XI. living with the unknown

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     ORION SCORPIUS

      Falar abertamente sobre o meu passado era como acionar uma bomba altamente inflamável dentro de mim

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      Falar abertamente sobre o meu passado era como acionar uma bomba altamente inflamável dentro de mim. Lembrar das coisas que eu fizera e tivera de suportar, sobre as surras e humilhações constantes, desafios aparentemente intransponíveis, era como caminhar descalço sobre cacos de vidro. Uma sala repleta deles.

     Eu não confiava naquelas pessoas, mas elas pareciam se encaixar perfeitamente na categoria de pessoas que conseguiriam destruir Kalel caso surgisse uma brecha favorável. Se o que ele desejava estava naquele mundo, os Grão-Senhores pareciam bastante capazes de revidar à altura. Eles eram como uma janela aberta em um quarto abafado e escuro, uma esperança imprecisa porém crível.

     Fiquei perplexa quando escuridão irrompeu na sala, cegando-me completamente. Era uma escuridão poderosa e perversa escorrendo ao meu redor, enclausurando-me em uma bolha e percorrendo meu corpo em uma onda eletrizante de total euforia. Algumas pessoas praguejaram, cadeiras foram arrastadas pelo chão e emitiram ruídos ensurdecedores. Quando olhei pela janela diáfana, vi a vastidão de terra tremer como se seu núcleo estivesse se rompendo.

      Inesperadamente, luz voltou a inundar o ambiente. Rhysand estava de pé, suas mãos fechadas em punho e o rosto forjado em um ódio puro e cristalino, tão absurdamente real que era quase tangível. Feyre segurava seu rosto bronzeado entre as mãos. Ela parecia estar conversando com ele, tranquilizando-o, embora nenhuma palavra saísse de sua boca comprimida em uma linha reta. O olhar dela era extremamente acolhedor e reverente, e seu polegar acariciava a bochecha do macho. A respiração dele se estabilizou gradativamente, e ele olhou para Feyre como se ela fosse a única coisa estável e existente naquele instante, agarrando-se a ela para manter a calma, o rosto um reflexo de pura consternação.

       Fiquei encabulada com suas trocas de olhares. Parecia que eu estava sendo desrespeitosa e invadindo algum momento íntimo. O tipo de sentimento que eles conseguiam compartilhar mediante simples toques e movimentos era desconcertante. Mas uma coisa eu não entendia. Rhysand estava visivelmente alterado, mas por que minha história o afetara tanto? Quero dizer, ele era meu pai - céus, a palavra soava tão imprópria - mas ele nem sequer me conhecia adequadamente. Por que aquelas pessoas sentiam compaixão e empatia por mim? Como elas conseguiam? Era possível se importar tanto com uma pessoa sem ao menos conviver com ela? Sem ter qualquer obrigação legal? Eu não sabia a resposta. Minha criação fora baseada na crença de que bondade e amor eram uma fraqueza, e mesmo que eu fosse mais emotiva do que a maioria dos feéricos do meu mundo, mesmo que a segurança do meu povo fosse minha prioridade, o contexto completo de sentimentos bons e livremente altruístas era algo que eu não conhecia a fundo. Eu tinha um instinto protetor e acolhedor com aqueles que compunham minha nação, mas eu não era totalmente adepta ao sentimentalismo humano.

         - O que foi? - ousei perguntar, porque Rhysand e Feyre não pareceram os únicos abalados com a minha narração, na qual eu obliterara pequenos detalhes e acontecimentos que não seriam de grande relevância.

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