OS MONSTROS

9 0 0
                                    


Medusa e suas terríveis serpentes.

Tranquilizados pela resposta de Apolo, Hípias, Cimene e Agenor correram para o vale onde moravam. Faltava pouco para o alcançarem, e foi reconfortante chegar. Estavam pacificados, certos de que os monstros seriam deixados aos cuidados dos heróis, de quem, por sua vez, se encarregariam os deuses. Eles, os mortais, deveriam apenas se ocupar da vida.

Encontraram Laio muito ansioso e inquieto.

- Acho que há novas criaturas malignas no bosque – sussurrou ele, assustado, olhando na direção das árvores. – A cada dia ouço mais ruídos estranhos, tais como o galopar de cavalos, pios estridentes e latidos que não parecem deste mundo.

Para sossegá-lo, Hípias repetiu o que dissera Apolo.

- Não é da nossa conta, Laio! – concluiu. – A reunião dos monstros nada tem a ver conosco.

O menino riu satisfeito e, livre dos temores que o angustiavam, lembrou-se de um recado que se comprometera a dar.

- Hípias, passou por aqui um homem trazendo uma mensagem de tal Teseu, rei de Atenas. O rei quer vê-lo imediatamente.

- Então, ele conseguiu e agora é rei! – exclamou o pastor. Depois, disse risonho: - Alguém não aparecerá na reunião da clareira. O grupo do bosque vai ficar desfalcado.

- De quem, pai? Do rei?

- Dele não, filho, mas ele quase que poderia fazer parte do bando. Eu estava me referindo a um abominável monstro que vivia em Creta.

- Você vai procurar o rei de Atenas? Perguntou Cimene.

- Não sei, mulher!... Ele me assusta, me assusta muito.

Um ensurdecedor bater de asas interrompeu a conversa. Três imensas aves surgiram da direção da morada do vento Austro e sobrevoaram o bosque, como que procurando um local para pousar. Voavam cada vez mais baixo e já quase tocavam as copas das árvores.

- Que abutres esquisitos – comentou Agenor.

- Não são abutres – explicou Hípias, fixando o olhar nos voadores. – São harpias que vieram se juntar às perversidades agrupadas na clareira.

Cimene reprimiu um grito de horror.

- Isso é terrível! – exclamou, abraçando o filho. – Ouvi contar que elas têm uma fome sem fim e que devoram todos os alimentos que encontram.

- É verdade, mulher! E o que as arrebatadoras não comem, inutilizam com seus excrementos. Povoados inteiros já morreram de fome por causa delas.

Guinchos de gelar o sangue cortaram o ar.

- Vamos para dentro de casa esconder os grãos e o leite! – implorou Cimene.

Os meninos concordaram de má vontade. Estavam excitadíssimos, sem compreender o mal que germinava próximo dali.

Depois de tudo guardado, Hípias, Cimene, Agenor e Laio se reuniram junto ao braseiro e esperaram. O tempo foi passando, mas nada de diferente aconteceu. A vigilância dos adultos começou a claudicar. Os meninos especulavam, em voz baixa, sobre as aberrações que haviam chegado nos últimos dias. Não sabiam quais eram e, por isso, davam-lhes formas e rostos tirados da imaginação. De seus devaneios, pularam monstros horripilantes, criaturas que explodiam em labaredas e em pestilências. Criaram até onde a fantasia os levou e, depois, arquitetaram confrontar o imaginado com o real. Aproveitando-se de um instante em que ficaram sozinhos, escapuliram em direção ao bosque e se esconderam atrás de uns espinheiros, perto do claro entre as árvores.

Entre Deuses e MonstrosOnde histórias criam vida. Descubra agora