020 - We'll be a fine line

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Finalmente. Empurrei as cobertas rápido e inclinei-me puxando as pontas do lençol, levantei-me com certa dificuldade apesar de já estar habilidoso em me locomover com minha perna ainda dolorida, com o lençol pesado em uma das mãos consegui mancar até uma das paredes frias do quarto, ao chegar no banheiro acendi a luz e fechei a porta, escorregando sobre a mesma até me sentar no azulejo claro. Ali seria mais seguro, além da luz acesa eu ainda teria como esconder o conteúdo do tecido em algum canto caso alguém chegasse no quarto.

Fiquei por horas desmontando algumas pequenas peças e juntando alguns fios. Duas, das três pequenas luzes que haviam no aparelho se acenderam, indicando que ele não estava assim tão danificado quanto eu imaginava. A primeira luz verde sinalizava que estava ligado, a segunda que a aeronave constava no radar e a terceira e mais importante se acendia quando havia alguém do outro lado para se comunicar. Como não era um expert em concertos e partes elétricas de aeronaves, nunca saberia se aquela função iria ou não funcionar, a não ser que alguém de fato tentasse contato.

Eu já vibrava de felicidade ao constatar que minha aeronave estava visível para a central no radar. Era como acender um sinalizador num barco no meio do oceano, se fosse notado, viriam ao meu socorro, afinal eu tinha dado um sinal de vida. Ou, talvez, achassem que poderia ser uma armadilha dos soviéticos. Mas não me custava nade tentar.

Eu torcia para que eles ao menos verificassem, tentassem contato, porque aí sim eu poderia comprovar que era realmente eu, e o mais importante, poupar Grace e as outras crianças de sofrerem algum ataque caso viessem me resgatar. Juliet não merecia minha piedade, porém eu não poderia negar que ela havia cuidado de mim, infelizmente e contra a vontade dela.

— Vamos lá, falem comigo! — Sussurrei como um completo idiota para o objeto a minha frente. — Por favor, vamos... — Encostei minha cabeça na porta sentindo medo. Um sentimento que eu não sentia há algum tempo.

Aquela era minha última chance. Se não conseguisse nada teria que me conformar em esperar minha morte, que não seria nada rápida e indolor. Eles com certeza tentariam arrancar toda e qualquer informação sobre o exército britânico, usariam todas as técnicas de tortura para me fazer falar. Mas eu preferiria morrer do que entregar tudo a eles de mão beijada. Não era apenas pela questão que deixava Grace possessa sobre defender meu país, mas também porque meu pai estava naquela guerra, lutando, eu não queria e nem iria deixar que o machucassem, nem a ele nem aos meus colegas.

Lágrimas grossas escaparam de meus olhos e me permiti fecha-los por um mísero minuto a fim de arejar a cabeça, organizar os pensamentos ou pelo menos parar aquele turbilhão de planos mirabolantes e informações que me vinham à mente causando-me tontura. Alguns soluços acompanharam meu desespero de me ver sozinho numa situação daquelas.

Eu queria que as coisas fossem mais fáceis, pelo menos uma vez na vida.

***

1 dia e 72 horas antes da chegada dos Soviéticos;

— Harry...Harry! — Senti meu corpo sendo chacoalhado e o barulho da porta batendo contra minhas costas. Abri meus olhos incomodando-me com a claridade e me dei conta que tinha adormecido ali, sentado. — Ai, meu Deus, Harry? V-Você está bem? Eu devo chamar Juliet?

Ouvi sua voz baixa soar do outro lado desesperada. Suas mãos deixaram a madeira e ouvi seus passos urgentes se afastando. Consegui assimilar o que estava acontecendo e olhei para baixo, vendo o dispositivo no chão. Assim que ouvi o nome da megera, dei um pulo de onde estava e tratei de esconder tudo no lençol de volta.

— Grace! — Exclamei baixinho enquanto olhava em volta tentando arranjar algum lugar para colocar aquilo.

— Harry? Está tudo bem? — Coloquei a trouxa atrás da porta e me levantei com uma certa dificuldade, já sentindo minhas costas darem indícios de dor. Grace continuava com o rosto colado na porta, que abri me certificando que estava escondendo o dispositivo. — Graças a Deus. — Abraçou-me de supetão, quase me derrubando para trás. — Achei que estava passando mal.

The enemy | H.S.Onde histórias criam vida. Descubra agora