I. a world divided in two

3.5K 343 161
                                    


ORION SCORPIUS

       Minhas mãos estavam inertes ao lado do meu corpo, o semblante insondável enquanto eu assistia pacificamente a cena que acontecia a poucos metros de distância

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

       Minhas mãos estavam inertes ao lado do meu corpo, o semblante insondável enquanto eu assistia pacificamente a cena que acontecia a poucos metros de distância. No trono de aço com a cabeça apoiada em punho,  Kalel parecia tão entediado quanto eu, muito embora seus olhos faiscantes transparecessem seu óbvio interesse na mulher que era arrastada pelo salão, debatendo-se enquanto vociferava insultos a ninguém em específico.

      - Senhor, pegamos essa mulher enquanto ela tentava fugir para as terras humanas - disse o guerreiro com uma voz rouca e letal, a mão fechada com brutalidade no cabelo ruivo que ornava o rosto da fêmea. - Ela trabalha em uma fábrica de produção de armamentos.

      - Francamente, soldado, não vejo razões para que a traga até aqui. Ambos sabemos o que deve ser feito àqueles que tentam abandonar o mundo feérico - Kalel estalou a língua com nítido desgosto, os dedos tamborilando a própria perna. - Se é tão covarde a ponto de tentar fugir de uma vida tão bela quanto a que leva aqui, certamente não vê mais razões para permanecer viva, não é?       

       Reprimi minha vontade de rir diante da dissimulação treinada de Kalel. Todos tinham conhecimento de que os feéricos sem poder viviam em situações deploráveis, inclusive aqueles que trabalhavam em fábricas e minas subterrâneas em troca de uma remuneração miserável. Isso era motivo suficiente para que muitos tentassem fugir em busca de liberdade, normalmente encontrando refúgio no território mortal. No entanto, eram poucos os que de fato conseguiam atravessar o enorme e turbulento rio que separava o mundo dos humanos do mundo dos feéricos. A enorme barreira do rio, a qual separava os dois mundos, sofrera alguns danos devido aos bombardeios que aconteceram durante a guerra entre Kalel e os outros reinos. Houveram algumas rachaduras na barreira invisível que cortava o rio, e tais passagens começaram a servir como meio de escapatória. No entanto, a maioria dos desertores era interceptada antes de sequer conseguir chegar à nascente do rio e eram mortos instantaneamente.

         - Eu sei, senhor, não a teria trazido aqui se fosse simplesmente uma fugitiva - respondeu o macho, que sabiamente evitava encarar os olhos sombrios e nada amigáveis do líder. - Mas alguns indícios apontam que ela não estava planejando fugir sozinha. Creio que quando cheguei ela ainda estava avaliando os meios de fuga. Além disso, ultimamente os guardas da fábrica de armas de Aquila reportaram um comportamento incomum nos funcionários. Acho que eles estavam planejando uma fuga em massa. Ela se nega a abrir a boca mesmo sob tortura.

       Ao som de suas palavras, coloquei-me a avaliar os hematomas roxos e aparentemente recentes que se estendiam pelo corpo macilento da fêmea. Seus olhos estavam inchados, o que logo presumi ser o resultado de choro ou socos. Talvez ambos.

       O silêncio que se seguiu foi completamente desconfortável. Eu podia sentir o olhar desamparado da fêmea monitorar cada mínimo movimento de Kalel, esperando pelo momento em que ele simplesmente atravessaria a espada em seu crânio sem qualquer piedade. Todos sabiam que ficar frente a frente com ele era o acontecimento que precedia a inevitável morte.

storm of poison and steel | ACOTAROnde histórias criam vida. Descubra agora