V. dinners and formalities

2.3K 301 73
                                    


ORION SCORPIUS

     Eu evitava deliberadamente pisar na lama fétida que cobria grande parte do chão chamuscado, meus movimentos graciosos como o de uma bailarina que fora treinada para aquilo a vida toda

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

     Eu evitava deliberadamente pisar na lama fétida que cobria grande parte do chão chamuscado, meus movimentos graciosos como o de uma bailarina que fora treinada para aquilo a vida toda. Minha visão aguçada era um verdadeiro privilégio, pois caso contrário seria difícil caminhar adequadamente em meio àquela névoa cegante. Um humano dificilmente conseguiria se localizar naquele espaço envolto de fumaça proveniente das chaminés das fábricas.

     Embora meu reino possuísse alguns direitos a mais pela minha aliança extremamente firme com Kalel, Andrômeda ainda era afetado pelo trabalho forçado e destruição de terras. Mesmo que eu fosse mais próxima a Kalel do que os outros reis, isso não tornava as coisas mais fáceis para o meu povo - tampouco para mim, que vivia com uma coleira invisível apertando meu pescoço, e qualquer deslize meu era ainda mais fácil de ser notado por Kalel do que os cometidos pelos outros. Talvez por isso os castigos que eram aplicados a mim devido aos meus erros eram mais cruéis e desumanos.

     A capital de Andrômeda, Cetus, que era onde o meu castelo ficava, era a única cidade do reino sem fábricas e trabalho forçado. O único território no qual ainda existia arte, música e famílias com vidas relativamente estruturadas. Apesar de tudo, eu conseguira deixar a camada de escuridão e destruição de Kalel fora daquele lugar. Eu consegui preservá-la, diferentemente do resto do território que eu comandava. Felizmente, Kalel não estava interessado na capital do meu reino, e deixar que eu conservasse a paz naquele lugar foi um mísero presente que ele me dera em trinta anos de puro terror.

     Eu trajava um uniforme de couro bastante flexível que felizmente não sufocava minhas articulações, a cor do material se mesclando com as sombras que me rondavam incessantemente conforme eu caminhava em direção a uma das inúmeros fábricas que pertenciam ao meu domínio. Shade estava ao meu lado, passando a imagem de soldado silencioso e imperturbável que lhe fora atribuida por mim há anos. Quando não estávamos dentro das paredes do castelo, interpretávamos papéis severos e que exigiam muito do nosso emocional. No exterior Shade precisava agir como a maioria dos soldados: desprovido de compaixão, uma máquina de matar e acatar ordens sem questionar. E eu precisava fazer jus a fama que eu possuía. Precisava ser a rainha maléfica que via beleza na morte e dor alheia.

     - Majestade - um dos soldados que guardava o portão da fábrica fez uma profunda reverência. - Não esperávamos receber uma visita da senhorita hoje.

     - Eu preciso avisar antes de ir às minhas próprias fábricas, soldado? - torci o nariz, encarando-o com um desprezo palpável. - É isso o que você está ensinuando?

     - N-não, claro que não, majestade - negou rapidamente e trocou o peso do corpo entre os pés, a visão ao seu rosto bloqueada pelo capacete. - Há algo que eu possa fazer pela senhorita?

     - Leve-me até o responsável pela administração desse setor - ordenei, minha voz calculada e firme.

     O soldado assentiu com a cabeça e gesticulou para que eu o acompanhasse. Abandonando a luz do sol poente para trás, segui o macho para dentro da construção cujas paredes eram feitas de um material resistente e impermeável. O som das máquinas trabalhando a todo vapor era enervante, especialmente quando vinha acompanhado pela respiração entrecortada dos funcionários e murmúrios infelizes. Cerrei os dentes diante do cenário deplorável e ignorei com eficácia as reverências que eram feitas de acordo com que eu passava por eles. Sempre intocável.

storm of poison and steel | ACOTAROnde histórias criam vida. Descubra agora