XVIII. a gift to the gods

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      ORION SCORPIUS

     O clima estava excepcionalmente ominoso, neblina densa sobrepujando as copas das árvores, o chão chamuscado produzindo sons ruidosos quando alguém trotava sobre ele

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     O clima estava excepcionalmente ominoso, neblina densa sobrepujando as copas das árvores, o chão chamuscado produzindo sons ruidosos quando alguém trotava sobre ele. Mesmo a distância, muros volumosos se projetando ao redor do terreno do castelo, eu podia enxergar com a minha visão periférica as bandeiras que estavam sendo erguidas no topo das montanhas, todas com as letras K.D entalhadas, as iniciais de Kalel. Os pedaços de pano de qualidade infinitamente superior a qualquer outro material prosaico, as cores variando entre preto e branco, balançavam violentamente e proviam sensações sobrenaturais. Cavalos brancos, marrons e pretos caminhavam pelas estradas vastas, carregando os soldados nas costas. Crianças corriam de suas casas, onde mães preocupadas gritavam seus nomes em advertência, e tentavam conversar com eles, levantando as mãos para que pudessem cumprimentar aqueles que foram ensinados a respeitar e enaltecer mediante o medo. Embora existissem caminhões de carga, carruagens eram mais comumente usadas por lá, e agoras elas transitavam livremente pelas estradas, rumando em direção a pontos específicos. A festa ocorreria em todos os reinos, em diversas regiões das florestas e perto dos lugares mais habitados. Todos estavam se preparando para a noite de festança. Uma semana inteira de comidas, músicas e cortejos. As pessoas raramente voltavam para casa, optando por aproveitar até o último resquício que a festividade proporcionava.


     Enquanto alguns aproveitavam para, de fato, aproveitar, os mais astutos e trapaceiros aproveitavam a distração e alienação geral para surrupiar coisas aqui e ali, eliminar oponentes e realizar contrabandos ilegais. No Dia da Glória, que era uma semana de pura devastação e luxúria, o mundo imortal dos feéricos vivenciava os dois lados do fim: o paraíso e o inferno. E, em datas como aquela, até mesmo Cetus, a capital do meu reino, sofria com a mudança brusca no ritmo comum das coisas.

     Frustrante, de fato.

     Afastei-me da janela da sala de observação, a qual ficava no andar mais alto do castelo, repleta de telescópios e obras astrológicas, e rumei em direção à saída. O castelo estava dolorosamente cheio naquela noite. Embora meus criados fossem singularmente silenciosos no dia a dia, dando-me aquilo que eu considerava privacidade, nesse dia, ou mais precisamente nessa semana, isso não seria possível. As coisas já estavam começando a ficar terrivelmente atribuladas. O Dia da Glória não trazia consigo apenas comemorações vazias, como também trazia ameaças e ataques de inimigos em potencial. Além disso, alguns colegas, lordes, duques e afiliados, passariam a cena no castelo de Andrômeda, essencialmente porque ficava mais próximo de um dos inúmeros pontos das festividades. Eu não confiava neles nem um pouquinho, mas eu sabia jogar seu jogo, assim como sabia fingir que estava feliz em recebê-los em minha casa, embora muitos evitassem meu olhar simplesmente por temer a minha ira irresoluta.

     Quando cheguei ao andar dos quartos principais, me dirigi diretamente ao meu, escancarando a porta enquanto caminhava até o espelho.

     Apesar de meu comportamento normalmente evasivo e arrogante, minha aparência era algo que me deixava dolorosamente insegura. Não que eu fosse capaz de admitir isso a alguém, mas sempre que eu lembrava das cicatrizes que se estendiam pela extensão das minhas asas, dos cortes mal cicatrizados nas costas, resultado das surras que eu levara, eu me sentia sufocada. Todos diziam que eu era linda, que meus olhos eram como uma galáxia, que meu cabelo era como a noite em chamas sombrias. Mas, como explicar para essas pessoas que quando eu me olhava no espelho, a única coisa que eu enxergava não era nada além de alguém ferido, insuficiente e solitário, apesar das companhias constantes?

storm of poison and steel | ACOTAROnde histórias criam vida. Descubra agora