A Luz do Amor [Completo]

Capítulo Vinte e Sete

"Serás para mim único no mundo e eu serei para ti única no mundo."-Antoine de Saint-Exupéry

[Príncipe Felipe]

-Eu preciso que você se acalme primeiro, Luz. É só...

Olho para baixo e me esforço para disfarçar a careta de dor, enquanto me movo durante o diálogo, de modo que Luz não se assuste ainda mais com a situação que não é nada boa.

-É apenas um pequeno corte. Acredito que algum estilhaço me atingiu por pouco na hora da explosão.

-Um pequeno corte, Felipe? -ela exclama horrorizada ao examinar o local com uma breve olhadela. -Por Deus! Já vi mulheres sangrarem bem menos em um parto complicado, do que o estado que você se encontra neste instante, homem. Oh, céus... olha só para isso!

Minha noiva me repreende com a voz vacilante e o semblante entre endurecido e preocupado, se prontificando logo a retirar-me do zona caótica do conflito em que estamos. Colocando seus braços ao redor da minha cintura para me estabilizar, Luz põe meu braço direito sobre seus ombros estreitos para me servir de apoio e assim eu possa caminhar.

-Não pare de pressionar o ferimento, Felipe. O sangue precisa ser estancado até que um médico possa vê-lo e resolver o problema. Isso aí está muito feio.

Ela diz elevando a voz para sobressair ao tumulto quase ensurdecedor a nossa volta, e eu aquiesco dando a entender que escutei o conselho.

-Por tudo que você mais preza nessa vida, não retire a mão desse corte de maneira alguma, está me ouvindo? Não ouse! Você não pode continuar perdendo tanto sangue assim... é muito perigoso.

A intensidade e força que seus olhos verdes emanam, sérios e fixos em meu rosto, poderia colocar medo em qualquer pessoa, até mesmo no soldado mais corajoso do nosso exército, com tamanha dureza, ao transmitirem uma mensagem clara e objetiva, de que não devo contraria-la. Entretanto, sou acometido por uma enorme vontade de  rir, mesmo em um momento tão impróprio como este, com uma mistura de fascínio e diversão, ao observar Luz assumir uma postura autoritária, a qual eu nunca tinha visto antes.

-A gente nem se casou e você já está me dando ordens, querida? Acho que essa noite está sendo apenas um pequeno vislumbre de como será o futuro. Por Deus, aonde é que eu fui me meter?

Emito uma risada profunda, porém me arrependo no mesmo segundo quando uma dolorosa fisgada me emudece. Em  seguida, sou acometido por uma breve vertigem que desnorteia meus sentidos quando olho para minha mão e me deparo com o lenço que uso para tampar o ferimento, gotejando o líquido viscoso, que deixa um rastro rubro sobre o chão por onde passo, embebendo-o com meu próprio sangue.

Isso não está dando certo e provavelmente não durará por muito tempo, penso comigo mesmo ao analisar receosamente a solução provisória encontrada para o estrago em minha carne. Quanto mais o tempo passar, a coisa ficará pior. Por essa razão preciso tomar alguma providência com rapidez, ou então será tarde demais. Não terei forças para sequer me manter de pé.