Brisa Leve

Personagem

Rafaella

Deixar os comentários de ódio por conta da minha equipe era um hábito que havia sido criado desde que a minha carreira como digital influencer tinha virado, bem, uma carreira de verdade. Era importante receber críticas, refletir sobre elas. Eu sabia disso e muitas eram válidas, me faziam refletir. Infelizmente no meio delas tinha muito ódio, gratuito, sem fundamento – com esse eu tinha certa dificuldade. Então eu deixava que minha equipe controlasse o que chegava até mim, o que eu realmente precisava saber ou não. Mas hoje, por algum motivo desconhecido eu resolvi dar mais que uma "passada de olho" pelo que as pessoas estavam falando sobre mim.
Talvez eu tenha começado com tudo isso porque eu mesma não estava muito satisfeita, pra começar. 

Já fazia meses que eu não sabia direito o que fazer por ali, como me portar na frente das câmeras e eles notaram. Me prendi por horas na chuva de comentários que diziam que eu estava sendo um personagem, que eu era falsa, que eu estava interpretando um papel desde o reality. Fãs e haters se uniam nessa mesma constatação – e eles estavam certos. Eu estava fingindo, não estava? Não era por mal, como milhares insinuavam, eu não estava fingindo me importar com as minhas causas, com a minha família, com as minhas doações e prioridades.

Mas eu estava fingindo ser a mesma Rafaella que eu era quando eu entrei pelas portas do BBB20. O discurso talvez não fosse dos melhores, mas a verdade é que eles estavam certos, eu estava sendo sim um personagem. Um personagem de quem eu já fui. Enquanto eu passava pelos comentários que mais me chocavam fui mandando prints pra Marcella e perguntando porque eles nunca tinham tocado nesse assunto comigo, sendo que tudo isso rolava há 6 meses. 

Por um lado parecia tão simples: era só ser eu mesma. Mas será que as pessoas gostariam de um "eu" tão diferente de quem eu já fui antes – e eu não falo só dos fãs ou das marcas, se essas fossem minhas únicas preocupações... Eu estava completamente perdida nos meus próprios pensamentos e agora era impossível voltar atrás. Quanto mais eu pensava, mais o pânico me dominava. Eu sentia o choro pedindo pra sair, mas até ele estava travado em algum lugar dentro de mim. Travada, era assim que eu me sentia o tempo inteiro.

Meu celular tocava com a décima ligação de Marcella, dessa vez eu atendi.

- Mar, eu já te falei que eu tô bem. – repeti automaticamente o que eu já havia falado por mensagem algumas vezes – Eu só queria saber por que vocês não me falaram sobre isso sendo que foi um comentário muito recorrente. Muito.

- Eu já te falei que eu sei que você tá mentindo.

- Tá bom, mas você pode me explicar?

- Porque não tem uma solução mágica Rafaella, tem? Você sabe porque você está assim, eu e o Tato também sabemos.

- O que você quer que eu faça?

- Agora? Agora eu só quero que você ligue pra alguém, saia dessa casa um pouco. Se eu pudesse eu ia agora ai, mas não dá. Deixa essas coisas pra gente cuidar, cuida de você.

- Tá bem.

- Promete, por favor, que vai procurar alguém.

- Eu vou, já sei pra quem ligar.

- Tá bom, fica bem viu? Me manda notícias.

Marcella estava certa, ficar ali remoendo tudo aquilo não adiantaria nada. Só uma pessoa passou pela minha cabeça quando ela me mandou ligar pra alguém. Tomei um copo d'água pra tentar estabilizar minha voz e liguei pra Gizelly. Ela demorou um pouco a atender, mas quando atendeu eu ouvi o alô com a voz mais linda do mundo e, apesar de toda a angústia que tava dentro de mim, consegui sorrir.