O dia estava ensolarado, uma leve brisa fazia com que as folhas das árvores dançassem nos galhos e algumas se desprendiam e se insinuavam no ar antes de cair no chão. Um menino muito determinado rumava para uma grande construção no centro da cidade, um prédio alto com os vidros espelhados, daqueles modernos que refletem o céu. Admirou rapidamente as nuvens refletidas, quase se distraindo de seu objetivo em estar ali!
Passou por uma grande porta e seguiu em direção a recepção, agarrou firme uma das alças de sua mochila e soltou um longo suspiro, era agora, daria tudo certo, com toda certeza seria aceito, precisava ser, não aguentava mais a casa dos Dursleys, ali ele tinha esperanças de que se encaixaria, só restava arriscar agora, meses de pesquisa para encontrar aquela pessoa, para ter certeza de que era ele mesmo, um grande amigo de sua mãe, não estava aguentando de ansiedade.
Harry era seu nome, um jovem de 19 anos, que perdeu os pais quando muito novo. Desde então, ele passou a ser criado pelos tios, que sempre contavam histórias de como seus pais eram irresponsáveis e desnaturados, além de claro, sofrer maus tratos de seus parentes, agressão física mesmo, fora a humilhação psicológica. Mas aos 11 anos, Harry encontrou no antigo quarto de sua mãe embaixo de uma tábua solta, uma caixa com diários, relatando a juventude de Lily. Harry ficou feliz e passou a conhecer um pouco de seus pais e dos amigos deles. Ele se agarrava a estes relatos de felicidade para viver com a dita família que lhe negava o amor e carinho que toda criança deseja e precisa.
Em seu aniversário de 18 anos lhe foi entregue sua herança pelo banco, assim como um baú contendo alguns objetos e um caderno de sua mãe, que registrava seus últimos meses de vida. Harry achou uma passagem em que sua mãe contava de seu grande amigo Severus Snape e de como ambos conversavam sobre os passos de Lord Voldemort e a possibilidade de que ele roubaria seu filho que havia nascido com curiosos poderes premonitórios e curativos.
Rapidamente Harry entendeu que os pais se sacrificaram para que ele pudesse viver, agora ele queria achar Snape. Não sabia se ele seria aceito, mas era o mais próximo de uma família que ele sentia que tinha, ele precisava se encontrar com Snape, a qualquer custo.
Se desfazendo de seu pequeno devaneio com um chacoalhar de cabeça, se dirigiu até o funcionário da recepção que parecia estar fortemente concentrado em seu trabalho de separar algumas pilhas de arquivos.
— Bom dia! Eu gostaria de falar com o senhor Snape, por favor!
— Bom dia! O senhor tem hora marcada?
— Eu, não! Eu só – começou a embolar as palavras pelo desespero de não conseguir ver o homem.
Harry estava tão empolgado por ter achado ele que cometeu o erro ingênuo de achar que não precisaria de marcar uma hora com o homem.
— Receio que sem hora marcada não poderá subir – o funcionário já estava pronto para mandá-lo embora e voltar ao trabalho mas um outro empregado se aproximou com mais alguns arquivos tirando sua atenção do garoto, ignorando-o completamente.
Irritou-se por ser tão prontamente ignorado, começou a se afastar e sentou em uma das poltronas que havia no grande salão. Procurou uma posição relaxada para sentar e apoiou a cabeça em uma de suas mãos, começando a pensar em uma forma de conseguir ver Snape. Os pensamentos fervilhavam em sua mente até que um jovem de terno descendo as escadas com duas caixas grandes nas mãos chamou sua atenção. Ele era simplesmente lindo, os cabelos loiros tão bem penteados e... Bem essa era a única parte de seu rosto que conseguia enxergar, as caixas pareciam estar pesadas. Levantou-se quase sem perceber indo em direção ao homem, em sua cabeça jurava que seu intento era apenas ajudar ao outro com o peso em excesso. Harry continuou andando em direção ao rapaz, curiosamente tentando ver algo mais nele, além dos cabelos quase brancos, pode ver as mãos pálidas que amparavam as caixas com um completo domínio, não parecia ter nenhum problema em descer as escadas sem ver nada, era até engraçado como aquilo parecia elegante. Usava um terno azul petróleo que ficava perfeito. Definitivamente precisava ver seu rosto.
Seus olhos admiravam aquela postura altiva, até que seu olhar se direcionou aos seus sapatos, provavelmente um Armani e ele percebeu que ambos estavam desamarrados. Viu o pé direito pisar no cadarço do esquerdo e ao erguer o pé, acabou por se desequilibrar-se e rolar os dez últimos degraus da escada acabando por no final bater a cabeça no blindex que fazia parte do corrimão. Imediatamente os músculos de Harry se contraíram até ficarem rígidos e sentiu um calafrio. O loiro ainda descia cuidadosamente a escada, sorriu levemente e pigarreou quando o outro terminou os degraus.
— Com licença, seus cadarços estão soltos – o outro parou, virou em direção a voz que ouviu, baixou o olhar e fez um gesto simples com a cabeça.
— Obrigado – não parou seu caminho e seguiu até a recepção entregando as caixas para o recepcionista com quem falara a poucos minutos. Deu algumas instruções sobre o que fazer com as caixas e abaixou-se para amarrar os cadarços.
Certamente era um homem lindo aquele loiro, viu que ele voltou pelo mesmo caminho e pode sentir um delicioso perfume de damasco, algo sutil e envolvente.
— Posso ajudá-lo?
— Ah sim, por favor! Eu preciso falar com Severo Snape, você pode me ajudar?
— O que você quer com o Snape? - franziu o cenho ligeiramente.
— É um assunto pessoal, mas muito importante, por favor!
— Hum, pessoal é? - colocou a mão no bolso e pegou seu celular – e qual é o seu nome?
— Meu nome é Harry, Harry Potter.
Arregalou os olhos, voltou com o celular no bolso e começou a subir as escadas pedindo para ser seguido. Harry o acompanhou sem reclamar, feliz por finalmente estar prestes a conhecer o grande amigo de sua mãe.
Pegaram o elevador e seguiram por alguns corredores que o moreno tentava decorar o caminho. Finalmente chegaram a um corredor que continha apenas uma grande porta branca trabalhada com bonitos desenhos feitos na madeira. O coração de Potter estava pronto para sair pela boca seca pela ansiedade e o nervosismo. Viu o loiro bater na porta e ser autorizado a entrar.
— Draco, achei que você já tivesse saído – Snape falou calmamente e estranhou a figura morena que entrava em seu escritório – quem é esse com você?
— Ele disse que tem um assunto pessoal a tratar com o senhor – Snape abriu a boca para repreender seu funcionário – o nome dele é Harry Potter!
— Entendo, deixe-nos a sós por favor, Draco. Obrigado! - o loiro fez uma breve reverência e se retirou.
— Senhor, Snape! Eu... - sua voz saiu afobada claramente nervoso por estar finalmente diante do homem por quem veio procurando.
— Sente-se senhor, Potter – indicou a cadeira a sua frente - imagino que tenha muitas perguntas.
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Calafrio
Hayran KurguQuem nunca sentiu os tremores e as contrações musculares involuntárias que um calafrio causa? Para Harry esta é uma sensação constante em sua vida. Harry perdeu os pais que se sacrificaram para salvar sua vida tão nova no mundo. Criado e maltratado...