PRÓLOGO

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Eu tinha oito anos de idade, era um dia ensolarado e eu ia brincar com Ben no parquinho ao lado de casa

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Eu tinha oito anos de idade, era um dia ensolarado e eu ia brincar com Ben no parquinho ao lado de casa. Papai passou por mim pela cozinha e perguntou aonde eu estava indo, animada eu fui contar a ele. Ele me olhou bravo e disse que depois conversaríamos.

Eu tinha oito anos.

Foi a primeira vez que ele me bateu.

Foi no meu aniversário de doze anos que mamãe me deu um beijo na bochecha dizendo que eu era a melhor filha do mundo. Eu a abracei por que ela também é a melhor mãe do mundo. Ben me deu um colar que combinava com o dele, ele disse que era pra eternizar nossa amizade.

Não vi papai de manhã, nem de tarde, nem de noite. Madrugada daquele noite alguém entrou em meu quarto, era papai, mas eu sentia o cheiro de álcool em seu hálito, chegando mais perto ele me bateu. E bateu. E bateu.
Sem nenhum motivo.
Eu tinha doze anos.

Apanhei tanto naquela noite. Que eu rezava para que qualquer um me levasse dali.

  Primeiro ano do ensino médio. Eu estava tão feliz por começar essa nova fase, mas vi as marcas roxas quase pretas em minhas costas, coxas, pescoço. Papai disse que não era pra contar pra ninguém se não ia matar o "viadinho" do meu melhor amigo até ele não conseguir falar. Com medo corri para o quarto. Cobri com a maquiagem as marcas, Ben naquele dia me perguntou porque deu estar tão quieta, eu queria falar, mas não podia.

Simplesmente não podia.

Não podia colocar as pessoas que eu amo em risco.

Abaixei minha cabeça falando que era problemas em casa para não se preocupar.

Ali eu já não estava sentindo mais nada.

Eu estava tão feliz, foi meu primeiro conserto com o violino e piano, foi lindo.

Mamãe veio na minha direção   e falou "você é a melhor florzinha" eu sorri para ela e abracei. Papai tentou me dar um abraço mas eu me desvencilhei sorrindo fraco, ele me olhou duro.

Eu tinha tido o meu primeiro conserto.

E na mesma noite, eu apanhei até ficar inconsciente.

Nunca mais toquei em público.

 
Entrei no banheiro para enxugar as lágrimas, me olhei no espelho, limpei o rosto e sai como se nada tivesse acontecido. Eu era fraca ele dissera, e por ser fraca ele iria matar mamãe se eu dissesse que ele me batia, disse que era minha culpa. E que eu merecia.

Eu era fraca. E era minha culpa.

 
De noite eu abafava o choro com o travesseiro, deitada em minha cama eu dava gritos de desesperos.

Eu era fraca.
Eu era inútil.
Eu era feia.
Eu merecia, dissera ele. De noite era só o silêncio profundo o medo e apreensão dele me bater.

Enquanto isso eu pedia socorro em silêncio.

Ben me perguntou porque eu estava tão quieta esses últimos meses, e porque de eu não tocar no meu violino, mamãe estava cada vez mais preocupada por eu usar somente roupas longas e pretas.

As estrelas viam tudo o que eu passava pela janela do meu quarto e eu me perguntava se eu não queria me juntar a elas e acabar com isso.

As perguntas não paravam. "Por que tão magra?" "Por que tão reclusa?" "Você está bem?" A resposta era a mesma. Está tudo bem.

Não. Não estava.

Eu quero ajuda. Mas não posso arriscar.

Ben surtou comigo perguntou os motivos de eu não sair de casa, de não comer, de não praticar mais. Eu falava que eu não estava bem só isso. Ele ameaçou a puxar as mangas dos meu moletom. "O que está havendo Joaninha? O que foi? Eu posso te ajudar, na verdade eu vou te ajudar." Eu respondi "Ben por favor vá papai vai ficar bravo." Foi quando Ben surtou e puxou as mangas do moletom ele viu. Viu os roxos nos braços de tão firme que ele segurava, ele viu meu pescoço. Ben sussurrou "Joaninha..." e foi naquele dia que eu chorei até minha alma se esvaziar. Chorei porque eu não aguentava mais. Chorei porque eu queria ser salva.

Chorei porquê eu não aguentava. Eu vi, naquele dia, as estrelas brilharem como se tivessem falado que foi a coisa certa a se fazer.

Ver minha mãe cair de joelhos no chão chorando por saber que sua garotinha, sua princesa, sua flor, estava em uma prisão em sua própria casa "meu desculpa, me desculpe, me desculpe Beth, me desculpe, me desculpe, me desculpe..." soluçando ela dizia, abaixei ao seu lado e disse Que não era sua culpa.

Mamãe chorou junto comigo e me jurou que nunca nunca eu iria passar por isso.

Ben teve que se mudar, eu chorei muito com isso mas não era culpa dele, seus pais tinhas negócios em outra cidade.

Estava sozinha de novo, e não era nem metade do ano.

Ele fugiu, ele fugiu na noite em que minha mãe descobriu.

Ele foi preso me disseram. Mas estava em todos os jornais.

Passei a metade do primeiro ano com  os olhares de pena, cochichos de lamentação, críticas e até pessoas dizendo que eu queria e merecia pois eu não falei nada.

Fraca eles disseram.

"Vamos nos mudar amor, você vai viver uma outra vida e uma outra chance. Eu te amo florzinha nunca vou me perdoar por nunca ter percebido. Ben está animado em te ver."

  Cidade nova.

  Longe dele.

Viver sem ninguém saber. Eu estava feliz uma coisa que havia muito tempo.

Eu encontrei a salvação em seus olhos de carvão. Foi em seus braços quentes que eu me abri, foi em seus braços que eu dei os  melhores sorrisos, foi em seus braços em que chorei, em seus braços eu desabei, em seus braços eu me entreguei e foi em seus braços que eu me senti amada de novo.

Me senti viva.

Me senti viva

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