XIV. Hurricane

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ORION SCORPIUS

      A magnificência do voo era algo que eu sempre admirei

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      A magnificência do voo era algo que eu sempre admirei. A capacidade de voar, de abandonar o chão e tocar a vastidão inestimável do céu, se perder nas nuvens e na liberdade proporcionada pela beleza da existência dispendiosa. Perdida no azul exultante do céu, abraçada pelos elementos cósmicos do universo, pensamentos irascíveis e perturbações eram simplesmente extirpados. Eu amava aquilo, mas também o perdera há muitos anos.

      - Quando você quiser, leve o tempo que precisar - disse Azriel, seu semblante imperturbável não revelando nada além de calmaria plena.

     Nós estavamos em um espaço montanhoso, copas de árvores farfalhando ao longe junto ao cair de algumas folhas secas. O sol insuportável dificultava minha mobilidade, mas felizmente o traje que eu usava era bastante flexível.

      - Posso me virar, se você quiser - sugeriu. Azriel sabia que minhas asas eram uma lembrança dolorosa do meu pequeno inferno, assim como sabia que há anos eu não as mostrava a ninguém. Ele sabia e entendia.

     - Não, tudo bem. - Engoli em seco, tentando miseravelmente controlar minha respiração descompassada.

     Olhei ao redor com afinco, monitorando o perímetro, e fechei os olhos com força quando deixei que a magia viajasse pelas minhas costas e libertasse as asas, que se projetaram lançando uma lufada de vento ao redor.

     - Posso? - inquiriu Azriel ao passo que se aproximava de mim, os olhos indecifráveis fixos nas asas. Assenti com a cabeça e estremeci quando seus dedos inquisidores apalparam as laterais daquelas membranas duplas.

      Na época em que as asas foram chicoteadas sem misericórdia por Kalel, elas ficaram praticamente atrofiadas, cortes profundos descendo e subindo pela extensão das asas. Os melhores curandeiros de Andrômeda foram requisitados para cuidar dos ferimentos, e me lembro de Sebastian segurando minha mão enquanto eu gritava durante o processo de cura, me lembro de Cora andando de um lado para o outro com preocupação e tristeza contorcendo suas feições, me lembro da promessa de vingança que escureceu os olhos de Elphys e Shade quando me viram chegar em casa, mancando e sangrando. E me lembro de Delion, na época que ainda servia a Kalel, entrando no quarto da masmorra e cuidando secretamente dos meus ferimentos. Graças a ele não perdi completamente minhas asas, mas até mesmo os feitiços e remendos dos curandeiros não foram o suficiente para apagar as cicatrizes das asas, que mesmo após reformadas nunca me permitiram voar novamente, nunca me permitiram tocar o céu novamente.

       - Suas asas são diferentes dos illyrianos - constatou, afastando-se furtivamente para ter uma visão mais ampla daquilo que despontava das minhas costas. - As suas parecem... brilhar, é pura obsidiana. Não sei porque estou surpreso. Sua mãe é uma artista, e você... você tem um poder maior do que qualquer outro que já cruzou essas terras.

      - Lindas... e marcadas. - revirei os olhos, flexionando os músculos dos ombros que já começavam a demonstrar sinais de cansaço pelo peso atípico que suportava.

storm of poison and steel | ACOTAROnde histórias criam vida. Descubra agora