ORION SCORPIUS
O cavalo trotava suavemente no chão de pedregulhos, minhas mãos fechadas perturbadoramente forte ao redor das rédeas ásperas que me permitiam ter domínio sobre a locomoção do animal de pelagem acinzentada. As vestes escuras e singelas que eu usava me camuflavam em meio a multidão agitada, tornando-me apenas mais um dos não afortunados que transitava por ali. O capuz bloqueava parcialmente a visão do meu rosto, mas eu conseguia enxergar com maestria os vendedores ambulantes, as crianças brincando perto das barracas tortas e os moradores perambulando de um lado para o outro. Era uma visão depreciativa, embora reconfortante. Aqueles lugares, isentos de privilégios extremos, lares de salões de jogos e noites impagáveis, guardavam memórias excepcionalmente calorosas. Às vezes, viver em meio ao caos iminente me trazia mais sensação de familiaridade do que a organização propriamente dita.
- Esse lugar parece ter saído diretamente de um livro de bárbaros - resmungou Sebastian, o rosto se contorcendo em uma careta de desprezo quando um homem baixo e carrancudo foi jogado para fora de um bar precário, chocando-se contra a lama enquanto vociferava xingamentos e balançava a garrafa empoeirada de álcool.
- Já estivemos aqui antes, Sebastian, e na época você não pareceu achar tão ruim. A vida como nobre deixou você fresco, foi? - alfinetei, aproximando-me furtivamente do cavalo preto que ele conduzia.
- Na época eu não sabia tanto sobre as coisas íntimas desse reino como sei agora. Pode ser um reino recluso, mas quando se trata da metrópole você não faz ideia do quão sujo e podre são as coisas por aqui. - Ele passou os dedos longos e pálidos entre as mechas do cabelo ostensivamente ruivo, os olhos vagando com escrutínio pelo terreno.
- Estamos chegando perto? - Indagou Elphys, a voz puramente sombria e com um tom autoritário que fez meus ossos estremecerem.
- Quase lá - respondeu Atlas, as mãos afagando a cabeça do cavalo conforme o guiava pela rua incongruente. - A caverna fica embaixo de uma propriedade abandonada próxima ao rio Venaz.
- Você conhece esse rio? - Questionou Alípio, comumente curioso, ao ver Elphys retesar as costas à menção do rio que dobrava o interior da cidade.
- Sempre tão conveniente, não é, Alípio? - Perguntei de modo sarcástico entre os dentes cerrados, revirando os olhos perante a língua que ele me mostrou em seguida. - Cuidado, posso arrancá-la.
Elphys, por sua vez, não pareceu abalada, e continuou a cavalgar a criatura com uma calma enervante. Seria fácil acreditar na efetividade da indiferença que ela demostrava se eu não pudesse ver nós brancos dos seus dedos, os quais ela apertava com força contra as rédeas que segurava, uma tentativa frustrada de reprimir a angústia. O comportamento na defensiva e intencionalmente superior era inerente às pessoas machucadas e tristes.
- Eu era só mais uma das crianças órfãs que morava nas ruas de Aquila - contou Elphys, e eu senti as minhas costas enrijecerem instantaneamente. Todos ficamos em silêncio, vidrados no que ela dizia. Elphys nunca tocava nesse assunto, independentemente do quão necessário ou emotivo fosse o momento. - Eu vivia em becos, em casas abandonadas. Meu pai tinha sido enviado ao exército no ano anterior, e a minha avó veio a falecer logo em seguida. Eu roubava tudo o que conseguia. Era fácil. Eu era magra demais, praticamente desnutrida, habilidosa, não tinha dificuldade para colocar as mãos nos bolsos dos outros. Uma noite, um homem chegou até mim. Ele era assustador de uma forma intrigante. Velark, era o nome dele. Ele me prometeu dinheiro, glória e uma casa onde dormir. Eu aceitei. Eu não tinha nada a perder. Entre ficar e morrer de fome ou hipotermia no inverno, e me juntar aquele homem que me prometia uma vida, eu já sabia o que escolher.
"Ele me levou até uma casa que, na verdade, não era somente uma casa. Era praticamente uma mansão rústica com salas de treinamento e dormitórios. Era a merda de uma escola clandestina para assassinos abarrotada de crianças e adolescentes sádicos. Essa mansão fica no rio Venaz. A caverna está embaixo dela."
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storm of poison and steel | ACOTAR
Fanfiction{concluída} Orion Scorpius não sabe absolutamente nada sobre a origem de seu poder ou família. A rainha sombria que chegou ao poder por meio de um golpe é temida por todo o território feérico, especialmente por ser portadora de imensurável poder e a...