031 - The arrival

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A noite se arrastou e pareceu durar duas vezes mais que o normal. Me revirei tanto que passei mais tempo acordada do que dormindo. Abri os olhos ainda cansada, parecia que um caminhão tinha me atropelado, meus cabelos grudavam em meu rosto por conta de ter soado a noite inteira. Não estava calor para que aquilo fosse considerado normal, era apenas meu corpo sofrendo as consequências da ansiedade que havia me pegado desde que tudo virou de pernas para o ar.

Eu conhecia aquele sentimento. Era uma urgência, sem causa aparente, sentia como se tivesse que sair porta afora correndo, como se uma bomba fosse atingir a casa. Era horrível ter aquela sensação de que algo iria acontecer mas não saber o que era, ou se iria acontecer mesmo.

Sempre fui muito sensível quando se tratava se sensações, não gostava de expor para muita gente, sempre me olhavam como se fosse louca. Mas minha intuição não falhava, na manhã anterior o aperto em meu peito me avisou, antes mesmo que eu soubesse, que havia algo errado. E, antes da chegada de Harry, também senti em meu coração que as coisas estavam prestes a mudar. Mas, infelizmente, não soube interpretar direito na época, porque apesar de ter sentido algo bom, meu relacionamento com Styles não tinha terminado bem.

Se quando eu tive um bom pressentimento as coisas já deram errado, imaginei que os meus maus pressentimentos previam coisas ainda piores.

Voltei a fechar meus olhos. O sonho que havia me atormentado por horas veio a tona. Era esquisito. Era bom. Nele, quem encontrava Harry parado diante da porta e prestes a fugir era eu. Não pensava duas vezes, o seguia pela neve em meio ao breu da madrugada, já tínhamos ido longe o bastante para que a casa desaparecesse quando eu arriscava em olhar para trás, chegávamos no lugar onde meu outro sonho tinha se passado. O nosso casamento.

Despertei assustada. Parecia tão real quanto da última vez. Tão real, que me fez pensar durante horas. O que eu teria feito se tivesse encontrado Harry no meio de sua fuga?

Minha ansiedade triplicou. Eu não conseguia sequer pensar naquela possibilidade. Porque sabia que o teria deixado ir, que não teria a coragem de entregá-lo a Juliet. Mesmo sabendo que faria o mesmo que Cornélia fez, não tinha como imaginar minha reação diante daquilo. Saber que ele partiu sem avisar já havia me devastado, mas, só de pensar na cena de vê-lo ir embora para sempre, já me tirava o sono.

Mas, na realidade, eu não teria como impedi-lo, nada que eu fizesse ou dissesse o faria ficar. Styles tinha aquela fuga em sua cabeça desde que chegou ali, apenas fingia estar conformado com a própria morte. E eu que admirava aquilo nele, conseguiu nos enganar direitinho. Que tola eu, achando linda a redenção de alguém que nem ao menos arrependimento tinha. Tudo o que pude fazer por Harry eu já havia feito, tudo o que pude lhe dar já tinha dado.

Se ele escolheu ir, sem nem ao menos olhar para trás ou reconhecer meus esforços, é porque ele nunca me quis de verdade.

Talvez eu fosse muito infantil para um homem como ele. Vivia no mundo da lua, presa num conto de fadas. Talvez tenha me empolgado com todo o teatro que Harry armou, vai ver tudo o que senti arrepios de ter feito com ele não tinha o mesmo efeito numa mulher madura.

Pensar naquilo apenas me fazia sentir ainda mais burra.

Depois de escovar os dentes e encarar meu rosto pálido e com leves olheiras, desci as escadas de madeira, já ouvindo algumas vozes masculinas. Passava as mãos pelos cabelos a fim de tentar ajustar-los da bagunça que fiz por não ter dado a importância que todas deram a aquela visita. Eu estava péssima, não via motivo para me arrumar, o único que eu queria que me visse bonita se foi.

E, desde então, eu não queria que nenhum outro me olhasse

Os dois pares de olhos me encararam e acompanharam até que eu colocasse meus pés no piso de madeira daquela cozinha. Senti-me como um quadro exposto numa galeria, sendo analisada, friamente. Incomodada, procurei as outras com os olhos, encontrando somente Elizabeth e Cornélia ali, sentadas à mesa. Juliet, é claro, também estava por ali, de pé, servindo os dois soldados.

The enemy | H.S.Onde histórias criam vida. Descubra agora