Matthew
É preciso remexer em algumas coisas da nossa vida as vezes, abrir a ferida e deixar outra pessoa saber sobre coisas que guardamos conosco, pode ser libertador, e por isso decidi contar para ela, e que Deus me ajudasse e ela não me achasse um monstro.
- Onde estamos indo? - Pergunto quando passamos direto pela entrada da mansão.- Vamos ao jardim.
Acompanho enquanto ela me leva pela mão, passamos pelo jardim principal, adentrando em um labirinto com algumas cercas vivas e depois entramos em um lugar camuflado por plantas altas e outra cerca.
Um jardim secreto, tinha dois bancos brancos, uma grande árvore de tronco grosso e galhos baixos, parecia muito antiga, em um de seus galhos havia um balanço, o acento pendia baixo e estava desgastado.
- Eu venho aqui sempre que preciso ficar sozinha e em paz, eu e minhas irmãs passávamos horas aqui, me dá a sensação de nostalgia. - Olho para seus olhos e depois desvio o olhar para o sol se pondo. - O que quer conversar?
- Tereza tem razão. - Observo enquanto ela se senta em um dos bancos, me viro outra vez e suspiro. - Eu a conheci quando tinha vinte e cinco anos, eu me achava o dono do mundo, era arrogante, insensível e frio, achava que tudo era possível e que eu podia fazer o que quisesse.
Sento ao seu lado e coloco os braços sobre os joelhos, penso em como eu era um imbecil.
- Tereza era a mulher mais linda que eu já tinha visto, ou pelo menos achava que era, a primeira vez em que a ví estavamos juntos com nossos pais em uma festa, no primeiro olhar eu achava que ela era simples, delicada e sensível, eu via todos os caras dando em cima dela e achava que era porque todos queriam tê-la, até queriam mas não dá da maneira que eu achava. - Olhei para frente e deixei minha mente voltar no tempo. - Eu como tolo, fui atrás dela para ter aquilo como um prêmio, ela logo quis ficar comigo, eu achava que ela era minha alma gêmea, nós saíamos todas as noites, ela me incentivava a beber mais e mais, eu sempre estava de ressaca, mas mesmo assim dava conta das minhas obrigações. Depois de alguns meses Tereza virou uma frequentadora da minha casa, sempre sendo a boa moça na frente dos meus pais, mas totalmente devassa fora de suas vistas, até aí não tinha nada demais, mas pra ela era pouco, ela dizia que precisavá de mais, um dia ela trouxe drogas para nós dois em uma das festas que costumávamos ir, ela sempre fez uso delas mas nunca tinha me dito até então.
- Matt... - Sinto a mão de Aileen em meu braço mas ignoro, se eu parasse não conseguiria continuar.
- Eu deixei ela me convencer, eu fiz aquilo para deixa-la feliz, mas depois de um tempo eu só vivia para consumir aquilo, quando eu estava naquele estado eu saia de mim, entrava em outro mundo e achava que aquilo era certo. - Eu podia sentir meus pelos arrepiados ao lembrar - Mas não era o suficiente, Tereza queria mais, drogas mais fortes, outras pessoas durante a relação sexual, eu sempre quis, sempre permiti que ela fizesse o que lhe fosse conveniente, comecei a faltar o trabalho, usava drogas várias vezes ao dia, comecei a sair com pessoas de caráter baixo e a brigar cada vez mais. Tyler encobria tudo para nossos pais, sempre tentando me dizer que aquilo estava errado, que ela não me fazia bem, Heidi era a única que me ajudava quando Tyler não podia, ela sempre me achava em algum buraco e cuidava de mim para que meus pais não me vissem daquela forma. Tereza sempre sumia com um dos nossos "amigos" me deixando sozinho em qualquer lugar, essa relação se estendeu por quase dois anos, até que um dia eu voltei pra casa de madrugada acompanhado dela e de alguns amigos, nós íamos continuar a festa lá.
Observo os últimos resquícios do Sol, sinto o gosto amargo na boca mas me forço a continuar, Aileen como uma boa ouvinte espera pacientemente.
- Quando atravessamos o jardim, encontramos uma das empregadas, a mais jovem, ela era filha do motorista, sua mãe também trabalhava na casa e eu a conhecia desde criança. Tereza começou a caçoar de como a menina era apaixonada por mim, caçoar de como ela estava acima do peso, e de como ninguém a queria. - Fecho os olhos com força - Todos os outros riram, quando a garota tentou sair envergonhada um dos caras segurou seu braço e disse que pelo menos uma noite ela conheceria um homem, ele e mais dois começaram a rasgar a roupa dela que de tão apavorada só chorava e pedia para que por favor não fizessem aquilo. Quando me dei conta de que aquilo era real, mesmo drogado e bêbado, tentei tirar os dois de cima dela, mas eram três e eu só um. Enquanto dois me seguravam o outro voltou ao que fazia, eu gritei para que Tereza não deixasse, gritei para que ela ajudasse, mas sabe o que ela fez?
Olho para Aileen, lágrimas desciam por seu rosto, ela balançou a cabeça negando mas não desviou o olhar.
- Nada. Ela ficou lá rindo com deboche, parada e olhando para uma menina que seria brutalmente estuprada, eu gritei mais alto, lembro de como tentei me soltar, de como minha garganta ardia pelos meus gritos, e de como lágrimas desciam por meu rosto por enfim ver que tipo de ser humano sem alma eu dizia amar. - Sinto a lágrima solitária descer por minha bochecha. - Meus pais tinham viajado, mas Tyler estava em casa, tudo pareceu em câmera lenta quando meu irmão chamou meu nome, ele correu para tirar aquele homem de cima da garota, o socando em seguida inúmeras vezes e ali em meio a palavras e gritos distorcidos eu vi que estava me tornando uma daquelas pessoas, e se eu não parasse iria entrar em um caminho sem volta, aquilo foi como um soco no estômago e quanto mais lúcido eu ficava pior era meu estado de espírito.
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Aileen - Livro 1
RomanceAileen Immers é sem dúvidas uma jóia, uma advogada inteligente e audaciosa, segunda filha de um homem poderoso. Tudo parece estar ao alcance de suas mãos, tudo o que sempre quis em sua vida que parece completa. Tudo muda com a chegada do lindo e ir...