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Afonso:

Meu coração gineteava em meu peito, de medo dele destratar meu amor e minha irmã e também de saudade. Vejo um homem abatido descendo as escadarias do casarão, a barba de qualquer jeito, olheiras, a roupa desleixada.

-Meu guri!-disse ele vindo de braços abertos, desci do cavalo e corri pra abraça-lo.

Um aperto espalmado e dolorido em minhas espaldas, um esmagar de meu rosto entre suas mãos ao ver meus olhos.

-Senti sua falta doutor!

Noto uma dose de delírio em seu jeito.

-Pai o que ouve com o senhor?

-Nada, estou em perfeitas condições mentais.-riu ele.

Ferrus ajudou Moni a descer do cavalo e juntos caminharam até nós.

-Meu pai, Ferrus Cortes, meu amigo!- lembrei-lhe para que não distrate Ferrus.

-Sinto muito pelo ocorrido guri, eu tentei socorre-la quando vi a fumaça daqui, mas não cheguei a tempo.

-Agradeço o esforço senhor.-a voz de Ferrus saiu rouca.-Amanhã vou até a propriedade.

-No dia seguinte, juntei os escravos de vocês que fugiram pra cá atrás de abrigo e fomos a sua fazenda, demos um funeral digno a sua mãe e aos demais.

-Isso foi generoso de sua parte senhor.

-Antes de sua mãe ser uma Cortez ela foi minha amiga, de infância, ela não merecia o que esta ímpia e injusta guerra lhe causou e em nome dessa amizade lhe ofereço minha casa.

-Agradeço sua hospitalidade e bondade com minha mãe. . . a . . . índia Katiri também estava lá?

-Sim, lhe dei um funeral cristão também, sei o apreço que sua mãe tinha por Katiri, foram criadas juntas.

-Obrigado.-disse Ferrus.

Aquilo desnorteara meu pai, era visível.

-Meu pai esta é a senhorita Monifa, Moni este é meu pai Luigi Terra.

-Encantada senhor.

-Deus é a mulata mais linda que já vi, por isso te enamoraste dela?

Meu rosto corou.

-Não meu pai, Monifa cuida de mim, nada mais, Monifa é culta e estudada, não é atoa que a trouxe comigo.

-Seja bem vinda Monifa!

-Muito obrigado senhor.

-Não encontraram ninguém por lá?

-Não pai.

-Soube que as filhas de Rodrigues estão loucas para desposarem, poderiam ir conhecê-las vocês os dois.

-Vim para servir na guerra senhor.-disse Ferrus deixando meu coração pequeno.-Seria injusto deixar uma moça recém casada sozinha.

-Tem razão, venham, vamos comer, devem de estar com fome.

Moura ocupará o lugar de minha mãe preta, colocava a comida em cima da mesa, a cumprimentei com um abraço.

-Tá um homem feito sinhôzinho.

-Obrigado Moura, está e a senhorita Monifa, Moni está é Moura.

-Encantada!-disse Moni.

-Prazer sinhá!-disse Moura ao lhe observar a roupa.

-Não sou sinhá Moura, pode me chamar de Monifa.

Moura fez uma reverência com a cabeça e acompanhei Monifa e Ferrus aos aposentos para nos lavarmos, bati no quarto de Ferrus e entrei rapidamente o abraçando com força, acarinhei seu rosto que estava inchado pela tentativa de não chorar.

-Está é a primeira noite que vou dormir sem você desde aquele dia no navio.-murmurou ele.

-Quem disse isso meu amor?-brinquei o beijando.

-Não podemos arriscar que seu pai saiba meu amor.-ele acarinhou meu rosto com seus lábios.

-Te amo tanto meu bem querer!-murmurei.-Não sei se vou saber ficar longe de ti.

-Quando a guerra acabar. . . vamos reconstruir nossas vidas do outro lado do oceano.-Murmurou Ferrus.

Neguei com o coração apertado, sabendo que aquilo era suicídio, Ferrus estava quebrado e tinha sede de sangue, quando aquela guerra terminasse ele não estaria de pé me estendendo a mão. Ele estava me deixando, estava partindo. Eu queria berrar e soca-lo, queria . . . obriga-lo a ficar comigo naquele quarto e sair só quando a guerra tivesse acabado, mas já em nossa casa ele estava quebrado, a rachadura começou com a morte do pai, e quando aquela carta de meu pai foi lida a rachadura aumentou e o partiu, Ferrus nunca mais seria o mesmo, não posso obriga-lo.

-Não chore!-sussurrou ele limpando minhas lágrimas.-Estou começando a me arrepender de ter vindo só por conta disso. . .

-Então vamos voltar. . .-sussurrei com medo que minhas palavras saíssem aos berros.-Me leve de volta ainda da tempo.

-Eu não posso Afonso. . .

-Por favor!-implorei.-Eu te amo mais do que a mim próprio.

-Eu sei!-ele sorriu com tanta tristeza.-Levei pelo menos 3 anos pra você admitir isso.

-Perdão meu amor!

Ferrus passou os dedos por minhas bochechas limpando lágrimas insistentes.

-Prometo recompensa-lo quando voltarmos.-Prometeu ele, sacudi a cabeça em negativa.-Vou fazer de tudo para recuperar seu amor Afonso, vamos ser felizes por fim.-Neguei mais uma vez sabendo que tudo aquilo era mentira.

Uma batida na porta e a voz de Moni.

-Vamos jantar?

-Preciso me recompor!-murmurei com a voz rouca.

Ferrus pegou meu rosto e depositou um beijo em meus lábios. Sai dali o mais rápido que consegui, encontrando Moni com os olhos para todos os lados.

-O que ouve Afonso?-sussurrou ele.

-Diga que estou cansado, que. . . preciso dormir está bem?

-Fique bem irmão!

-É impossível.-falei indo para meu quarto do outro lado do corredor.

Entrei em meu quarto e me joguei imundo e exausto sob os cobertores, abracei meu travesseiro e chorei com a cara enterrada nele. Tenho vontade de morrer, a dor que me consome é maior do que tudo que eu já tinha sentido. Não. Eu nunca cheguei a sentir dor perto disto. Estou me quebrando estou. . . partido.

Quando seus olhos me encontramOnde histórias criam vida. Descubra agora