Aileen - Livro 1

Capítulo 40

Aileen

   Dizem que nossa alma sente quando algo de ruim vai acontecer conosco ou com alguém que amamos. Angústia, medo, sentimentos que não devem ser ignorados por ninguém.

   Aprendi com minha madrasta a sempre confiar nos meus instintos, talvez por esse motivo eu tenha escolhido minha profissão, estou cercada de pessoas que agem por instinto. E isso só se confirmou quando minha irmã mais velha apareceu completamente destruída em minha casa, eu sempre senti que.
Marcus era mau, algo não era certo e eu sentia. E foi com essa sensação que eu tinha acordado.

   Uma noite após o desmaio de Morgana os ânimos já haviam melhorado e todos tinham se acalmado, mas meu interior gritava que algo estava errado. Eu estava com medo, angustiada, não existia um motivo para tal sentimento, minha família estava bem, todos a minha volta estavam bem, Matt...

   Dormia tranquilo após uma noite fazendo companhia a alguém que ele amava no hospital, eu entendia que ele amava Morgana, do mesmo jeito que eu amava Mason. Era amigável, algo que vem de crianças que cresceram juntas. Queria realmente entender quando Morgana começou a ter sentimentos diferentes por Matthew.

   Mas isso não adiantaria de muita coisa, mesmo não sendo correspondida o sentimento existia da parte dela. Decidi ignorar, deviam existir pelo menos uma meia dúzia de mulheres apaixonadas pelo homem deitado a meu lado, eu era uma delas e tinha a sorte de tê-lo.

   Levantei devagar para não acorda-lo, tomei um banho e depois de vestida decidi procurar um lugar tranquilo para ligar para minha família, alguns dias longe já pareciam séculos e eu estava morrendo de saudades, principalmente dos conselhos que eu poderia receber nesse momento.

   Ao sair do quarto dou de cara com Morgana, completamente bem, com seu braço levantado como se fosse bater. Ao me ver a mesma transforma seu rosto em algo distorcido como uma carranca de nojo e da dois passos para trás, reviro os olhos empenhada em ignorar.

- Deseja algo? - Bem, não custa bancar a desentendida.

- Sim, quero falar com o Matt. - Morgana faz menção de entrar no quarto mas continuo parada na porta. - Você pode sair da frente?

- Não, Matt está descansando, afinal passou a noite em claro no hospital com você, que na verdade parece muito bem, você pode falar com ele depois. - Nem fodendo ela iria entrar naquele quarto com Matthew de cueca na cama.

- Você está achando que é quem? A dona dele? Acho que já provei que entre estar comigo e com você, eu sou a prioridade. - Cruzo os braços e levanto uma sobrancelha sem entender do que ela está falando.

- Do que você está falando? Olha só Morgana, não tenho tempo pra isso. - Fecho a porta e tento passar, mas Morgana entra na minha frente, bem parece que o jogo virou não é? - Com licença?

- Veja bem Aileen Immers, passei tempo demais esperando pelo Matt e não pretendo desistir agora, seja lá o que você acha que está fazendo quero que pare agora. - Um sorriso brota em seus lábios, quem visse aquela mulher sorrindo assim facilmente a acharia uma mulher perfeita, eu começava a desconfiar que aquele era o sorriso de uma víbora - Foi maravilhoso sentir as mãos dele em mim enquanto estávamos patinando no gelo, ou a noite maravilhosa que tivemos relembrando como nos conhecemos desde crianças e tudo o que já fizemos juntos, onde você estava Aile? Ah sim.

   Fecho meu punho pronta pra socar a cara falsa daquela mulher, nunca fiz nada parecido, mas por Deus, eu iria quebrar aquele sorrisinho ridículo que ela tinha no rosto. Morgana me olhava nos olhos completamente debochada, estávamos tão concentradas uma na outra que não ouvimos o som da porta.

- Deus do céu, você continua sendo uma mau amada? Não acho que o passado seja mais do qie lembrança, coisas de criança não contam como provocação Morgana. - Olho por sobre o ombro de Morgana vendo Heidi parada no corredor.

- O que eu sou ou deixo de ser não diz respeito à ninguém. - A mulher vira- se para ir embora, mas antes... - Espero que saiba o que é melhor para você Aileen, isso não vai durar.

   Por um segundo vi ali naquele belo rosto o olhar mais aterrorizante, quase insano que alguém poderia dar. Um arrepio tomou conta de todo o meu corpo e a sensação de medo ficou ainda mais forte.

   Morgana passou por Heidi a encarando de forma mortal antes de passar por ela e seguir pelo corredor, fico perdida olhando para ela até que Heidi volta a falar.

- Não ligue pra ela. - Olho para os olhos incríveis de tom verde, Heidi estava sorridente, mesmo tendo conhecido ela a pouco eu sentia algo extremamente familiar e confiável nela. - Vim te convidar para me acompanhar no café, estou sozinha, todos os outros saíram.

- Ela costuma agir assim com as pessoas? - Pergunto seguindo-a pelo corredor, eu não perdia comida por nada.

- Na verdade nunca vi ela ameaçar ninguém, mas ela nunca me tratou de forma amigável, com o tempo percebi que o problema não era eu e sim ela.

- É mesmo? - Entramos em uma sala com uma enorme porta francesa que dava para o jardim, mas estava trancada devido a neve. - Bom saber que não é só comigo, todos parecem adorar ela.

- Bom, Morgana foi criada junto com os irmão Callow, Anna não tinha uma filha menina para mimar então sempre tratou ela como uma filha, acho que Morgana tem algum tipo de sentimento de posse, ela não gosta de outras mulheres na vida do Tyler e agora do Matthew. - Ela dá um gole na bebida fumegante antes de continuar. - Ela é como uma irmã para eles mas em algum momento ela começou a desenvolver sentimentos diferentes por eles, o que faz com que sua natureza hostil fosse direcionada a nós, para ela é como se estivéssemos roubando eles dela.

   Penso um pouco sobre as palavras de Heidi, aquilo era mais confuso do eu havia imaginado. Decido deixar aquele assunto de lado e conversar sobre outras coisas, com Heidi a conversa fluía tranquila e animada e isso era um ótimo atrativo para passar boas horas distraída.