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Nikolay:

Eu segurei pra não chorar quando me disse que ia viajar, e não consegui dizer que o amo também, porque esse amor é um erro, um erro que não me deixa ficar longe dele por mais de algumas horas. Eu ficaria de coração partido se ele fosse viajar sem mim.  Eu venho estudando a língua de Cadu a mais de um ano, não sei falar direito, mas endendo algumas palavras. Deitei depois de seu carinho, eu gostava da sensação da mão dele em minha pele, gostava do jeito que ele me tratava.

Pela manhã fiquei estudando pra última prova do ano, Cadu trouxe café pra mim e sentou ao meu lado pra estudar pra dele também. Meio dia almoçamos juntos e voltamos pro quarto, estamos de férias do trabalho pra poder estudar, antes da hora do café da tarde Cadu não parecia bem, sai e fui a uma confeitaria no centro, comprei doces e café. Quando cheguei Cadu estava dormindo sob a mesa. Soltei as compras e me aproximei dele, os cabelos estavam mais longos do que de costume, com a ponta de meus dedos sem resistir muito os escorreguei por sua bochecha, Cadu seguiu dormindo. Aproveitei me mais da situação, puxei a cadeira pra mais perto dele e fiquei o encarando, eu gostava da pele da bochecha dele, lembrava pele de pêssego, ele tem algumas sardas, poucas, mas que lembram uma constelação. Mas os olhos dele são o que mais me faz suspirar. As vezes quando não estou com ele, e ele está por perto, eu sinto seu olhar em mim, muitas vezes chego passar a mão na nuca, porque é como se ele tivesse me tocando. Eu olho sempre na direção certa e o encontro me olhando. Cadu abriu os olhos e ao invés de eu me retirar fiquei encarando aqueles olhos castanhos amendoados como se eu o conhecesse mais do que a mim mesmo. Cadu sorriu, seus dentes são perfeitos e branquinhos. Sua mão pousou em minha bochecha e eu acordei pra vida.

-Trouxe café! - falei quase sem voz. Segurei sua mão a tirando devagarinho, eu não rejeitava seus carinhos porque não queria mágoa-lo.

-Obrigado meu bem! - Sussurrou ele.

Meu bem? Aquelas palavras me trouxeram lembranças de algo desconhecido, algo que não sei o que é, mas quanto mais eu fico com ele, mais eu quero ficar. Entreguei o copo de café e abri a caixa com pães doces e outros doces. Cadu adora doces, e quando ele fica nervoso ele come barrinhas de chocolate pra se acalmar.

-Obrigado, salvou meu dia! - brincou ele de boca cheia. Sorri sacudindo a cabeça pra espantar qualquer vontade que me aparecia de querer beijá-lo.

-Precisa de ajuda com a matéria? - Perguntei.

-Está tudo em ordem, consegui decorar a parte que mais me preocupava.

-Você parece sempre confiante.-Comentei.

-Preciso ser, se não eu... Não me sinto seguro no mundo, é como se todos me julgassem, então mamãe disse que eu tenho que levantar a cabeça e fingir ser seguro que uma hora eu ia acreditar tanto nisso que ia ser seguro de mim mesmo.

-Deu certo?

Ele desviou o olhar para o pão que estava comendo.

-Não, eu ainda... Não me sinto seguro, ainda tenho meus demônios.

Passei a mão em sua nuca e a deixei depositada ali, ele virou pra mim com um sorriso tristonho.

-Não gosto quando você fica assim! - Confessei.

-Estou bem Niko, não se preocupe. - ele segurou meu pulso com carinho e o soltei, depois de comer, nos vestimos pra ir pra aula. Terminei a última prova do ano, até que não estava difícil.  Cadu entrou no quarto pulando e me fez rir.

-Terceiro ano aí vou eu! - disse me beijando o rosto e eu corei enquanto ria dele. - Vamos fazer as malas, pegamos o primeiro voo amanhã de manhã, você vai amar minha mãe.

-Ei calma, você está muito eufórico.

-Tô animado. - disse tirando a mala debaixo da cama e colocando apenas meia dúzia de roupas.

-Vai levar só isso?

-Tá calor lá, além do mais vou aproveitar pra trazer mais alguns livros.

Cadu era pura energia. Peguei apenas algumas camisas mais finas e duas calças, ele disse que eu iria morrer de color. Tô levando dinheiro pra comprar alguma roupa de calor lá. Nós despedimos do Senhor Hector e pegamos um táxi pro aeroporto. No avião ele sentou na janela, queria ir olhando pela janela, como tenho intensão de dormir pelo menos meio voo não me importei. Coloquei os fones antiruidos, deitei o acento e coloquei o tapa olhos. Acordei com uma turbulência com o rosto encostado no ombro de Cadu. Cadu segurou meu rosto.

-Tá tudo bem é só uma turbulência!-Acalmou ele.

Descobri que odeio aviões. Estávamos dentro da porra de uma tempestade. Cadu pegou minha mão e entrelaçou nossos dedos. Fiquei olhando aquele jesto, ele acomodou o corpo dele pra ficar mais de frente pra mim, fiz o mesmo e fiquei fitando seus olhos pra me acalmar, era como fazer uma viagem no tempo.

-As vezes tenho a impressão que já nos conhecíamos. - Comentei.

-Acho que já nos conhecemos sim, de outras vidas talvez. - Sorriu ele. - Só sei que... Não quero ficar longe de você nesta.

-Nem eu... - O avião chacoalhou todo e eu apertei a mão dele com mais força, vamos morrer e eu não vou dizer o que sinto porra.

-Já vai passar! - Disse ele.

-Vamos morrer! - Falei com raiva.

-Então seguiremos juntos, de mãos dadas.

-As vezes eu te odeio sabia?! - Falei com raiva da tranquilidade que ele estava.

Cadu riu.

-Mas o resto do tempo me ama!

-Não!

-Não vai admitir nem em nosso leito de morte?

Eu estava começando a me irritar com ele esquecendo da turbulência lá fora e então acabou, o avião ficou estável de novo, soltei sua mão com raiva e fui ao banheiro. Por que ele me deixa desse jeito? Molhei o rosto. Meu cabelo tava todo desgrenhado, tirei a borracha do cabelo tentando pentear com os dedos e voltei a prendê-lo.

-Niko, você está bem? - Chamou Cadu do outro lado da porta. - Eu só quis te distrair, não fica chateado comigo.

Abri a porta e saí.

-Estou bem! - Falei passando por ele e indo pro meu acento.

Tivemos uma escala para chegar a Porto Alegre, que cidade mais... Sei lá, estranha, sombria. Pegamos um ônibus que meus Céus, o ar condicionado daquele lugar não funcionava. Cadu abriu a janela e melhorou muito.

Quando seus olhos me encontramOnde histórias criam vida. Descubra agora