Abri os olhos bem de vagar e olhei pelas grades da janela da cela subterrânea onde me encontrava, por onde a luz do nascer do sol começava a entrar de forma a bater-me diretamente no rosto. A minha cabeça doía, o meu corpo também e mesmo que tentasse falar, gritar, pedir ajuda, sabia que a minha voz não sairia. Ninguém me iria ouvir...
Também me sentia dorido na nuca, mas isso não era o mais importante até porque os hematomas sobre o meu corpo me distraiam desse pormenor e traziam á tona as memórias do último mês. Quem me visse não acreditaria que, até á um tempo atrás, eu era um garoto alegre e inocente que sorria para todos, brincava e amava o mundo. Eu era assim... Mas agora não... Neste momento, só queria morrer. Queria tudo menos estar ali, os meus olhos não tinham mais vida, eu sabia disso pelo reflexo na poça de água repleta de musgo que se formara no canto daquela prisão, devido á humidade do local.
Ouvi a porta abrir e alguém arrastar correntes na minha direção. Colocaram-nas presas às algemas nos meus pulsos e á coleira de ferro no meu pescoço e me arrastaram, literalmente, pelo chão. Não gritei nem protestei, por mais que sentisse a pele esfolar contra o atrito. Sabia que seria pior se o fizesse e por isso, apenas tentei acompanhar com passos, em vão, já que mal me aguentava em pé. Não comia á dois dias e se me esforçasse, sentiria a minha cabeça girar.
- É o seu dia de sorte, garoto. Vai ser leiloado hoje...
Não sei direito quem falou aquilo, nem me importei em tentar descobrir. Ao que eles chamavam sorte, eu chamava o início no inferno de uma vida escrava. Por era isso que eu era desde que á um mês atrás, fui trazido para aqui contra a minha vontade, para o subterrâneo de um leilão ilegal de seres humanos.
- Está feliz por sair daqui? Pirralho...
Desta vez, sabia quem estava a falar. Sabia que era ele. Comecei a tremer ao saber quem era o dono daquela voz.
- Você fica assim só de me ouvir? Não se mate ainda, isso vai dar prejuízo á casa. Agradeça que fui brandindo com você, porque quando deixar de estar sobre a minha responsabilidade, eu garanto, será muito pior. Uma vez comprado, o que o seu dono fizer com você não é da nossa responsabilidade. Se comporte para ele não se encher rápido e tente conseguir mais alguns dias inúteis de vida miserável para a sua ridícula existência. Não que lhe valha a pena...
Ele sorriu. Um sorriso doentio que me fez baixar a cabeça para não ser visto e morder o lábio para não chorar. Se o que ele me fez foi brando, eu só queria que alguém colocasse fim á minha vida naquele momento! Eu... Não aguentava mais...
- Se comporte direitinho e seja um bom garoto em palco.
Dito isso, ele pegou numa seringa e injetou algo no meu braço. De imediato, um formigueiro começou a percorrer-me. Sabia que era para que os meus músculos ficassem adormecidos durante algumas horas. Conseguiria apenas mexer-me do pescoço para cima, o resto seria um boneco, ainda que continuasse a sentir todos os golpes que me fossem dirigidos. Uma forma de não tentar fugir durante o Leilão, mesmo que naquele estado, eu já não tivesse coragem para o fazer...
Fechei os olhos ao ser colocado numa gaiola, depois de ver vestígios de sangue nas grades e no chão da mesma. Estava condenado até ao final da minha vida e não poderia fazer nada para impedir isso. Dali em diante, seria apenas um brinquedo nas mãos de alguém até essa pessoa decidir que não sirvo para mais nada. Ficaria marcado para sempre... Não era mais humano...
"Por favor..." - sussurrei quase mudo, por mais que soubesse que seria em vão. - "Alguém me ajude..."
VOCÊ ESTÁ LENDO
Meu carcereiro
Fanfiction"- É o seu dia de sorte, garoto. Vai ser leiloado hoje... Não sei direito quem falou aquilo, nem me importei em tentar descobrir. Ao que eles chamavam sorte, eu chamava o início no inferno de uma vida escrava. Por era isso que eu era desde que á um...