia tocar "Noite feliz", ainda lento demais por estar aprendendo, chamava sua atenção para eventuais erros ou às posições dos dedos.

Levei minhas mãos aos meus cabelos. Eu tinha lavado na noite passada, peguei uma mecha grande, sentindo a maciez dos fios, e involuntariamente a levei até meu nariz, sentindo o cheiro do shampoo ainda exalar. Contive meu sorriso ao lembrar do que Harry havia me dito. Ele disse que estava cheiroso.

Ele estava sendo sincero então. Ele tinha cheirado meus cabelos, tinha dado sorrisos para mim e eu não sabia muito bem como reagir quando ele me olhava. Harry tinha os olhos tão lindos, verdes, eu pude ver de perto a cor quando estávamos próximos. E seus lábios, tão macios!

Eu ainda não estava acreditando que ele tinha me beijado! E eu tinha saído correndo como um animal medroso! Céus, queria abrir um buraco e enfiar minha cabeça nele.

Eu deveria ter ficado? Mas...quase não o conhecia direito, seria errado beijar um desconhecido? Pior, um inimigo, como a própria Juliet considerava Styles.

— Grace? — Dei um pequeno pulo de susto ao ser sacudida por um par de mãos. — Onde estava? No mundo da lua? — Encarei os olhos castanho de Cornélia e pude ouvir a risada de Elizabeth ao fundo.

— Você está muito estranha hoje, Grace. — Harriet comentou, fazendo uma careta estranha.

— Mais que o normal. — Concluiu Elizabeth, com sua mania de implicância.

— Isto é coisa da cabeça de vocês, eu estou bem.

— O que houve? — A mulher chegou na sala, estranho aquele pequeno círculo montado em minha volta.

— Nada. — Encarei Elizabeth, recebendo um breve aceno de cabeça. Ela tinha entendido o que eu queria dizer.

Que não queria ninguém cuidado de minha vida. Eu esperava que ela, por estar responsável pelas mais novas, me fizesse o favor de controlar as outras e suas respectivas curiosidades.

— Tudo bem meninas, voltem para suas atividades. — Juliet ordenou, fazendo as meninas se dispersarem rapidamente. Elizabeth voltou a ajudar Amelie com sua leitura, Harriet por sua vez, pintava um de seus desenhos, já Cornélia recomeçou a tocar.

Fiquei ao seu lado durante todo o tempo. Eu não tinha o que fazer, Juliet estava me ajudando com a costura em sua máquina que ficava em seu quarto, mas ela parecia ocupada demais para tirar um tempo para voltar a me auxiliar. Eu sabia um pouco, afinal, minha mãe é costureira, porém ainda tinha algumas dificuldades. E mesmo que não tivesse, Juliet nunca me deixou entrar sozinha em seu quarto, nenhuma de nós podia estar ali sem que ela estivesse junto.


***


Já estava entardecendo quando Juliet me mandou levar o analgésico de Harry. Mesmo nervosa a obedeci, indo até o quarto e o encontrando pensativo, encarando o teto.

Assim que ouviu a porta abrir, encarou-me levantando seu tronco. Baixei minha cabeça, lhe estendendo o copo d'água e o comprimido pequeno. Harry recolheu de minhas mãos e o engoliu com a ajuda da água.

— Grace, espere! — Pegou meu pulso, impedindo-me de ir. Finalmente o olhei nos olhos, sentia meu rosto voltar a queimar. — Me desculpe por hoje, eu não sei onde estava com a cabeça de te beijar daquele jeito eu...

— Está tudo bem. Eu apenas me assustei. — Sentia todo aquele sentimento estranhamente bom ao lembrar do beijo de mais cedo se esvair.

Ele tinha se arrependido. E se tinha arrependimento era porque não havia gostado. Sabia que não conseguiria esconder minha tristeza, até porque já sentia meus olhos começarem a arder. Eu tinha ficado tão encantada com tudo o que Harry tinha demonstrado mais cedo, e saber que ele não estava feliz como eu estava fazia-me sentir péssima. Porque no fundo, quando se começa a gostar de outra pessoa, a gente espera um pouco de reciprocidade.

Andei apressadamente em direção a saída. Precisava me trancar no banheiro, onde teria um pouco de paz e ficaria longe das perguntas e olhares das meninas. Imagine se eu tivesse contado a alguma delas? Com que cara falaria que ele não tinha gostado do beijo que havia me deixado tão feliz?

Eu iria parecer uma palhaça.

— Grace? — Respirei fundo, tentando melhorar minha cara antes de me virar para ele. — Você poderia, sabe, ficar um pouco aqui comigo? 

The enemy | H.S.Onde histórias criam vida. Descubra agora