ORION SCORPIUS
Minha cabeça estava dolorida, uma provável consequência da noite mal dormida. Meu corpo estava praticamente interte embaixo dos cobertores felpudos e amarfanhados que me protegeram contra o frio que coroara a noite. Os raios solares adentravam o quarto pelas janelas diáfanas, e o barulho da circulação social constante na cidade me acordara cedo, um acorde de violino distante ressoando em meus ouvidos junto ao ciciar dos pássaros silvestres.
Eu sonhara com um ataque de criaturas aladas e de línguas bifurcadas naquela noite, mas não despertara do sono uma única vez. Eu estava ciente de que aquilo não era exatamente um avanço exultante. Depois de tanto tempo sendo atormentada por pesadelos cruéis que pulverizavam minha sanidade, aprendi a me controlar e não acordar quando eu era atacada por eles. Às vezes, no entanto, essa habilidade escapava do meu alcance e eu acabava acordando com a falta de ar comprimido meus pulmões, as roupas transformadas em cinzas devido a minha peculiar e violenta associação ao fogo. Pelo menos eu conseguia conter a explosão de escuridão no meu próprio quarto quando isso acontecia, evitando despertar a preocupação disfarçada de Sebastian e a preocupação extrema de Cora.
- Bom dia, criaturinha perversa - uma voz masculina me tirou completamente do estupor, e levantei o rosto do travesseiro a tempo de ver Alípio entrar no quarto.
Seus olhos estavam luminosos naquela manhã, como se luzes tivessem sido intencionalmente plantadas em seus globos oculares. Talvez fosse preferível encarar uma chama ardente do que aquele brilho absurdo e natural que delineava seu rosto. Alípio trajava roupas particularmente exuberantes, uma mistura harmoniosa de preto e roxo escuro.
Eu e Alípio não éramos iguais fisicamente, exceto por detalhes remotos como o nariz arrebitado e a boca carnuda, duas heranças genéticas de Feyre, e talvez o formato do rosto em si lembrasse um pouco ao de Rhysand. Fora isso, éramos como duas peças incompatíveis de uma quebra-cabeça. Entretanto, ao fitar seus olhos imperturbáveis e vívidos, que por trás da camada de vida traziam um poço profundo e imperscrutável de segredos e sombras, eu sentia uma breve conexão com ele. Uma conexão que, diga-se por sinal, odiei. Não queria laços com aquelas pessoas além dos já pré-estabelecidos. Nem sequer queria que elas se tornassem partes fixas da minha vida, criando raízes que cedo ou tarde eu teria que cortar.
No mundo em que sempre vivi, pendurada à beira do precipício e rodeada por atribulações constantes, quanto mais pessoas entram em sua vida, maior é o número de pessoas pelas quais você vai sofrer quando elas partirem. E elas sempre partem.
- Eu ia perguntar se você não sabe bater na porta, mas aparentemente já tenho minha resposta - resmunguei, apertando os olhos com força. - Nesse momento estou criando um paraíso mental no qual você não está, então saia antes que eu perceba e talvez eu não o jogue pela janela.
- Você é sempre tão bem-humorada pela manhã? - franziu o cenho, pouco afetado pela minha óbvia irritação com sua presença. - Eu trouxe seu café da manhã.
VOCÊ ESTÁ LENDO
storm of poison and steel | ACOTAR
Fanfiction{concluída} Orion Scorpius não sabe absolutamente nada sobre a origem de seu poder ou família. A rainha sombria que chegou ao poder por meio de um golpe é temida por todo o território feérico, especialmente por ser portadora de imensurável poder e a...