Capítulo 5

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_ Pensei em Jane Austin o que acha?_ pergunto para ele, estamos sentados na bancada do Pavilhão esportivo, é um pouco tarde já e o cretino da minha dupla me obrigou a espera-lo terminar seus treinos, ele poderia ao menos vestir uma camisola e não ficar mostrando esse peito sarado, estou em meio a flor da juventude, entendam.

_ O quê? Romance duma feminista apaixonada não! _ falou sem me olhar, respiro fundo para não pirar, Leomar me irrita, ele não concorda com nada do que digo! 

_ Então escolha um livro e pare de reclamar!_ exclamo irritada, ele por sua vez coloca as mãos na nuca e se encosta na calçada.

_ Não aprecio leitura Maria Elisa!_ ele diz e sei que só me chamou de Maria Elisa para me irritar, eu pedi a turma toda que me chamasse de Maria, sem Elisa, mas o cretino... argh, posso matá-lo?

_ É Maria!_ reclamo e ele dá de ombros, Leomar está usando um calção vinho com baras brancas, a blusa da equipe de basquete está em seu ombro, seu cabelo meio cumprido está despenteado e isso o deixa monstruosamente lindo.

_ Escolha um melhor Maria Elisa, melhor que esses romances que faz toda garota chorar!_ fala e reviro os olhos irritada, se não gosta do que digo poderia escolher!

_ Preciso ir para casa, tenho alguns livros em casa de Mia Couto, pode escolher um!

_ Mia Couto?

_ O que você quer Zilar? Está discordando de absolutamente tudo!

_ Escolha direito então sabichona

_ Pauline Chiziane- balada de amor ao vento; José Craveirinha- Karingana wa karingana_ falo e ele arqueia a sobrancelha, quero mata-lo, mas se eu fizer isso perco os pontos na matéria de literatura.

_ Acho que prefiro o de Mia Couto, o que sugere? esqueça Terra Sonâmbula, metade da turma ou senão toda irá escrever sobre esse livro.

_ Mulheres de cinza, Lançado a pouco, podemos conseguir ótimos pontos, sem contar que existe a probabilidade máxima de nenhum par falar sobre a obra_ digo para ele_ sabia que... o que foi?_ pergunto quando noto seu olhar sobre mim, ele exprime os lábios e olha para o lado se esquivando de mim.

_ Parece que gosta de livros!_ fala e fico sem fala pela primeira vez, ao menos ele notou isso em mim, poderia também notar que quero matá-lo e escolher logo um livro para eu poder ir embora.

_ Acha ruim?_ questiono e ele se levanta me estendendo a mão.

_ Não importa!_ fala sem me olhar_ venha, irei levá -la para casa.

_ Não irei a lugar algum com você, irei pegar um chapa(transporte público)

_ Não teste minha paciência! _ diz sem me olhar_ prometi a sua mãe que a levaria para casa, sem contar que precisa me passar o livro!_ diz pegando em sua mochila e caminhando para longe, ele veste a camisa e eu o sigo sem nada dizer, ele com certeza me desestrutura, não sei o que falar, como falar e porquê falar quando estou ao seu lado e detesto me sentir vulnerável! 

Caminhamos lado a lado, Leomar é centímetros mais alto que mim, isso ou mais. Ele tem um andar despojado e firme, sorri poucas vezes, até agora o unico sorriso sincero que deu foi com sua irmã Andressa, gosto de vê -lo sorrir, é como se olhasse a noite de eclipse, seus olhos negros finos em contraste com o esbranquiçado do dentes retos e afiados.

Passamos por um casal namorando, o rapaz segurava na mão da jovem que sorri para ele, reviro os olhos desgostosa, eu adoro histórias de romance, livros contam sobre romances que deram certo e que deram errado, falam também de batalhas e é bonito ver a luta das personagens para no fim ficarem juntos, mas a vida real é totalmente inverso disso. Minha família que o diga!

Meus pais costumavam ser felizes, namoravam o tempo todo e eu achava bonito de ver, mas o cretino destino fez questão também de me fazer ver o pior lado de se estar apaixonado, você sofre, sente dor e seu corpo definha na medida que seu coração desfalece, aí você perde a vontade de sorrir e tudo então se transforma monótono, sem cor, sem vida! o amor é com certeza uma maldição.

Foi assim com meu pai, por isso não quero em hipótese alguma me apaixonar, "amar doe", disse um certo realista, para mim, doe ainda amar alguém e não ser amado, não que o ser realista não estivesse certo, não que eu soubesse dessas coisas, afinal, sou apenas uma garota que nada sabe, olhos castanhos com pintadas cinzas e de cabelos longos presos em um totó que nunca se apaixonou e espera nunca passar por esse desastroso bem feitor.

_ Entregue!_ Ele me diz e vira de costas indo embora, qual é o problema dele? e o livro? 

_ Não vai levar o livro?_ pergunto ajeitando a mochila nos ombros, desconfortável com tudo isso.

_ Amanhã você trás! _ ele me diz, então porquê me acompanhou?

_ Mas...

_ Tchau Maria Elisa!_ ele diz se afastando, fico ali olhando sua silhueta desaparecer em meio a noite escura. Ele é com certeza estranho, um louco!
Mas não me interessa, foi bom caminhar, me ajuda a pensar!

Jumaida Massango 🤩

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Nota
* Como chamamos o transporte público em Moçambique.

Então o que acharam?

Esse Leomar só me baralha, sério!

Pensei direito e esqueçam aquela ideia maluca, irei postar nos finais de semana, na  segunda, e quando me der na telha! Kkkk
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A Reconquista(Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora