Capítulo 1

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Aileen

  Me viro na cama e abraço meu travesseiro, tentando inutilmente esquecer meu despertador, e eu bem que merecia um dia de folga depois do jantar de negócios horroroso que tinha tido na noite anterior, mas meu lema é: Sorria sempre e coisas boas virão.

Nem sempre as coisas boas vem, é claro, mas eu sempre tento me manter positiva e pensar coisas boas, além da situação, muitas vezes, sem solução aparente.

Dou um gemido longo estico meus membros,  me arrasto para fora da cama, sempre lembrando, um pé de cada vez ou então acabo me jogando de volta na deliciosa cama, quente e macia, me rendendo ao sono, porque eu nunca fui uma mulher matutina, nem mesmo quando criança, eu sempre preferi dormir a brincar.

Me levanto devagar, colocando uma roupa totalmente preta, eu costumava fazer aquilo em alguns dias da semana, eu gostava de pensar que aquilo me dava um ar de seriedade em um ambiente bastante dominado por homens, a maioria tinha a idade do meu pai ou mais velhos, e já fora bastante difícil mostrar a eles que eu não era mais uma menina e sim uma mulher capaz de fazer o mesmo e trabalho que eles, e muito bem feito, obrigada alto de fachada elegante.

Dirijo tranquilamente pelas ruas de Londres, após estacionar saio andando, o chão da calçada fazia barulho quando meus saltos entravam em contato com o mesmo, aquele era o horário em que as pessoas estavam indo trabalhar, então passei por elas sem prestar atenção em seus rostos desconhecidos antes de chegar ao meu destino e entrar no prédio.

Passo pelas pessoas cumprimentando todas que podia com um bom dia, é uma rotina bem comum para mim, faço isso desde o meu primeiro dia aqui, me formei em direito, me esforcei muito para estar pronta, competi pelo cargo com outros advogados e me orgulho em dizer que trabalho por meu esforço e não por ser filha do chefe, me certifiquei de que não houvesse interferências em todas as provas, fiz meu pai jurar que não faria nada, caso contrário quando eu descobrisse, e eu iria, me demitiria e iria trabalhar em outra cidade, eu havia passado noites inteiras estudando, me esforçando e trabalhando para que aquilo desse certo.

Hoje sou advogada de uma das maiores redes de joalherias do mundo.

Saio de meus devaneios quando o elevador para no andar da presidência, sigo pelo grande corredor passando por diversas salas, muitas delas pertencentes a outros advogados, e paro em frente minha, dou um sorriso para Megan, minha jovem secretária que tem as bochechas rosadas e incríveis olhos verdes dando a ela uma aparência de boneca.

- Bom dia senhorita Immers.

- Por favor Megan, me chame de Aileen, pelo menos quando nenhuma outra alma esteja a vista. - Falo entrando em minha sala.

- Claro, me desculpe, é força do hábito. - Ela responde atrás de mim, faço um barulho concordando. - Seu pai esteve aqui mais cedo, pediu para que o encontrasse em sua sala, tem algo a falar com você.

- Sim, já estou indo lá, espero que não seja nenhuma bronca, mais alguma coisa pra hoje? Eu estou exausta. - Me viro praticamente me jogando na cadeira.

- Não senho... Aileen.

- Ótimo Meg, um dia você se acostuma não se preocupe, talvez quando eu precisar levar minha tartaruga ao veterinário, você está quase se formando não é?

- Sim. - Ela sorri. - Mas não estou infeliz aqui é claro, eu não sabia que você tinha uma tartaruga.

- Claro que não, e não tenho, mas sempre quis uma,  quero que dê o fora daqui assim que se formar, você merece usufruir de todos esses anos sofrendo trabalhando e estudando tanto.

- Não vejo a hora.

Jogo minha bolsa, que ainda está pendurada em meu braço, no sofá da minha sala, aperto levemente o braço da garota sorridente e saio seguindo direto para a sala do meu pai.

Bati duas vezes e entrei, seus lindos olhos âmbar são direcionados a mim e um grande sorriso se abre em seu rosto, o velho sorriso acolhedor de sempre, agora acompanhado por algumas marcas da idade e cabelos brancos despontando no meio dos escuros.

- Bom dia papai. - Devolvo o sorriso quando ele se levanta.

-Bom dia querida, soube do seu belo trabalho ontem. - Ele para a minha frente e eu fico na ponta dos pés lhe dando um beijo na bochecha.

Observo aquele grande homem inglês voltando a sua cadeira imponente, seu porte decidido de um homem que não média esforços pra conseguir o que queria, rosto estupidamente másculo e atraente mesmo para um homem de mais de cinquenta.

Não era de se estranhar o quanto as pessoas se sentiam intimidadas e encantadas, mas eu sabia que aquilo não passava de uma pose para homem de negócios, o que as pessoas diriam se vissem aquele grande empresário sentado em uma mesinha de chá, ou até mesmo com uma coroa de princesa na cabeça? Bom, era o que acontecia quando eu era criança e ele nunca se importou.

- Só fiz meu trabalho papai.

- Sim, mas como chefe devo parabeniza-la não? Como faço com os outros funcionários que tenho contato, é sempre um bom incentivo. - Um sorriso se abre em seu rosto antes de se acomodar.

- Sim, obrigada chefe.

- Querida queria que fosse jantar em casa hoje, Dominic chegará de Nova Iorque e o convidei para um jantar. - sorrio e balanço a cabeça em um gesto de afirmação - Sua mãe está muito nervosa, ela sempre gosta que nossos convidados sejam tratados da melhor maneira, acho que ela se sentirá melhor com uma de vocês três lá, isso sempre deixa ela em um ânimo bom.

- É claro pai, será um prazer. - Não seria nenhum sacrifício, Dominic Callow era um grande amigo e parceiro do meu pai desde que consigo me lembrar - A mamãe não tem porque ficar nervosa, ela sempre faz tudo de forma tão perfeita, e não é nenhum sacrifício ficar com vocês.

- Então porquê foi embora de casa?

- Papai, não seja assim, você sabe que só queria meu próprio espaço, isso não me faz amar vocês menos, além disso, estou em casa quase todos os fins de semana e durante a semana também.

- Sim querida eu sei, estou apenas sendo um velho que gosta de reclamar, não vou mais tomar seu tempo, nos vemos a noite?

- Sim papai, e você pode reclamar sempre que quiser.

Dou a volta na mesa dando um outro beijo estalado em sua bochecha, saio de sua sala voltando para a minha, e novamente me jogo na cadeira, eu tinha um milhão de papéis para analisar, bom talvez não tantos, mas mesmo assim seria um dia bastante cansativo.

Talvez desse tempo de descansar antes de ir ao jantar, meia hora? Quarenta minutos? Um despertador me acordaria a tempo e tudo ocorreria como planejado. Ou talvez eu deva ir logo ao jantar e poderia voltar mais cedo para casa e me jogar de cabeça na cama. Deus do céu, eu mau tinha saído dela e já estava pensando em voltar para lá, que tipo de mulher eu estava me tornando? Uma muito, muito preguiçosa.

Aileen - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora