19| Não, por favor

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2 meses atrás

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2 meses atrás.

Olho para o anel dourado em meu dedo, o traço dele é fino e delicado. Fico girando-o no meu dedo indicador quando sou despertada pela voz da minha psicóloga:

— Trataremos de dois assuntos hoje, Beth. Você vai se mudar em breve e eu quero tratar de dois assuntos muitos importantes.

— Pode prosseguir.

— Esse anel — aponta para o meu dedo — vejo você tocando-o desde que começamos a terapia. Quero que você me diga a história desse anel.

— Ele não tem história, Doutora.

— Muitas coisas não têm história, mas, de doutora e amiga, eu sei que há uma história por trás dele. Você o gira quando está nervosa ou triste.

Engulo em seco, suspiro fundo.

— Esse anel... bom, eu o ganhei de presente do meu pai. Foi um dos melhores dias da minha vida ele não estava bêbado ou alterado. Não tratou minha mãe com grosseria e nem eu, acho que por isso foi o melhor dia da minha vida. Ele chegou perto de mim e entregou esse anel e disse "as vezes não sou o melhor pai filha, às vezes eu sou um monstro. Eu sei, eu sei que me odeia. É inevitável, espero que algum dia você me perdoa" ando com ele desde daquele dia, no dia seguinte ele votou bêbado da rua e você sabe o que aconteceu.

Ela anota algo no laptop.

— Depois de tudo que ele fez, por que você guarda e usa?

— Doutora, eu me perguntava isso. Com o tempo eu fui percebendo o motivo, o único presente de valor que ele me deu foi esse anel. Eu sei que ele não é um pai bom, eu sei, eu tenho noção de tudo o que ele fez comigo. O porquê de eu ainda o ter acho que é porque naquele momento eu vi meu pai, meu pai verdadeiro. Eu fingi por muito tempo que ele era um pai bom, mas fingir alguma coisa não a torna realidade. O amor faz isso conosco, e apesar de tudo ele era meu pai e eu o amo, sempre vou amar, bem no fundo mas eu vou. Eu não sei por que o amor faz isso, de tudo pelo o que passei de tudo o que eu e minha mãe passamos ainda o amo. Você me perguntou uma vez o que eu achava do amor e eu respondi que era uma merda porque é uma merda. Ele nos cega e nos sucumbi, eu posso estar com a alma vazia no silêncio da tristeza igual eu estava e ainda sim vou sentir um pequeno afeto por ele. Então esse anel me mostra todos os dias que um dia ele foi meu pai e que um dia ele me amou.

— Acho que a principal diferença entre você e ele, é que você o perdoou.

Nego com a cabeça.

— Não, doutora, eu nunca o perdoei e acho que eu nunca vou. Ele me quebrou de várias formas, desde um pequeno insulto a um tapa e, até, me fazer parar de tocar o que eu mais amava. Eu o amo mas não o perdoei e acho que nunca irei.

— Um dia você irá perdoá-lo?

— Não sei, talvez, quando eu estiver finalmente feliz e estiver com as peças nos lugares.

ARE YOU WITH ME? (FINALIZADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora